terça-feira, 25 de agosto de 2015

No caminho certo?

                    Nem tudo no Flamengo está "no azul".


Com o pé direito: Em sua reestreia pelo Flamengo,
 O. de Oliveira venceu o São Paulo por 2 a 1.
       O Flamengo começou o 2º turno do Campeonato Brasileiro de 2015 sob o comando de um novo técnico. Isso não é nada inédito no clube de maior torcida do mundo. Oswaldo de Oliveira voltou ao comando da equipe após 12 anos de sua primeira passagem e, de cara, enfrenta um dilema sobre o seu futuro a curto-prazo: conseguirá ele dar, enfim, estabilidade e qualidade a um elenco que oscila dentro de campo há pelo menos 3 anos ou será “mais um” dentre os muitos que, por pouco tempo, ocuparam o banco de reservas? O que o destino lhe reservará?
       Quando o assunto é planejamento financeiro, o Flamengo tem ocupado uma posição de protagonismo ultimamente, recebendo até elogios em uma reportagem do The New York Times. A tão exigida boa gestão é um tema sobre o qual a mídia esportiva há bastante tempo agenda, ou seja, debate. O corte de gastos e o cerco ao desperdício foram tratados como prioridade no rubro-negro carioca, a partir da vitória de Eduardo Bandeira de Mello nas eleições presidenciais em dezembro de 2012. Desde então, os últimos balanços financeiros divulgados estão "no azul": em 2014, foi o clube, na série A, com maior arrecadação (R$ 347 milhões de reais) e o único a reduzir a sua dívida, que gira em torno de R$ 698 milhões apesar da redução de R$ 58 milhões em comparação com 2013. No 1° semestre de 2015, o lucro já atinge a marca de R$ 36 milhões.
       No entanto, dentro das quatro linhas, o sucesso não se repete. É preciso ressaltar que uma reestruturação financeira, após anos de irresponsabilidades administrativas e fiscais, não se faz da noite para o dia, e o futebol acaba sendo afetado. Há 3 anos e meio o Flamengo não chega ao G-4 na classificação do Brasileirão, flerta com o rebaixamento. De 2000 para cá, 34 treinadores foram contratados; Oswaldo de Oliveira é o oitavo da gestão Bandeira de Mello, na presidência há 2 anos e meio. Um projeto consistente de conquistas a longo prazo, sob essas circunstâncias, é praticamente inviável.
       O futebol é a principal fonte de receita dos clubes. A partir de boas campanhas e títulos em competições nacionais e internacionais, o lucro de patrocínios, bilheteria e venda de produtos cresce. Por conta da sua história vitoriosa e de sua popularidade, a marca “Flamengo” é forte, mas é inegável que os gols dentro de campo resultariam em mais gols ainda nas contas.
       O projeto da "chapa azul", liderada por Bandeira de Mello, está em xeque por conta das inúmeras polêmicas e divergências na cúpula de futebol. Os interesses políticos diversos na diretoria levaram ao seu racha: muitos dos dirigentes que substituíram a turbulenta gestão de Patrícia Amorim já se desligaram e até mesmo anunciaram candidatura de oposição nas próximas eleições, marcadas para dezembro deste ano. Essa falta de consenso em torno de um interesse maior – o sucesso prolongado de um clube – não é uma realidade exclusiva do Flamengo; uma disputa por poder que relega ao segundo plano qualquer superávit financeiro.
       A austeridade imposta por essa gestão atual é um modelo pioneiro, e sua influência é tanta que inspirou as contrapartidas exigidas pela MP do futebol aos clubes em troca do refinanciamento de suas enormes dívidas com o governo federal. Entretanto, enquanto o futebol rubro-negro for administrado da forma pela qual tem sido, incorreta, sem continuidade e apoio a treinadores, a impressão é a de que, mesmo com lucros exorbitantes eles poderiam ser maiores ainda; a alegria de 40 milhões de torcedores, também.

                                                            Mattheus Reis



quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Em busca de um legado




                                                      Hora de agir
      
Chega de esperar: Obama em anúncio de ambicioso
 plano para "limpar" a matriz energética americana.
       Ele está correndo contra o tempo. Enquanto o seu partido, o Democrata, e o opositor, Republicano, já se preparam para eleição presidencial do ano que vem, Obama mede esforços para deixar um legado minimamente concreto e duradouro para mais de 300 milhões de americanos a partir do momento em que não for mais o ocupante do salão oval da Casa Branca. Os últimos meses foram de avanços significativos tanto na política interna quanto externa; nem tudo saiu conforme o idealizado quando Obama escreveu seu nome da história como o primeiro presidente negro dos EUA; ainda há muito o que fazer.
       A crise financeira iniciada em 2008 foi um choque para as pretensões iniciais do então recém eleito presidente. O combate ao desemprego e a retomada do crescimento passaram a ser prioridades na maior economia do planeta durante os seus primeiros 4 anos de mandato. A partir de medidas inicialmente impopulares tomadas, a imagem do governo se deteriorou. Atualmente, no entanto, já são visíveis os indícios da retomada da economia americana mesmo que gradativamente: nos últimos 5 anos, foram criadas mais de 13 milhões de postos de trabalho no país.
       Outra promessa de campanha finalmente saiu do papel após longas batalhas políticas e judiciais: a Reforma da Saúde. Nos EUA, não existe um sistema de saúde pública integrado como o SUS brasileiro. Por conta disso os americanos são submetidos a pagar caro por planos de saúde ou arcar despesas de tratamento hospitalar do próprio bolso. Essa reforma, também conhecida como Obamacare, tem por intuito subsidiar os preços dos planos de cobertura médica para famílias cujas faixas de renda mensal estão entre as mais baixas. Mais de 20 milhões de pessoas já estão sendo beneficiadas.
       A legalização do casamento civil entre homossexuais em todos os estados americanos, a reaproximação diplomática com Cuba, o acordo de não-proliferação nuclear assinado conjuntamente ao Irã e o recente lançamento de um programa de redução das emissões de gases do efeito estufa são outros avanços mediados e desejados por Obama.
       Os passos dados até agora têm uma enorme complexidade e impacto na cultura local. As pesquisas de opinião mostram que esses efeitos, na sua maioria benéficos, não foram sentidos ainda, como um todo, já que apenas 43% aprovam a gestão de Obama, um percentual não tão elevado. Um novo jeito de governar - bem diferente do apresentado por presidentes anteriores e responsável por defender bandeiras como o meio ambiente, a diplomacia pacífica, os imigrantes hispânicos e o grupo LGBT - ainda enfrenta muitas oposições na classe política e na sociedade americanas.
       Mesmo enfrentando problemas como o crescimento da influência fundamentalista do Estado Islâmico e os comprometedores casos de espionagem a empresas e a governos empreendida por agências de segurança americanas, Obama, deixa um plataforma de boas ideias e propostas de continuidade para aquela que se apresenta com mais chances de ser a candidata de seu partido à sucessão, Hillary Clinton. 


Leia mais sobre o assunto:
http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,obamacare-ja-beneficia-20-milhoes---imp-,1714929
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2015/03/1609756-eleicao-presidencial-nos-eua-ja-domina-debate-nos-eua.shtml
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/mundo/2015/07/17/interna_mundo,490800/aprovacao-de-obama-cai-apoio-segue-forte-entre-jovens-minorias-e-liberais.shtml


                                                              Mattheus Reis

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Contagem regressiva.

                                                         Vamos torcer!


Expectativa: abertura das Olímpiadas de Pequim,
 em 2008. Daqui a um ano será a nossa vez.
       Daqui a exatamente um ano, em 5 de agosto de 2016, os olhos do mundo se voltarão novamente para a cidade do Rio de Janeiro. Após sediar no ano passado a grande final da Copa do Mundo em julho de 2014, o Maracanã será palco principal do maior evento esportivo do planeta: os Jogos Olímpicos. Ciente da responsabilidade de sediar a competição pela primeira vez na América do Sul, a cidade  está definitivamente em obras, que causarão mudanças em questões como a mobilidade urbana e a rede hoteleira. Apesar disso, o planejamento e o legado são alvos de inúmeras críticas, concentradas, sobretudo, em relação à poluição na Baía de Guanabara e na Lagoa Rodrigo de Freitas.
       Conforme era o esperado, as despoluições da Baía e da Lagoa, prometidas quando a cidade se candidatou a sediar os jogos, dificilmente serão concluídas e se tornaram um grande problema para o Comitê Organizador dos Jogos. Os locais onde serão disputadas as provas de iatismo e remo em 2016 somente poderão ter sua biodiversidade recuperada após contínuos projetos de combate ao lançamento de esgoto e de resíduos sólidos nas águas e mananciais da região metropolitana; um esforço que pode levar 20 anos para ter seus primeiros resultados concretos vistos, conforme afirmou recentemente a ministra do meio-ambiente Izabella Teixeira.
       Apesar de a porcentagem de esgoto lançado in natura, ou seja sem nenhum tratamento, na Baía ter diminuído de 83% para 51% nos últimos 8 anos, segundo o governo do estado do Rio de Janeiro, inúmeros velejadores - motivados tanto por vantagens quanto pela saúde dos atletas - e a Federação Internacional de Iatismo apelaram aos comitês Olímpico Internacional e Organizador dos Jogos pela mudança do local das competições.
       Diante de tantos problemas pelos quais o Brasil enfrenta em termos de qualidade de serviços públicos e desigualdade social, os Jogos Olímpicos no Brasil acabam sendo vistos como algo "supérfluo". Quem nunca ouviu verdades do tipo "Os recursos poderiam ser destinados ao que realmente importa, como a educação e a saúde."?  É preciso destacar, no entanto, que, mesmo em tempos de ajuste fiscal e aperto nos gastos, os cidadãos brasileiros pagam uma das maiores quantidades de impostos do mundo. Não é preciso ser um renomado analista de finanças publicas para perceber a possibilidade de se conciliar demandas diversas, seja a de um megaevento ou a de desenvolvimento social e sustentável desde que os recursos sejam administrados de forma planejada, correta e honesta. De acordo com o Ministério Público Federal, perdemos por ano mais de 200 bilhões de reais por conta da falta de planejamento, da corrupção e do desperdício do poder público. A mais atualizada matriz de responsabilidades fiscais dos Jogos Olímpicos no Rio apontam investimentos de 38 bilhões de reais para o megaevento, valor custeado não só pelo poder público mas também pela iniciativa privada. Se existe algum vilão nessa história, não são simplesmente os Jogos Olímpicos.
       As Olimpíadas e o esporte, como um todo, trazem, em si, uma mensagem de superação, sendo um dos últimos elementos restantes de união e confraternização entre as nações do mundo. Além disso, eventos desse porte podem ser catalisadores de transformações sociais e urbanas. Barcelona, sede em 1992, é um exemplo do que pode-se dizer "antes e depois dos Jogos". Aos "trancos e barrancos", 'a cidade maravilhosa' e, agora, 'olímpica' tenta fazer o mesmo, sem sabermos, porém, se terá o mesmo sucesso.  
       No âmbito esportivo, o Comitê Olímpico Brasileiro espera colher bons resultados do pesado investimento feito a partir de 2012 com a finalidade de melhorar o rendimento de atletas, principalmente aqueles cujas modalidades praticadas não possuem tanta tradição no país e notórios resultados em competições internacionais. A partir da contratação de profissionais estrangeiros, do desenvolvimento da infraestrutura de treinamento e de bons resultados vistos nas recentes competições internacionais, quando modalidades como a canoagem conquistaram medalhas inéditas, o objetivo traçado de que o Brasil figure entre os 10 melhores países no quadro geral de medalhas pode vir a se concretizar, o que seria a sua melhor participação na história das Olimpíadas. Essa expectativa é, no entanto, apenas um detalhe diante da necessidade de uma vitória ainda maior.
       Os Jogos Olímpicos para o Brasil e para o Rio de Janeiro, mais precisamente, devem ser um fator  responsável por acelerar mudanças na qualidade de vida da cidade, provar a capacidade do país em organizar grandes eventos e, acima de tudo, inserir de vez nos debates políticos e públicos uma cultura esportiva, que zele tanto pela saúde e bem-estar da população quanto pela inclusão social e formação de novos atletas. Diante das dificuldades enfrentadas por muitos jovens, eles já são campeões na vida e poderão ser, quem sabe, vitoriosos também nos campos, nas quadras ou tatames. Os brasileiros, mesmo que em cima da hora, como aconteceu na Copa do Mundo, farão a sua parte e torcerão pelos atletas do país a partir de 5 de agosto de 2016. Vamos torcer ainda mais para que a cidade do Rio de Janeiro, infelizmente uma das mais violentas do mundo, comece a ser, daqui a um ano, maravilhosa de fato.

*Leia mais sobre o assunto:
http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2015/07/estudo-analisa-agua-no-rio-e-diz-que-ha-risco-para-atletas-nas-olimpiadas.html   
http://veja.abril.com.br/noticia/esporte/barcelona-20-anos-depois-a-olimpiada-e-uma-nova-cidade/
http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/despoluicao-da-baia-de-guanabara-pode-demorar-20-anos-diz-ministra-do-meio-ambiente-12698824


                                                                Mattheus Reis