quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Aparente fim

                                                                   A paz virá ?


     Depois de 50 intermináveis e violentos dias para israelenses e habitantes da Faixa de Gaza, o anúncio da assinatura entre representantes de grupos extremistas palestinos e do governo de Israel, na última terça-feira, de uma trégua no mais recente conflito entre as partes trouxe, por pelos menos 30 dias, a paz esperada com ansiedade por ambos os lados. Os assassinatos de 3 jovens israelenses e a posterior morte de um também jovem palestino foram o estopim para o tremor na volátil relação entre os, assumidamente, inimigos. Crianças e pessoas inocentes, sem qualquer ligação com a guerra, morreram em maior número assim como foi grande a destruição causada pelos mísseis, estrelas cadentes ao avesso, que cruzavam os céus a cada momento de um lado para o outro da fronteira.
     São recorrentes esses sangrentos conflitos que se arrastam desde o século XX, quando da criação do Estado de Israel. Os palestinos foram obrigados, em sua maioria a se reassentarem em porções menores de terra, menos férteis e com escassos recursos de água. O não reconhecimento do Estado da Palestina aflora o ódio e a inserção nesse contexto de grupos terroristas, como o Hamas e a Jihad Islâmica, agrava a situação já marcada pela tensão constante no cotidiano no cotidiano da população local.
     Nesse último embate, encerrado temporariamente pelo cessar-fogo, registraram-se 2140 mortes de palestinos - a maioria deles civis - e de 70 judeus, sendo 67 militares e apenas 3 civis. Tal desproporcionalidade, resultante da superioridade do exército israelense, um dos mais equipados do mundo, gerou fortes críticas ao governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Israel tem direito a se defender das células terroristas presentes em Gaza e que, de fato, constituem uma real ameaça ao seu povo, porém, a princípio, o exército israelense, não se preocupou devidamente em realizar ataques precisos aos locais onde se localizavam os postos de comando extremistas, o que ficou evidente com o bombardeio de uma escola da ONU lotada de refugiados, cujas casas haviam sido também indevidamente destruídas, provocando inúmeras mortes. Isso caracteriza genocídio entre outras violações de guerra.
      A próxima rodada de negociações acontecerá no prazo de um mês no Cairo. O tema mais polêmico a ser discutido é a construção de um porto e de um aeroporto em Gaza, proposta contrária aos interesses do governo Israelense, cujo temor é o da entrada facilitada e clandestina de armas fornecidas ao Hamas caso tais obras saiam do papel,
      Embora tenha sido importante, a assinatura do cessar-fogo está bem longe de ser a solução para a paz definitiva, até agora não alcançada em momento algum nesses 66 anos desde a criação de Israel. Apesar de ferir o patriotismo judeu, a necessidade do reconhecimento da Palestina como Estado autônomo é fundamental para ser iniciada uma trégua permanente, mútua. E, mesmo assim, não se pode assegurar com certeza que a região será, realmente, uma "Terra Santa" porque o antissemitismo pregado pelo Hamas continuará vivo, porque o Estado de Israel estará, ali, ao lado, a poucos quilômetros de distância. O radicalismo existe dos  dois lados e uma faísca é capaz de explodir um paiol de intolerância e discórdia, como há 50 dias. 

                                                          
Leia mais sobre o assunto!
http://lounge.obviousmag.org/promiscuidade_artistica/2014/05/a-arte-das-criancas-palestinas-da-faixa-de-gaza.html
                                                   Mattheus Reis  

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Sua cor, sua sentença?

                               Não há apenas um Michael Brown.
 


     A morte de mais um jovem negro impulsionou uma escalada de violência e tensão nos EUA. A cada episódio do tipo que se sucede, a sociedade americana ensaia dividir-se como no período da segregação durante a primeira metade do século XX. Michael Brown, de 18 anos, levou seis tiros de um policial da cidade de Ferguson, no estado de Missouri, na semana passada. O caso é controverso e ainda não foi totalmente esclarecido se a atitude do policial foi adequada ou não às circunstâncias, porém a indignação e a revolta já se abateram sobre a população local, majoritariamente negra, contra a polícia de Ferguson, cujos agentes são, sem exceção, todos brancos.
     Antes de ser abordado pelo policial Darren Wilson, Michael Brown assaltara uma loja de conveniências. Pode-se afirmar isso já que câmeras de vigilância flagraram o crime. Entretanto, Wilson declarou que o abordou sem saber da ocorrência desse assalto. As dúvidas surgiram pois as investigações ainda não chegaram à conclusão se Michael atacou o policial e, por conta disso, foi alvejado, ou se houve um assassinato por Brown ser simplesmente negro. Até agora, a sociedade americana não tem uma posição definida sobre o que realmente aconteceu e espera uma apuração por parte das autoridades policiais conforme revelou pesquisa do jornal New York Times.
     Nos últimos dias, os protestos violentos e saques arrefeceram. Michael Brown tomou atitudes erradas. Todavia, a cada morte registrada de negros em circunstâncias parecidas, uma realidade nos EUA mostra a sua face mais nua e crua: o país recupera-se gradativamente da crise econômica de 2008 acompanhado de um crescimento da desigualdade social, sendo os negros os mais atingidos. Ferguson retrata em escala local um aspecto presente em quase todo território americano ao apresentar uma taxa de desemprego de 25% dos negros enquanto, na mesma cidade apenas 6% dos brancos não possuem emprego. O surgimento de "Michaels Browns" é uma triste consequência em um meio onde escassas oportunidades de emprego e de educação de qualidade são oferecidas por conta do preconceito.
     Assim como no Brasil, a superação da discriminação nos EUA, após séculos de escravidão, é um processo difícil, que durará longos anos mesmo com a adoção de práticas socioeducativas de inclusão e de combate à marginalização dos negros. No caso americano especificamente, houve o agravante da segregação racial legitimada pelo governo e semelhante à imposta pelo Apartheid, na África do Sul, e que só foi derrubada pelos esforços até hoje reconhecidos de Martin Luther King Jr. no final da década de 1950.
     A eleição de Barack Obama, em 2008, como chefe da maior potência mundial é um símbolo da capacidade dos negros de irem além e serem bem sucedidos apesar das dificuldades. Obama tem enfrentado, de fato, muitos problemas tanto internamente quanto na geopolítica e diplomacia internacional. O racismo é um deles e, por ser o primeiro presidente negro da história do país, ele precisa ser mais incisivo e tentar, pelo menos, iniciar uma mudança na relação conflituosa entre brancos e negros.
 
Leia mais sobre o assunto!
http://www.dw.de/entenda-o-caso-michael-brown-e-os-protestos-em-ferguson/a-17861142

                                                                   Mattheus Reis

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Voo fatal

                                  Tempo: um grande inimigo



     O fatídico acidente aéreo ocorrido em Santos (SP) envolvendo a comitiva de Eduardo Campos, que vitimou o ex-governador de Pernambuco e alguns de seus assessores chocou o Brasil. Pela primeira vez um candidato ao Planalto morre em plena campanha na história do país. Eduardo Campos pertencia a uma família de renomado prestígio político. Seu avô, Miguel Arraes, também foi governador de Pernambuco e um artífice de significativa importância do processo de redemocratização pós-ditadura. Tendo Arraes como principal cabo eleitoral, ascendeu à política e realizou um bom trabalho, com alta aprovação popular, à frente de seu estado natal. A relação entre avô e neto foi estrita, tanto que o destino reservou a mesma data - 13 de agosto - como o último dia de suas vidas. Exatamente 9 anos após o falecimento de Arraes, Campos também faleceu.
     Eduardo Campos estava em seu auge na carreira política. Após ser ministro de Lula em seu primeiro mandato e governador, decidiu trilhar caminhos próprios depois de um ótimo desempenho de seu partido, o PSB, nas eleições municipais de 2012. Se afastou da influência do petismo e, ao oficializar sua candidatura à presidência, passou a ter Dilma e Lula como adversários. O intuito do PSB, em 2014, era apresentá-lo nacionalmente como um candidato forte e alternativo à bipolarização da disputa entre PT e PSDB, que governa o Brasil há 20 anos e gradativamente provoca uma rejeição por parte da população, expressa em pesquisas de opinião.
     Nesse contexto de tristeza e comoção, é evidente que a política ocupa um patamar secundário, mas deve-se destacar a necessidade do partido de Campos correr contra o tempo para definir o seu futuro já que, em 10 dias, precisará anunciar um novo candidato caso desejar manter-se nas eleições presidenciais. Marina Silva, até então vice de Eduardo, pode assumir a vaga de titular na chapa, em um caminho visto por analistas como natural e bem provável de acontecer. Ela teria de volta a chance que lhe foi tirada quando o Tribunal Superior Eleitoral impediu, no fim do ano passado, a criação de seu partido, a Rede Sustentabilidade.
     Essa questão poderá influir diretamente no cenário eleitoral. Caso o PSB saia da disputa, Dilma e Aécio brigariam por votos preciosos e o tucano, em tese, seria o mais beneficiado pois, historicamente, a maioria dos votos dos candidatos oposicionistas não migram para aqueles que buscam a reeleição. Ao mesmo tempo, Marina Silva, se optar por seguir adiante, pode, inclusive, obter mais votos por ser mais conhecida e vista pela população como leal aos seus ideais, o que embolaria de vez a disputa, indo provavelmente para segundo turno. Todas essas suposições são viáveis, porém com o início dos debates e do horário eleitoral obrigatório no rádio e na TV, o panorama pode mudar.
     A manutenção de uma terceira opção na disputa presidencial seria importante a fim de que o debate de ideias seja enriquecido, favorecendo, assim, o fortalecimento da democracia. Por esse e por outros motivos específicos, a união de Campos e Marina se concretizou de forma tão rápida. O ex-governador atrairia mais votos e sua vice permaneceria na corrida ao Planalto. Um apoio mútuo. A "chapa de terceira via" começou a ganhar força com a própria candidatura de Marina em 2010 pelo Partido Verde e Eduardo Campos, em tese, daria continuidade a essa visão em 2014.
     Cabe agora, após a tragédia, às autoridades policiais e de aviação apurar as possíveis causas do acidente, sejam elas humanas ou mecânicas. O fato de um dos pilotos ter declarado cansaço antes do voo fatal pode ser relevante na investigação assim como a análise da caixa-preta do avião. O modo de vida da sociedade no século XXI, aceleradíssimo, implica direta e indiretamente no ritmo de campanha dos políticos. São muitos compromissos em diversas partes do Brasil - o 5º maior país em dimensões territoriais - na caça incessantes aos votos, uma obsessão que pode cegar. A máxima "Não há tempo a perder" é regra e isso, em alguns momentos, permite erros e falhas responsáveis até por tirar a vida de pessoas, como a de Eduardo Campos e de outras 6 pessoas.


*Veja uma das últimas entrevistas de Eduardo Campos, concedida ao Jornal Nacional, da Rede Globo
                                                   Mattheus Reis

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

A volta fulminante do Ebola

                                                           Perigo letal


     Serra Leoa, Guiné e Libéria, países localizados na costa ocidental do continente africano, são o epicentro de uma nova epidemia de Ebola. Após 38 anos, uma das doenças mais mortais da atualidade volta a assombrar uma população extremamente carente e com poucas forças para lutar contra um vírus tão difícil de ser combatido. Os sintomas, como febre, irritações na pele e na garganta e dores fortes no corpo, quando contraídos na região, fazem aumentar a preocupação de ONGs e das autoridades locais em isolar ao máximo possível os pacientes a fim de evitar novas contaminações.
     Isso porque o contágio se dá facilmente por fluidos corporais, como o suor e a saliva, afetando inclusive médicos responsáveis por atender as vítimas. Em 1976, a comunidade científica soube pela primeira vez da existência do vírus quando o primeiro surto, ocorrido no Congo, causou uma grande quantidade de mortes que, porém, já foi superada pela epidemia iniciada no fim do ano passado e que no primeiro semestre de 2014 atingiu o seu ápice. Até agora, registraram-se cerca de 1500 casos, dentre os quais aproximadamente 800 mortes foram confirmadas nos três países, o que caracteriza um índice de mortalidade superior a 50%.
     Outros surtos e epidemias frequentemente assolam a África subsaariana. Malária, Cólera e Poliomelite são as mais recorrentes e as responsáveis por inúmeras mortes. As condições sanitárias e estruturais precárias, nesses países, contribuem para o alastramento de doenças já erradicadas em outras partes do mundo. O Ebola emerge novamente sob o mesmo contexto: Serra Leoa, por exemplo, apresenta um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano do mundo.
     A ajuda humanitária está efetivamente presente, sendo ela imprescindível. Todavia, os relatos de que o vírus se alastra mais rapidamente do que o seu combate se transformaram em um apelo por socorro. Estratégias mais elaboradas devem ser traçadas entre as ONGs, as autoridades locais e a Organização Mundial de Saúde para que sejam intensificados o suporte médico às áreas de difícil acesso, a descontaminação de locais públicos e a chegada de recursos que melhorem a estrutura para o tratamento de doentes em um esforço coletivo a fim de que o Ebola não cause tantas mortes.   



Saiba mais sobre o assunto!

http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2014/08/zh-explica-o-que-e-o-virus-ebola-que-deixou-mais-de-700-mortos-na-africa-4565742.html


                                               Mattheus Reis