sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Origem e finalidade



                               Uma história marcada pela violência



      Dois acontecimentos ocorridos nesta semana puseram em evidência na pauta de discussões e preocupações dos principais líderes ocidentais o número crescente de ações e de grupos cujo objetivo predominante é difundir uma interpretação radical e, sobretudo, equivocada das leis islâmicas. O sequestro que manteve por horas pessoas reféns em um café na cidade de Sydney, realizado aparentemente de modo autônomo por um clérigo iraniano radicado na Austrália, bem como um ataque sangrento, de autoria reconhecida pelo grupo Talibã, a uma escola militar na cidade paquistanesa de Peshwar que deixou cerca de 130 vítimas, a maioria delas crianças, estão inseridos nesse contexto no qual a violência é origem e finalidade.     
       Os EUA e seus aliados, mergulhados na disputa ideológica da Guerra Fria, "criaram", no século XX, inimigos que os atormentam neste início de século XXI. A conjuntura política e cultural do Oriente Médio começou a intensificar seus contornos explosivos a partir de um evento-chave: a Revolução Iraniana, em 1979, que marcou a transformação do país em um Estado profundamente influenciado por uma interpretação mais inflexível da sharia, as leis de conduta do islã. O Wahhabismo é uma dessas correntes de interpretação.
       Em uma análise mais objetiva, a Revolução caracterizou-se como uma resposta vinda dos setores mais conservadores contra a presença de valores e hábitos do Ocidente não só no Irã mas também no mundo árabe e que seriam "responsáveis pela deterioração da cultura puramente muçulmana".
       Temerária quanto à expansão do processo de radicalização do islã, a União Soviética ocupou militarmente, no mesmo ano, uma de suas áreas de influência, o Afeganistão, país vizinho ao Irã e abrigo do Talibã, grupo também radical com potencial para empreender uma revolução similar. Os EUA e seus principais aliados vislumbraram no Talibã e em outros grupos semelhantes ideologicamente, como a al-Qaeda, um auxílio no combate ao adversário socialista na região, passando, portanto, a os financiar técnica e financeiramente.
      Os grupos fundamentalistas, a partir de então, cresceram não só em quantidade como em poder mesmo após o colapso e desintegração da União Soviética. A intensificação da globalização difundiu mais intensamente, através da internet e dos programas de tv, valores morais e culturais aos quais o islã se opõe, colocando as culturas ocidental e muçulmana em rota de colisão. Os ataques suicidas em resposta à "perda gradual dos valores e da pureza das tradições da religião presentes em povos árabes e não-árabes" consequentemente se sucederam.
      Em um contexto mais recente, outros dois fatores tem significativa importância: a Primavera Árabe e a retirada das tropas americanas do Iraque, bandeira da primeira campanha presidencial de Barack Obama e concretizada no fim de 2012. Ocorrida no início de 2011, a Primavera Árabe marcou o desmantelamento de estruturas de poder originárias da Guerra Fria em países como o Egito e a Líbia. O cenário de autoritarismo, violação dos direitos humanos e desigualdade social nesses países foi determinante para a eclosão dos protestos que culminaram na deposição de líderes presentes no poder há décadas e aliados das potências ocidentais. 
       Uma característica comum a esses líderes (Hosni Mubarak e Muamar Kadafi, respectivamente), porém, era imprescindível para a estabilidade do mundo árabe: o secularismo, ou seja, uma maior separação dos valores religiosos em relação às decisões políticas e institucionais. A saída de tais lideranças da cena política abriu espaço para a ascensão de grupos ligados e/ou simpatizantes ao fundamentalismo islâmico. No Egito, a até então marginalizada Irmandade Muçulmana é um desses exemplos. Chegou a vencer as primeiras eleições democráticas da história do país, mas, após um ano, foi derrubada e posta novamente na clandestinidade por um golpe militar baseado em um viés secularista. 
       Já a retirada das tropas americanas do Iraque após 9 anos de guerra pode ser , hoje, considerada precipitada por conta da forma pela qual foi posta em prática. Devido às reduções do efetivo militar americano e dos suportes técnico e financeiro para as forças armadas iraquianas terem acontecido rapidamente, tão rapidamente também se constatou a fragilidade de defesa do Iraque, ainda não preparado para andar com as próprias pernas. A consequência tem nome e fúria: Estado Islâmico, grupo fundamentalista que ganhou as manchetes da imprensa mundial pelas invasões a quarteis, refinarias e represas do país e da Síria, roubo de armas e execuções bárbaras de jornalistas e voluntários de ONGs humanitárias. Obama precisou reagir, sendo obrigado a liderar um ataque aéreo, no mês passado, aos pontos estratégicos do Estado Islâmico.
       A situação caótica no Oriente Médio começou com a prática da violência cultural, empreendida com intuitos políticos e econômicos e responsável por hierarquizar culturalmente os povos e suprimir hábitos e tradições, no contexto, da cultura islâmica. Entretanto, isso não pode ser a justificativa de grupos fundamentalistas e do Ocidente para pôr em prática a violência bélica, traumática para ambos os lados. A violência pode gerar violência, mas violência não justifica violência. E tanto os americanos, que em pesquisas  de opinião rejeitam uma nova intervenção militar no Oriente Médio, quanto os árabes, que condenam as ações do Estado Islâmico e de outros grupos, sabem disso.


Leia mais sobre o assunto!
http://www.dw.de/estado-isl%C3%A2mico-leva-mundo-%C3%A1rabe-a-debater-rela%C3%A7%C3%A3o-entre-terrorismo-e-religi%C3%A3o/a-17954602
http://noticias.terra.com.br/mundo/oriente-medio/pesquisa-revela-que-85-dos-arabes-nao-apoiam-acoes-do-ei,e1895c5c66ab9410VgnCLD200000b1bf46d0RCRD.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Wahhabismo                                                         


                                                              Mattheus Reis
      

sábado, 6 de dezembro de 2014

O voto e sua importância

                                      Por quê o caminho mais fácil?
     
Crianças perfiladas para execução do hino nacional no Sarah Dawsey: cerimônia toda segunda-feira para, segundo a diretora, 'desenvolver a cidadania' Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo       Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a eleição de 2014 foi aquela que contou com a menor participação de jovens entre 16 e 20 anos da história. Motivos como a progressiva redução da taxa de natalidade ao longo das últimas décadas no Brasil são decisivos, porém não se pode ignorar um ceticismo de grande parte desses jovens quanto ao modelo político vigente e a sua condução.
      A democracia representativa é o modelo que norteia a política nacional e a de maioria esmagadora de outros países ao redor do mundo, sendo o voto fundamental nesse processo. A corrupção, os lentos avanços pelos quais o país atravessa nos setores públicos e no combate às desigualdades pertinentes ao cotidiano bem como o tratamento não igualitário da justiça e das leis, pautado, muitas vezes, no poder econômico e de influência nos fazem, brasileiros, não acreditar em um futuro melhor, no mínimo menos injusto.
      Essa descrença se reflete nos jovens, cuja significativa parcela, mesmo apta a votar aos 16 e 17 anos não o fazem e não encaminham a documentação necessária para votar quando são obrigados a participarem das eleições, a partir de 18 anos. O descontentamento é compartilhado por outros independentemente da idade.
      Nesse contexto, surge um polêmico debate: o fim do voto obrigatório entra em pauta. Ao mesmo tempo, surge também uma reflexão: ao defender a extinção dessa obrigatoriedade, estariam seus defensores não dando devido valor e respeito aos líderes da Diretas Já e àqueles que morreram eletrocutados, no pau-de-arara e intoxicados na Ditadura Militar? Por mais que alguns membros da esquerda tenham cometido erros graves como a adesão à luta armada, buscava-se uma expansão dos direitos civis, como o voto para presidente. Vivemos em um país de tradições religiosas fortes, mas ao mesmo tempo ignoramos muitas vezes um preceito comum a todas as religiões: o amor ao próximo.
       Tal desinteresse pode estimular mais práticas ilícitas daqueles que compõem o poder pois abrir mão do voto significa, em tese, abrir mão de escolher um político conscientemente e fiscalizar a sua atuação. Apoiar o fim da obrigatoriedade do voto em uma viés no qual apenas eleitores conscientes politicamente iriam votar soa discriminatório e pode ampliar ainda mais o esquema de compra de votos: sendo o voto eventualmente facultativo, mais eleitores poderiam ir às urnas por questões meramente financeiras, principalmente em currais eleitorais.
      O início de uma reforma política tem como ponto de partida a escolha de representantes comprometidos com a essa causa. Estimular o interesse e o senso crítico dos eleitores em relação à política é, portanto, fundamental e é o que está sendo posto em prática e resgatado em alguns colégios no Rio de Janeiro, onde os alunos estudam conteúdos de cidadania e ética nas aulas de História e Geografia e praticam atos de respeito e valorização à pátria como a execução do Hino nacional. Caso sejam expandidas, essas medidas podem ser bem sucedidas na tentativa de, no futuro, termos uma geração mais consciente acerca da importância do voto e da política, como um todo, do que a atual.      

Leia mais sobre o assunto!

                                                                    Mattheus Reis