sexta-feira, 30 de maio de 2014

Nova cara da Europa

                                   Não tão unidos quanto antes


     A cada cinco anos, a bancada do parlamento europeu se renova através de eleições que ocorrem nos países membros da União Europeia. Cada país possui um número específico de cadeiras proporcional à quantidade de habitantes. No último domingo, tais eleições foram realizadas e o resultado ratificou uma tendência preocupante: a ascensão de partidos radicais, que, cada vez mais expressivos, estão influenciando nas decisões políticas e econômicas de um continente ainda em situação de crise.
     Tal preocupação reside no fato de que os partidos radicais podem atrapalhar o processo, já iniciado pelos partidos tradicionais e moderados, de recuperação econômica da Europa, pautado nos cortes de gastos e no aumento da carga tributária. Os radicais defendem, em sua maioria, o fim da UE, dos pacotes de austeridade e maiores restrições à chegada de imigrantes. De cunho xenófobo e ultranacionalista, estes partidos - alguns deles apoiam inclusive o nazismo - conquistaram resultados significativos na França, Inglaterra, Hungria, Áustria, Dinamarca e Grécia.
      Os casos mais emblemáticos foram as vitórias, na Inglaterra, do Partido pela Independência do Reino Unido, cuja principal meta é endossar a proposta do primeiro-ministro David Cameron de realizar um plebiscito, em 2015, acerca da permanência ou não do país no bloco e de um comediante que apresenta seu show de humor na TV trajado de Hitler na Alemanha. Se aproveitando do futuro cargo, afirmou que ele e seus suplentes tentarão ganhar a maior quantidade de dinheiro possível.
     A Europa se recupera gradativamente, porém não alcançou um status econômico completamente estável. A expectativa dos especialistas é a de que, após quatro anos, o bloco europeu volte a crescer em 2014. Entretanto, a crise tachou precocemente os atuais governos de incompetentes e propiciou a redução dos benefícios que sustentavam o estado de bem-estar social aos cidadãos, o elevou a voz extremista.
     Os partidos moderados ainda são a maioria no parlamento europeu. O presidente francês François Hollande e a chanceler alemã Angela Merkel são o pilar de sustentação desse grupo, preocupado com o crescimento dos radicais tanto de esquerda quanto de direita, que, antes da crise, eram minoritários e renegados no cenário político do continente. Eles, que dificilmente conseguiam eleger candidatos, atualmente já detêm mais de 30% das cadeiras e, por isso, podem retardar o crescimento da economia e do emprego no bloco.


                                                                Mattheus Reis

sábado, 24 de maio de 2014

Fim da espera

                                       A parte feliz de Madrid


     A vitória do Real Madrid sobre o rival Atlético de Madrid, hoje, em uma final inédita da Liga dos Campeões da Europa pôs fim a um longo jejum. Nunca dois times da mesma cidade tinham decidido um torneio tão importante. Depois de 12 anos, o time liderado por Cristiano Ronaldo voltou a conquistar um campeonato europeu em um jogo que após 92 minutos mudou de rumo devido a uma cabeçada potente. Este é o 10° título merengue da Liga.
     O argentino Simeone é, sem dúvida, o melhor técnico da temporada. Levou o Atlético de Madrid a um patamar excepcional no futebol europeu. No último sábado, sentiu a alegria de dar aos "Colchoneros" um campeonato nacional após 18 anos. Além desse título, conquistou, anteriormente, a Liga Europa e a Copa do Rei. Um time cirúrgico, paradoxalmente raçudo e frio, que não demonstra estar pressionado em momento algum. Derrotou gigantes como Milan (ITA), Barcelona (ESP) e Chelsea (ING). Neste sábado, a alegria não se repetiu por um acaso, ou melhor, por uma cabeçada certeira.
     Os Diegos do Atlético, fundamentais durante a temporada, contavam os segundos para a consagração máxima. Diego Godín - líder de um sistema defensivo quase intransponível - e Diego Costa e Diego Simeone, do banco de reservas, viram Sérgio Ramos adiar a festa. A prorrogação viria, mas nem tudo estava perdido, pensavam os "colchoneros". Muito menos definido.
     Faltou ar a um time sobrecarregado que lutou até aonde pôde. O que não aconteceu com o adversário Real Madrid já que possui jogadores reservas mais qualificados. E isso justifica os três gols sofridos no decorrer dos 30 minutos da prorrogação, que definiram a final. O dique havia se rompido. A cereja do bolo foi o pênalti convertido por Cristiano Ronaldo em Lisboa, sede da final, onde se projetou para o mundo do futebol quando atuava pelo Sporting. Simeone foi além do esperado e o Atlético de Madrid sempre estará em dívida com seu treinador. Ele deve continuar a frente do time, mas já é possível prever seu futuro como comandante da seleção de seu país. Pode acontecer em breve como também demorar certo tempo, porém é algo iminente.
     Jogar uma decisão pressionado não é fácil. O Real Madrid, tido por grande parte da imprensa como o favorito, estava nervoso, caçando a todo custo "a décima". Parecia que não seria o grande dia, mas foi o da consagração de um time muitas vezes ofuscado pelo talento fascinante do oponente Barcelona. A comemoração de Cristiano Ronaldo, ao marcar seu gol, comprovou a força de seu time. Apenas um lado da capital espanhola está em festa.

                                                                 Mattheus Reis

terça-feira, 13 de maio de 2014

Curto-circuito

                          Descompasso no setor elétrico

     Dados do Operador Nacional do Sistema elétrico indicam que o nível médio dos reservatórios de água utilizados na geração de energia pelas usinas hidrelétricas atingiu pela primeira vez um valor abaixo do registrado em 2001, ano em que ocorreu o maior apagão da história do país. Obras emergenciais para otimizar o aproveitamento desta pouca quantidade de água que resta estão sendo executadas, o que pode adiar um racionamento no momento. Essa crise é a materialização de um problema muito grave pelo qual o Brasil está enfrentando nesse setor.
     Nesse contexto, Dilma Rousseff autorizou o funcionamento a pleno vapor de todas as usinas termelétricas a fim de evitar um racionamento durante a Copa do Mundo. Isso, porém, aumenta os custos de geração de energia, que serão repassados para a população, conforme citou a presidente, em seu último pronunciamento na cadeia de rádio e tv. Ou seja, a conta de luz ficará mais cara nos próximos meses. Com a conta de luz mais cara, as famílias brasileiras tendem a poupar energia, reduzindo os riscos de apagão. Essa é uma estratégia de contingência adotada pelo governo federal. Daqui a seis meses, entretanto, a onda de calor voltará e obrigará todos a aumentarem o consumo de energia novamente. Essa crise, provavelmente, só se amenizará caso chova bastante no próximo verão e os níveis dos reservatórios se normalizem.
     O Brasil, desde quando sofreu seu último grande apagão, em 2001, cresceu economicamente e o programa "Brasil sem miséria", encabeçado pelo Bolsa Família, promoveu na última década a ascensão social de mais de 40 milhões de cidadãos, que elevaram não só a renda mas também o consumo de alimentos, eletrodomésticos e, principalmente, energia. Os investimentos no setor energético, ao longo dos últimos governos, não acompanharam essa transformação social pautada na ascensão da classe C, o que sobrecarregou a geração e a transmissão de energia elétrica no país. O atraso em obras de novas usinas hidrelétricas e eólicas bem como de linhas de transmissão de energia contribuem também para a situação ter chegado a tal ponto de preocupação.
     A energia no Brasil é oriunda em sua maior parte - cerca de 80% -  de usinas hidrelétricas. Somos, por isso, dependentes das chuvas que nutrem os rios essenciais para a obtenção da energia, logo para o desenvolvimento do país. O governo, em suas esferas de poder, ciente das mudanças climáticas pelas quais o planeta atravessa, sendo cada vez mais frequentes eventos extremos como secas, deveria estar preparado tanto para elaborar medidas que atenuassem os impactos do aquecimento global no Brasil  quanto projetos que ampliassem a oferta e o aproveitamento de energia e reduzissem a dependência da hidroeletricidade, como a expansão de usinas eólicas e solares, cujos potenciais de crescimento são enormes.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

"S" de saudade

                                                                        

    Há 20 anos, em um dia 1° de Maio, o tricampeão mundial de Fórmula 1 Ayrton Senna, ao se chocar com um muro a mais de 300 Km/h, na curva Tamburello, em Ímola, nos deixou. Em um grande prêmio que não deveria ter acontecido, outro piloto brasileiro, Rubens Barrichello, sofreu um gravíssimo acidente na sexta-feira durante os treinos livres e, no sábado, o austríaco Roland Ratzenberg não resistiu a outro grave acidente quando disputava o treino que definiria as posições do grid para a largada do dia seguinte. No dia da corrida, Senna, por mais abalado que estivesse, estava determinado a vencer o GP e, assim, homenagear o seu companheiro de profissão. Porém, não foi isso o que aconteceu...  
     Senna possuía uma ambiguidade explicada somente pela sua paixão pela velocidade. Cada vez que um grave acidente acontecia na Fórmula 1, ele sempre parava, por um segundo que fosse, para repensar se correr a mais de 300 Km/h pelos circuitos do mundo em carros muito menos seguros que os de hoje valia a pena. Entretanto, essa dúvida era passageira. Chegava e ia embora na mesma velocidade em que ele rasgava o asfalto. Logo depois, Senna estava dentro de seu cockpit fazendo de tudo para ser milésimos de segundo mais rápido. Não há como lutar contra o destino. A Fórmula 1 sempre foi muito rápida e dinâmica. Parar, por um segundo, para pensar sobre certas "bobagens" era estar um segundo atrás de Prost, Mansell e outros. Na Fórmula 1, um segundo equivale a um ano-luz. Não há tempo a perder.
     Senna surgiu para os brasileiros em um momento muito difícil para o país, marcado no fim dos anos 1980 e início dos anos 1990 pelas crises social e econômica. Ouviam-se promessas de que "o tigre da inflação seria abatido com apenas um tiro". Senna cumpria aquilo que prometia. Antes de estrear na Fórmula 1, disse a Galvão Bueno que o narrador seria o porta-voz de suas vitórias, que aconteceram de fato. Se, por um lado, não estávamos à altura de França, EUA e Inglaterra em termos de desenvolvimento, o fato do Brasil ter um piloto mais rápido que os da França, Alemanha e Inglaterra serviu de alento para nós, desacreditados em quase tudo,  naqueles anos turbulentos. Senna, ao demonstrar o seu patriotismo a cada vitória, em um momento em que sua pátria estava 10 metros abaixo do fundo do poço, conquistava os brasileiros, que fizeram dele um herói.
     A matemática diz que 7 é maior que 3. Todavia a história da Fórmula 1 pode contestar a frieza dos números. A comparação entre o tricampeão Senna e o heptacampeão mundial Michael Schumacher tem sido inevitável nos últimos anos. Porém, o fato de Schumacher declarar-se fã do brasileiro parece por um ponto final em qualquer dúvida. Ultrapassar 10 pilotos e chegar à liderança de uma corrida na primeira volta, vencer o Grande Prêmio do Brasil, em 1991, com apenas uma marcha funcionando corretamente, além de enfrentar de igual para igual a geração de pilotos tida por muitos como a mais talentosa da história são façanhas dignas de apenas um gênio. Neste caso, sou obrigado a cometer uma heresia: 7 < 3. Os matemáticos que me desculpem.
     Senna viveu em um ambiente cercado por politicagens e interesses. Ele, em alguns momentos, errou, como todo ser-humano, e deixou a competição e os interesses pessoais ultrapassarem o espírito esportivo. São detalhes de uma carreira notória, excepcional, mas, ao mesmo tempo, breve do maior ídolo do esporte brasileiro. Hoje, o Brasil - às vésperas de sediar sua segunda Copa do Mundo - é o país do futebol. Foi e sempre será. Mas, há 20 anos, era também o país da Fórmula 1, onde assistir à corrida nas manhãs de domingo era um ritual tão sagrado quanto assistir a um jogo da seleção em Copa do Mundo. Vejo as corridas desde os 6 anos de idade, mas lamento, assim como tantos outros jovens, não ter testemunhado as ultrapassagens, as vitórias e os títulos de Ayrton Senna do Brasil.     

                                                         
*Leia mais sobre os 20 anos do adeus de Senna!
http://veja.abril.com.br/reportagens-especiais/20-anos-sem-ayrton-senna/
http://globoesporte.globo.com/motor/formula-1/senna-para-sempre/noticia/2014/04/brasil-na-cabeca-e-nas-maos-senna-elevou-autoestima-de-uma-nacao.html
http://www.estadao.com.br/noticias/esportes,apos-20-anos-ayrton-senna-deixa-legado-em-seguranca-para-formula-1,1158768,0.htm


                                                       Mattheus Reis