Com o pé direito: Em sua reestreia pelo Flamengo, O. de Oliveira venceu o São Paulo por 2 a 1. |
O Flamengo começou o 2º turno do Campeonato Brasileiro de
2015 sob o comando de um novo técnico. Isso não é nada inédito no clube de
maior torcida do mundo. Oswaldo de Oliveira voltou ao comando da equipe após 12
anos de sua primeira passagem e, de cara, enfrenta um dilema sobre o seu futuro
a curto-prazo: conseguirá ele dar, enfim, estabilidade e qualidade a um elenco
que oscila dentro de campo há pelo menos 3 anos ou será “mais um” dentre os
muitos que, por pouco tempo, ocuparam o banco de reservas? O que o destino lhe
reservará?
Quando o assunto é planejamento financeiro, o Flamengo
tem ocupado uma posição de protagonismo ultimamente, recebendo até elogios em
uma reportagem do The New York Times.
A tão exigida boa gestão é um tema sobre o qual a mídia esportiva há bastante
tempo agenda, ou seja, debate. O corte de gastos e o cerco ao desperdício foram
tratados como prioridade no rubro-negro carioca, a partir da vitória de Eduardo
Bandeira de Mello nas eleições presidenciais em dezembro de 2012. Desde então,
os últimos balanços financeiros divulgados estão "no azul": em 2014, foi o clube, na
série A, com maior arrecadação (R$ 347 milhões de reais) e o único a reduzir a
sua dívida, que gira em torno de R$ 698 milhões apesar da redução de R$ 58
milhões em comparação com 2013. No 1° semestre de 2015, o lucro já atinge a
marca de R$ 36 milhões.
No entanto, dentro das quatro linhas, o sucesso não se
repete. É preciso ressaltar que uma reestruturação financeira, após anos de
irresponsabilidades administrativas e fiscais, não se faz da noite para o dia,
e o futebol acaba sendo afetado. Há 3 anos e meio o Flamengo não chega ao G-4
na classificação do Brasileirão, flerta com o rebaixamento. De 2000 para cá, 34 treinadores foram
contratados; Oswaldo de Oliveira é o oitavo da gestão Bandeira de Mello, na
presidência há 2 anos e meio. Um projeto consistente de conquistas a longo
prazo, sob essas circunstâncias, é praticamente inviável.
O futebol é a principal fonte de receita dos clubes. A
partir de boas campanhas e títulos em competições nacionais e internacionais, o
lucro de patrocínios, bilheteria e venda de produtos cresce. Por conta da sua
história vitoriosa e de sua popularidade, a marca “Flamengo” é forte, mas é
inegável que os gols dentro de campo resultariam em mais gols ainda nas contas.
O projeto da "chapa azul", liderada por Bandeira de Mello, está em xeque por
conta das inúmeras polêmicas e divergências na cúpula de futebol. Os interesses
políticos diversos na diretoria levaram ao seu racha: muitos dos dirigentes que substituíram a turbulenta gestão de Patrícia Amorim já se desligaram e até mesmo anunciaram
candidatura de oposição nas próximas eleições, marcadas para dezembro deste ano.
Essa falta de consenso em torno de um interesse maior – o sucesso prolongado de
um clube – não é uma realidade exclusiva do Flamengo; uma disputa por poder que relega ao segundo plano qualquer superávit financeiro.
A austeridade imposta por essa gestão atual é um modelo
pioneiro, e sua influência é tanta que inspirou as contrapartidas exigidas pela
MP do futebol aos
clubes em troca do refinanciamento de suas enormes dívidas com o governo federal.
Entretanto, enquanto o futebol rubro-negro for administrado da forma pela qual
tem sido, incorreta, sem continuidade e apoio a treinadores, a impressão é a de
que, mesmo com lucros exorbitantes eles poderiam ser maiores ainda; a alegria
de 40 milhões de torcedores, também.
Mattheus Reis