terça-feira, 18 de março de 2014

Putin contra todos

                                                    Ele não tem medo.




   O presidente da Rússia, Vladimir Putin, é, acima de tudo, um visionário. Empenhou esforços pessoais para sediar a Copa do Mundo da FIFA, em 2018, e os Jogos Olímpicos de Inverno na cidade de Sochi, sua nova joia a ser ostentada para o mundo. Fala contundentemente na reconstrução de um "Império Russo". O "Czar do século XXI" parece não ter medo das possíveis consequências resultantes de seus atos desafiantes. Hoje, concretizou mais uma de suas idealizações.
      O Parlamento da Crimeia, uma região autônoma da Ucrânia onde a maioria da população possui origens étnicas russas, aprovou a realização de um referendo com o objetivo de proclamar a província independente e, o mais surpreendente, propor sua anexação ao território russo.  As duas propostas foram aceitas por 97% da população da Crimeia no último domingo.
      Tais atitudes são decorrentes da crise que paira sobre a Ucrânia. O governo de Viktor Yanukovic, aliado a Putin, foi deposto após uma série de protestos que durou um mês, pois não assinou um acordo com a União Europeia para uma futura adesão do país ao bloco, o que provavelmente beneficiaria e dinamizaria a sua economia, em crise. Putin ameaçou um corte no fornecimento de gás natural, essencial ao país, caso este acordo fosse concretizado. 
      A saída de Yanukovic e a consequente ascensão de um governo opositor a Putin foram um duro golpe para o presidente russo, que se aproveita das disparidades socioeconômicas entre as ex-repúblicas soviéticas para submetê-las ao seu poder.
      O ex-agente da KGB, o serviço secreto soviético, revidou com a articulação para incorporar a Crimeia ao território russo, que foi oficializada com um discurso de Putin e com a assinatura de um tratado hoje na Duma.
      A incorporação é vista como ilegal por países europeus e pelos EUA. Medidas como o cancelamento da reunião do G-8, em Sochi, e a paralisação das negociações para o ingresso da Rússia na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, o "Clube dos ricos", já foram anunciadas. Nada que amedronte um Putin irredutível. De fato, sanções e punições são brandas e costumam ser ineficazes, mas é o que pode ser feito neste momento. Sem desmerecer o povo e a cultura da Crimeia, travar uma guerra com uma potência nuclear como a Rússia por um minúsculo pedaço de terra é algo insensato. Voltaríamos à paranóica Guerra Fria. Enquanto isso, o "Czar" manda e desmanda.
       A anexação da Crimeia levanta temores de que Putin esteja elaborando futuras invasões a outros territórios que pertenceram à União Soviética - o que já aconteceu, na Geórgia - sob justificativa de defender os direitos dos povos russos. O presidente russo utiliza o mesmo argumento que Hitler explorou quando anexou a Áustria e os Sudetos ao Império alemão no período entre guerras a fim de proteger os germânicos naqueles locais. É lógico que Putin não é uma reencarnação de Hitler, porém ambos possuem uma característica em comum: a busca incessante por poder.

                                                                Mattheus Reis