sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Voo fatal

                                  Tempo: um grande inimigo



     O fatídico acidente aéreo ocorrido em Santos (SP) envolvendo a comitiva de Eduardo Campos, que vitimou o ex-governador de Pernambuco e alguns de seus assessores chocou o Brasil. Pela primeira vez um candidato ao Planalto morre em plena campanha na história do país. Eduardo Campos pertencia a uma família de renomado prestígio político. Seu avô, Miguel Arraes, também foi governador de Pernambuco e um artífice de significativa importância do processo de redemocratização pós-ditadura. Tendo Arraes como principal cabo eleitoral, ascendeu à política e realizou um bom trabalho, com alta aprovação popular, à frente de seu estado natal. A relação entre avô e neto foi estrita, tanto que o destino reservou a mesma data - 13 de agosto - como o último dia de suas vidas. Exatamente 9 anos após o falecimento de Arraes, Campos também faleceu.
     Eduardo Campos estava em seu auge na carreira política. Após ser ministro de Lula em seu primeiro mandato e governador, decidiu trilhar caminhos próprios depois de um ótimo desempenho de seu partido, o PSB, nas eleições municipais de 2012. Se afastou da influência do petismo e, ao oficializar sua candidatura à presidência, passou a ter Dilma e Lula como adversários. O intuito do PSB, em 2014, era apresentá-lo nacionalmente como um candidato forte e alternativo à bipolarização da disputa entre PT e PSDB, que governa o Brasil há 20 anos e gradativamente provoca uma rejeição por parte da população, expressa em pesquisas de opinião.
     Nesse contexto de tristeza e comoção, é evidente que a política ocupa um patamar secundário, mas deve-se destacar a necessidade do partido de Campos correr contra o tempo para definir o seu futuro já que, em 10 dias, precisará anunciar um novo candidato caso desejar manter-se nas eleições presidenciais. Marina Silva, até então vice de Eduardo, pode assumir a vaga de titular na chapa, em um caminho visto por analistas como natural e bem provável de acontecer. Ela teria de volta a chance que lhe foi tirada quando o Tribunal Superior Eleitoral impediu, no fim do ano passado, a criação de seu partido, a Rede Sustentabilidade.
     Essa questão poderá influir diretamente no cenário eleitoral. Caso o PSB saia da disputa, Dilma e Aécio brigariam por votos preciosos e o tucano, em tese, seria o mais beneficiado pois, historicamente, a maioria dos votos dos candidatos oposicionistas não migram para aqueles que buscam a reeleição. Ao mesmo tempo, Marina Silva, se optar por seguir adiante, pode, inclusive, obter mais votos por ser mais conhecida e vista pela população como leal aos seus ideais, o que embolaria de vez a disputa, indo provavelmente para segundo turno. Todas essas suposições são viáveis, porém com o início dos debates e do horário eleitoral obrigatório no rádio e na TV, o panorama pode mudar.
     A manutenção de uma terceira opção na disputa presidencial seria importante a fim de que o debate de ideias seja enriquecido, favorecendo, assim, o fortalecimento da democracia. Por esse e por outros motivos específicos, a união de Campos e Marina se concretizou de forma tão rápida. O ex-governador atrairia mais votos e sua vice permaneceria na corrida ao Planalto. Um apoio mútuo. A "chapa de terceira via" começou a ganhar força com a própria candidatura de Marina em 2010 pelo Partido Verde e Eduardo Campos, em tese, daria continuidade a essa visão em 2014.
     Cabe agora, após a tragédia, às autoridades policiais e de aviação apurar as possíveis causas do acidente, sejam elas humanas ou mecânicas. O fato de um dos pilotos ter declarado cansaço antes do voo fatal pode ser relevante na investigação assim como a análise da caixa-preta do avião. O modo de vida da sociedade no século XXI, aceleradíssimo, implica direta e indiretamente no ritmo de campanha dos políticos. São muitos compromissos em diversas partes do Brasil - o 5º maior país em dimensões territoriais - na caça incessantes aos votos, uma obsessão que pode cegar. A máxima "Não há tempo a perder" é regra e isso, em alguns momentos, permite erros e falhas responsáveis até por tirar a vida de pessoas, como a de Eduardo Campos e de outras 6 pessoas.


*Veja uma das últimas entrevistas de Eduardo Campos, concedida ao Jornal Nacional, da Rede Globo
                                                   Mattheus Reis

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