segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

A Terra agradece.

                                  Uma nova chance.                                    


Em nossas mãos: o futuro das próximas
gerações foi discutido na COP-21 e o desfecho
 das negociações em Paris foi positivo  
       Após bastante tempo perdido, as lideranças políticas mundiais ouviram com maior interesse e preocupação o clamor de nosso planeta por socorro. A demora em estabelecer um conjunto de medidas eficazes de redução dos efeitos do aquecimento global nos tornou mais vulneráveis a fenômenos extremos, como severas tempestades e estiagens, e por conta disso a geração atual está sofrendo as consequências dos erros do passado. Porém, quando um passo importante é dado com a finalidade de reverter esse preocupante quadro, não podemos deixar de celebrar: nunca antes na história, tantas nações (195) comprometeram-se a reduzir suas emissões de gases do efeito estufa, na 21ª Conferência da ONU sobre mudanças climáticas (COP-21), que terminou no último sábado, em Paris.
       Desde as discussões sobre a elaboração do Protocolo de Kyoto, em 1997, a Organização das Nações Unidas tentava emplacar um acordo desse porte. Na época, a rejeição ao tratado ambiental pelo congresso dos EUA, maior poluidor mundial, minou o estabelecimento de metas mais ambiciosas a curto prazo. A partir do mandato do presidente Barack Obama, a sustentabilidade passou a ter maior espaço em seu governo, mas isso não foi o bastante para avanços significativos serem alcançados nas Conferências de Copenhagen, em 2009, e da Rio+20, em 2012.
       Agora, outros grandes poluidores mundiais, como China, India e as potências europeias enfatizaram maior comprometimento com a causa ambiental e o chamado "Acordo de Paris" se concretizou; um documento longe da perfeição, mas de bom tamanho para o início de uma mudança. Ficou definido que os países mais desenvolvidos terão metas mais exigentes de redução das emissões já que, juntos, contribuem para mais de 2/3 da poluição atmosférica do planeta segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio-ambiente (PNUMA). Além disso, doarão, anualmente, pelo menos U$$ 100 Bi. destinados ao desenvolvimento de projetos sustentáveis e de energia limpa nos países pobres. Cada país inserido no grupo dos emergentes e subdesenvolvidos, por sua vez, apresentou voluntariamente um conjunto de medidas para diminuir sua "pegada de carbono", de acordo com suas respectivas capacidades econômicas, cujo andamento será analisado e fiscalizado pelo PNUMA a cada 5 anos. Um fundo de socorro e prevenção de tragédias climáticas também será criado.
       Todas essas iniciativas serão cumpridas a partir de 2020 e espera-se, como resultado, um crescimento de, no máximo, 1,5ºC na média da temperatura global. Membros do PNUMA e do Greenpeace, no entanto, estão céticos . De acordo com as projeções realizadas por essas organizações, mesmo com o investimento anunciado a temperatura média global aumentará em 2,7ºC. Se nada fosse proposto, essa média cresceria em até 4,8ºC.
       Independentemente se as metas serão cumpridas ou não, o mais importante é a manutenção do diálogo e da cobrança. O momento é ainda de recuperação nas economias mais desenvolvidas do mundo, e, provavelmente, uma ajuda mais generosa pode ser anunciada futuramente. A "economia verde" pode gerar inúmeros empregos, e cabe, a partir de agora, a todos os países comprometidos garantir condições aos negócios ligados à sustentabilidade serem competitivos e rentáveis. Grande parte dos consumidores apoiam produtos ecologicamente responsáveis, mas o preço ainda pouco atrativo impede o crescimento desse setor no mercado.
       Embora precise avançar em muitos aspectos, o Brasil possui uma das mais ambiciosas metas de preservação do meio-ambiente e conseguiu resultados expressivos nos últimos anos: reduziu suas emissões de gases causadores do efeito estufa em 75% e a degradação Amazônia caiu 40% nos últimos 11 anos, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), além de ter iniciado recentemente um projeto de expansão das fontes renováveis de energia. Por outro lado, a fiscalização sobre o agronegócio, principal responsável pelo desmatamento no país, e o estímulo ao desenvolvimento de biocombustíveis são os desafios a serem cumpridos na onda das decisões tomadas em Paris. 
      O fato do Acordo de Paris ter o apoio de tantos países é uma boa notícia neste final de ano.  A humanidade ganhou mais uma chance para se salvar. A Terra agradece. A sustentabilidade é fundamental não apenas por conta da preservação da natureza, mas também por promover a qualidade de vida, mais oportunidades e evitar possíveis conflitos políticos causados por escassez de recursos naturais. A partir de agora, em que as promessas já foram feitas, aguardamos ansiosamente o discurso se transformar em ações concretas. Por enquanto, estamos indo na direção certa. Já dá para perceber que o céu está até mais limpo, não acham? 

Leia mais sobre o assunto:



                                                             Mattheus Reis

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Time 6 estrelas

                                              Na conta do 'professor'.



Jogadores e o técnico Tite do Corinthians comemoram título do Brasileirão 2015 após a partida entre Vasco RJ e Corinthians SP válida pela Série A do Campeonato Brasileiro 2015 no Estádio São Januário no Rio de Janeiro (RJ), nesta quinta-feira (19)
 "Obrigado, 'professor'": abraçado pelo meia
 Lucca, Tite encerra 2015 comemorando
mais um título importante na sua carreira.
       Muitos não acreditam em numerologia, mas o "6" está presente de forma marcante neste fim de temporada glorioso para o campeão brasileiro de 2015. Mesmo empatando no Rio de Janeiro, ontem, contra o desesperado, mas valente, Vasco da Gama, a vitória do São Paulo contra o vice-líder Atlético-MG garantiu o hexacampeonato nacional ao Corinthians. Cássio, Gil, Elias, Jadson, Renato Augusto e Vagner Love transformaram-se, ao longo do ano, em 6 nomes decisivos dentro de campo para a conquista. No entanto, a estrela de maior brilho relutava em não querer assumir seu protagonismo: o 6° título de Tite à frente da equipe paulista só vem a confirmar a opinião daqueles que o apontam como o melhor treinador do país. 
       O hexa será ainda mais valorizado pelo torcedor caso o início de 2015, marcado pela crise financeira no clube e por duros golpes como a eliminação precoce da Libertadores da América, seja lembrado. Sem dinheiro, sobretudo por conta dos gastos exorbitantes com a construção da Arena de Itaquera, o Corinthians precisou arrecadar mais, e, para isso, se desfez de importantes jogadores, dentre eles Paolo Guerrero e Emerson Sheik.
       Se não fosse o apoio incondicional do torcedor, que, às vezes, beira a loucura, o rombo nos cofres seria ainda maior. Com a maior média de público do ano, até agora, o estádio construído para a Copa do Mundo de 2014 é, atualmente, um alçapão letal para os adversários. Na primeira temporada completa jogando na sua nova casa, o Corinthians obteve o melhor aproveitamento de um mandante na era dos pontos corridos no Brasileirão: 89,6% dos pontos disputados foram conquistados no bairro mais corintiano da cidade de São Paulo. Por lá foram realizadas 16 partidas, com 14 vitórias, 1 empate e 1 derrota. Nada mais verdadeiro dizer que "caiu em Itaquera, já era", "caiu em Itaquera, é hexa".
       Esses números foram alcançados em grande parte porque o Corinthians tinha o cara certo para driblar os problemas, pelo menos dentro das quatro linhas. Apesar das dificuldades causadas pela perda de importantes jogadores no meio do ano, Tite soube explorar ao máximo as características particulares de cada jogador do elenco, remontou um time entrosado e, como consequência de sua inteligência tática, foi o responsável pelo renascimento de Jadson, Renato Augusto e Vagner Love, atletas de habilidade reconhecida, mas que, por conta de lesões e falta de entrosamento e de confiança, não jogavam um futebol de alto nível há bastante tempo.
       Diferentemente da sua passagem anterior e também vitoriosa pelo Corinthians, entre 2010 e 2013, quando montou uma equipe muito mais eficiente do que encantadora em campo, Tite priorizou, dessa vez, um time rápido e criativo ofensivamente, sem se descuidar da parte defensiva. Os números, neste caso, comprovam o equilíbrio: o hexacampeão brasileiro tem a zaga menos vazada ( 27 gols sofridos) e o ataque mais goleador ( 64 gols marcados) do campeonato.
       Com esse atual estilo de jogo adotado, o técnico gaúcho deixa seus jogadores atualizados em relação às novas tendências táticas do futebol praticado nos principais torneios do mundo, e as recentes convocações de Cássio, Elias e Renato Augusto para a seleção principal e a do jovem Malcom para a seleção olímpica são difíceis de serem contestadas.
         A base do Corinthians pode ter um papel importante na difícil tarefa da seleção brasileira de se classificar para a Copa do Mundo de 2018, na Rússia. Para alguns, entretanto, é preciso ir além e mudar o comando técnico. Tite seria a aposta de muitos. Embora a desconfiança sobre Dunga seja justificável, a pressão por sua demissão pela imprensa ou pelos torcedores mais atrapalha do que ajuda na retomada do futebol brasileiro aos seus tempos de prestígio no planeta "Bola". Não se pode negar, porém, que o técnico mais vitorioso do futebol brasileiro nesta década está merecendo essa oportunidade mesmo que ela não chegue agora.

Leia mais sobre o hexacampeonato nacional do Corinthians:
http://m.trivela.uol.com.br/tite-superou-as-tempestades-e-fez-do-corinthians-um-campeao-brasileiro-ofensivo/


                                                           Mattheus Reis     













segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Existe uma saída?

                O pesadelo do terror retorna a Paris.


Preces: parisienses fazem uma corrente de oração
em um dos alvos de ataques na última sexta-feira.
       Onze meses depois do atentado contra a sede do jornal satírico Charlie Hebdo, Paris revive dolorosamente o pesadelo causado pelo terror. Uma série de ataques coordenados em pelo menos 6 áreas da capital francesa deixou uma centena de mortos. O Estado Islâmico, que reivindicou a autoria das ações bárbaras de sexta-feira passada, é também o responsável por elevar o nível de organização, influência e crueldade do terrorismo contemporâneo, o que exige, por sua vez, estratégias mais eficazes de desestabilização do grupo. Quem pensa, porém, que mais tiros são sinônimos de maior paz no mundo está enganado.
       EUA, França e nações árabes como a Arábia Saudita se articularam, no início de 2015, em torno de uma ofensiva aérea para destruir instalações e bases de treinamento do Estado Islâmico na Síria, uma estratégia bem conhecida, utilizada em outros confrontos, e duvidosa. Barack Obama afirmou, na última semana, que o EI perdera força, não avançando territorialmente. O ataque a Paris foi, entretanto, um indício de uma comemoração antecipada e equivocada do presidente americano.
       Já passou pela sua cabeça questionar quantas pessoas inocentes morreram seja por mísseis disparados de drones ou por incursões militares terrestres neste barril de pólvora chamado Oriente Médio? Extremistas costumam se fixar em locais densamente povoados, e, neste cenário marcado pela influência radical posta em prática por uma minoria muçulmana que distorce a religião, uma criança que testemunha sua família, de bem, sendo equivocadamente dizimada por uma bomba pode ter sua vida transformada para o mal. Está aí uma das formais de nascimento de um terrorista; é tudo que a jihad quer. Em escala quase industrial, a reposição de "mártires" acontece.
       O combate é necessário. No entanto, precisa ser executado de maneira mais inteligente para reduzir os danos ao máximo. Em tempos de globalização, o Estado Islâmico é o que melhor soube aproveitar ferramentas massivamente exploradas pela cultura ocidental na divulgação de valores, como a liberdade e o consumo: a mídia. Uma "arma" que, agora, é usada contra os seus próprios inventores. Com a internet, a retórica do terror se tornou mais ampla e atraiu jovens, a maioria deles imigrantes árabes ou de descendência árabe, cuja situação socioeconômica na Europa é caracterizada pela marginalização e pelo preconceito. O controle a esse tipo de conteúdo é muito pequeno e permissivo na grande rede de computadores.
       Mais crucial ainda do que uma vigilância maior sobre a internet e outros meios de comunicação pelos serviços de inteligência mundiais é uma transição política que traga estabilidade real à Síria, onde o Estado Islâmico fincou raízes em meio ao caos e se aproveitando do vazio de poder local.
       Desde 2011, quando a Primavera Árabe trouxe ares de esperança que não se confirmaram totalmente, o presidente sírio Bashar al-Assad, acusado de ter cometido inúmeras violações aos direitos humanos, não consegue e não quer controlar o país, retalhado por milícias pró e contra a sua deposição e por organizações fundamentalistas islâmicas. As potências ocidentais ainda têm dúvidas se as sobras de relevância política de Assad ajudam ou atrapalham, e, enquanto isso, cada vez mais sírios são obrigados a se aventurarem em uma jornada de alto risco rumo a uma Europa que desmente as visões de civilidade tão atribuídas ao continente, cada vez mais intolerante com imigrantes pobres.
         Combater o terrorismo não deixa de ser uma façanha já que, quanto mais atacado, mais extremista ele se torna. Em certos momentos, esse ódio acumulado explode de forma desmedida, como é o caso do EI, cujas execuções brutais são condenadas até mesmo por outros grupos terroristas. O fato de Paris - berço da Revolução Francesa e dos princípios básicos da civilização ocidental - ser a metrópole mais atingida nos últimos 12 meses pelo terror não deixa de ser um claro sinal para pensarmos se tais valores, como liberdade, igualdade e fraternidade, estão sendo devidamente praticados no século XXI. Mesmo em um momento de comoção, não podem ser levadas adiante atitudes precipitadas e que possam causar mais derramamento de sangue.
      
      

*Não se esqueça também daqueles que passam por dificuldades causadas pelo mar de lama em Mariana (MG)! Devemos prestar solidariedade  ao próximo, sobretudo àqueles mais próximos de nós.


                                                             Mattheus Reis

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Favela: onde a exceção vira regra.

A jornalista Carla Rocha faz uma análise bem clara de um episódio que, por mais acidental que tenha acontecido, não poderia ficar impune. No texto a seguir, publicado no jornal "O Globo", em 7 de novembro, é abordada a morte do estudante Eduardo de Jesus, de 10 anos, em um confronto entre policiais e traficantes no complexo do Alemão. Boa leitura e boa reflexão.                                                         

                                                  Licença para matar

       Que falta de punição alimenta a impunidade, todo mundo repete desde que o mundo é mundo. Mas a injustiça é muito mais perversa, é uma facada no coração, é o câncer do tecido social. A injustiça gera um sentimento mais complexo e destruidor porque tem alcance coletivo, sai do âmbito particular para apodrecer o mundo. É coisa grave, devasta tudo, vai levando por onde passa do cocô do cachorro às instituições mais sólidas. O bizarro desfecho do inquérito policial sobre o caso de Eduardo de Jesus, de 10 anos, morto por PMs no Alemão, é uma bomba atômica com alto poder de destruição, que deveria preocupar até mais a própria polícia do que as ONGs de direitos humanos, porque ela, a polícia, tem muito, muito mais a perder.
       Vai ser a primeira vez que um auto de resistência atingiu a cabeça de um menino inocente na forma de uma bala de fuzil. O resumo da ópera é surreal. Eduardo morreu, sim, um PM atirou na cabeça dele, sim, mas ninguém matou, não. Ou melhor: matou, mas não matou com vontade, com gosto, para ser submetido à lei. Ou: matou, mas quem mandou o garoto estar ali em meio a um confronto entre PMs e traficantes? Ou: matou, mas vai ficar por isso, porque a vida é dura aqui nos trópicos, e o policial vai ali tratar o trauma, às nossas expensas, que agora pagamos para ele trucidar criancinhas, e logo estará de volta às ruas.
       Foi dada uma licença para matar. Já vi investigações que não deram em nada — estamos longe de ter um CSI. Mas nunca vi um crime constatado, com prova técnica, de repente, não ser um crime. Tem corpo, sabe-se de onde partiu o tiro, mas é como se Eduardo tivesse se autoaniquilado. Podemos aceitar então que ele foi vítima da desigualdade social. Terá sido o maior crime do capitalismo desde sua criação. Em última análise, foi o capitalismo que o matou, ao dividir a sociedade entre pobres e ricos. E os capitalistas podem empurrar a responsabilidade para a sorte, essa megera, que o matou ao jogá-lo no lado pobre da força. Se tivesse sido vítima no Leblon, o inquérito teria tomado outro rumo. Atire a primeira pedra quem duvida. E ninguém desejaria que isso acontecesse em qualquer canto da cidade, amamos todos eles, é bom pontuar.
       Não acho que o policial saiu de casa com sede de sangue, disposto a estourar a cabeça da primeira criança que passasse na sua frente. A bem da verdade, o que passava pela cabeça dele pouco importa, não estamos em busca de um demônio para queimar na fogueira da Inquisição. Mas, se um PM matou um cidadão, ainda que por imperícia, deve responder pelo crime que cometeu. Se vai ou não ser condenado e, se condenado, a quantos anos, não sabemos. Mas, ao menos, deveria ser levado a um tribunal, em que testemunhas seriam ouvidas, provas apresentadas e defesas ouvidas. E não a um divã para expiar sua culpa.
       O grande mal da injustiça é que ela vai quebrando resistências, ampliando limites — até que não os enxergamos mais — e transformando o inadmissível em algo tolerável, sob certas circunstâncias. Essa é uma defesa da criança que foi morta? Óbvio que é. Mas isso é o óbvio. E tão importante quanto o fato de que outras vidas estão e estarão em jogo, a prevalecer essa lógica da “legítima defesa” como salvo-conduto para matar gente inocente. É uma defesa, menos óbvia, da polícia-cidadã, que tem que sair do imaginário carioca, das rodas acadêmicas e do discurso da autoridade para as ruas.
       A injustiça virou o personagem principal da triste e curta história de vida de Eduardo. A mãe, Terezinha, derrama suas lágrimas há meses, não há reparação para sua dor, que pode ser no máximo amenizada com a punição dos responsáveis pela sua perda. E temos a obrigação de, ao menos, dar dignidade a seu intenso sofrimento. Para todos nós, que não somos pais do Dudu, mas somos pais de alguém ou filhos de alguém, ainda há esperança, se não ficarmos paralisados, atônitos e chocados diante da desgraça do outro. Porque o outro é o nosso espelho, no Alemão ou no Leblon. O poder devastador da injustiça está exposto, em toda a sua plenitude, no assassinato de Eduardo. Como já disse, há muitos anos, Rui Barbosa, mais atual do que nunca: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.

domingo, 25 de outubro de 2015

Sonho realizado


                             Ser veloz não é o bastante


Casamento perfeito: Hamilton agradece ao carro
 por realizar o sonho de ser tricampeão mundial.
       Ele sempre declarou seu fascínio por Ayrton Senna e o seu sonho era o de, um dia, igualar os feitos do brasileiro. Lewis Hamilton sabe que ninguém conseguirá por fim ao reinado do tricampeão mundial de Fórmula-1, uma unanimidade entre os fãs da velocidade. Hoje, no entanto, o piloto inglês ficou mais próximo de seu grande ídolo de infância. Hamilton, agora, também é tri, assim como Senna. A realização do sonho veio com a vitória no Grande Prêmio dos EUA. Com três corridas de antecedência, tivemos a confirmação de que o ano de 2015 já estava reservado para o sucesso do dono do perfeito carro número 44.
       Mesmo tendo como compatriotas os lendários Nigel Mansell, James Hunt e Jack Brabham - todos eles também campeões mundiais - Hamilton é o inglês mais vitorioso da Fórmula-1.  Com 43 triunfos em 8 anos de carreira, só está atrás do francês Alain Prost (51 vitórias) e do alemão Michael Schumacher (91 vitórias).
       O fato do campeonato ter se definido com tamanha antecedência tem, a princípio dois motivos: não dá para negar o trabalho e o planejamento desempenhados de forma excepcional por Hamilton e por sua equipe, a Mercedes, durante todo o ano; por outro lado, isso é reflexo da desigualdade enorme de orçamento entre as scuderias. Enquanto Ferrari e Mercedes, as únicas equipes que venceram corridas nesta temporada, dispuseram, cada uma, de uma quantia de mais de 400 milhões de euros, a Marussia, tida como o time mais frágil da categoria se esforçou para montar um carro com aproximadamente 83 milhões de euros de acordo com a revista especializada AutoRacing. A falta de competitividade e de emoção foram visíveis em algumas corridas, o que é um sinal de alerta para eventuais mudanças nas regras o mais breve possível em busca de maior equilíbrio.
       A geração atual de pilotos é a melhor desde aquela que marcou o final dos anos 1980 e o início dos anos 1990, quando Senna, Prost, Piquet, Mansell e o ainda novato M.Schumacher rasgavam o asfalto e travavam disputas memoráveis. Em 2015, Alonso, Button, Raikkonen, Vettel e Hamilton somam 11 títulos mundiais, algo raro de se ver. Todos esses pilotos da atual Fórmula-1 já demonstraram competência e habilidade, mas somente o recém-tricampeão teve condições de brilhar: um desperdício de talento que afasta os fãs. Os carros da Mercedes fizeram jus ao apelido de "flechas prateadas" e voaram; os outros apenas correram.       
       O debate para mudanças costuma ser lento e feroz. Quem tem dinheiro e está ganhando as provas resiste; quem deseja vencer, mas não consegue, exige alternativas. Para 2016, alterações mais significativas e que poderiam acarretar em mais ultrapassagens e diferentes estratégias, como o retorno do abastecimento durante as corridas e a entrada de mais empresas fabricantes de pneus, estão descartadas.
       Não deixa de ser frustrante ver que o mais difícil de acontecer - a formação de uma geração brilhante de pilotos - acaba sendo ofuscado pela falta de consenso e por interesses particulares que estão longe de desenvolver o esporte. A Fórmula-1 cresceu em altíssima velocidade nas últimas décadas, emissoras de mais de 150 países transmitem as corridas, o calendário se expandiu para outros continentes além da Europa, mas a sensação é a de que o motor engasgou, a audiência está caindo e a magia, se perdendo.
       A culpa não é de Hamilton. Ele é um resquício da magia; é habilidoso, ousado, e isso é o que queremos ver nas manhãs de domingo. Um piloto cujo fã é simplesmente Ayrton Senna já nasce com DNA de campeão. Entretanto, isso já não parece ser suficiente, hoje, para que os brasileiros voltem a acompanhar com o interesse de anos atrás a elite do automobilismo.   



*Leia mais sobre a conquista de Lewis Hamilton:



                                                                Mattheus Reis


segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Dois vilões

O texto a seguir foi escrito pela colunista do jornal "O Globo" Márcia Vieira, publicado na edição de 03 de outubro de 2015 e disponível em sua versão original em:
                
                                      Que PM é essa?
 
"Quem irá nos defender?": falta de estrutura, abusos,
 preconceitos e corrupção subvertem a função social
 da polícia militar no RJ e no Brasil.
       A Polícia Militar ocupou violentamente a alma do carioca esta semana. A sequência de atos dramáticos recentes começou com o assassinato de Bruno Rodrigues, policial da UPP da Formiga, torturado e arrastado por um cavalo até a morte em Nova Iguaçu. Dois dias depois, a face mais abominável da secular corporação foi exposta no vídeo do presumível assassinato do jovem Eduardo Felipe dos Santos, de 17 anos, no Morro da Providência, seguido da adulteração da cena do crime, cometida por cinco PMs. A selvageria prosseguiu com a morte de Caio César de Mello, 27 anos, numa troca de tiros, às 11 horas, no Complexo do Alemão. Sua morte ganhou repercussão internacional. Ele foi o dublador de Harry Potter na série de filmes e até J.K.Rowling, a criadora do jovem herói bruxo, lamentou a tragédia. Caio era policial por vocação e paixão.
       Para encerrar a crônica de absurdos, uma juíza foi agredida por policiais presos, irritados com o corte de mordomias no Batalhão Prisional de Benfica. A juíza foi defendida por outros PMs, desarmados, da sua escolta e que, por sua vez, foram atacados a pauladas. Afinal, que PM é essa em que convivem agressores e agredidos, assassinos e vítimas?
       Tão mal vista pela população por conta de pequenas falcatruas e grandes bandidagens cometidas por seus integrantes ao longo de décadas, ela é o alicerce da política de segurança instalada no Rio desde 2008. Quando foram criadas as Unidades de Polícia Pacificadora, um nome significativo, parecia que a limpeza nos quadros da PM e da Polícia Civil, com a expulsão dos maus elementos promovida pelo secretário José Mariano Beltrame, daria certo. Houve esperança de que o mantra dos cariocas “a PM não tem jeito” pudesse estar errado.
       A administração Beltrame fez mudanças na formação do policial, expulsou mais de mil e quinhentos policiais e atraiu gente que, em outros tempos, jamais se arriscaria a fazer parte da corporação. “Morreria feliz em combate”, respondia Caio quando a família insistia para que deixasse a PM. Ele acreditava que seu trabalho era proteger a sociedade e se orgulhava disso.
       Mas a impressão de que se está enxugando gelo voltou a se espalhar por uma parcela significativa da população a partir do desaparecimento de Amarildo, na Rocinha, em 2013, após ter sido detido por policiais da UPP. Será que a PM não tem jeito? O que fazer para que ela mude?
Claudio Beato, do Centro de Estudos em Criminalidade e Segurança da Universidade Federal de Minas, definiu a PM como uma caixa-preta. Diz que a sociedade sabe pouco sobre ela. “Acho simplista a tese de só culpar os maus policiais. O que falta é uma efetiva estrutura de controle. É preciso haver uma mudança institucional para que casos como o da Providência não voltem a ocorrer”, escreveu no GLOBO esta semana.
       Em agosto, uma pesquisa Datafolha, encomendada pelo Ministério da Justiça e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, revelou que a Polícia Militar do Rio é a mais corrupta do país. O estado tem mais vítimas de extorsão policial do que todos os demais da Região Sudeste somados. Um resultado estarrecedor.
       Apesar disso, o programa das UPPs tem muitos pontos positivos. A questão, como é gritada aos quatro ventos pelo próprio secretário de Segurança, é que a polícia não pode agir sozinha. Sem a participação de outros setores do Estado, a polícia tende a se tornar, ela própria, um problema. Sua tendência é usar o instrumento com que está mais habituada, a violência. E neste caso, não há programa social que dê jeito. Cada vez que uma barbárie como a do Morro da Providência acontece o trabalho de anos retrocede. E, o que é pior, há quem clame por mais violência, criando um círculo vicioso sem possibilidade de um final minimamente feliz.
       Uma das mais frequentes críticas à política de segurança é que o treinamento dos novos policiais é precário e que eles já saem da academia direto para áreas com grandes possibilidades de conflito. A crítica pode ser justa. A questão é que não há como parar tudo e recomeçar do zero.
       Os conflitos explodem a todo momento. Muitas vezes são consequências de questões que ainda são discutidas pela sociedade. Por exemplo, a descriminalização do consumo de drogas e o estatuto do desarmamento.
       Uma música dos Titãs diz “Polícia para quem precisa de polícia”. É uma boa ideia, mas que sociedade, no mundo atual, não precisa de polícia? O importante é que a sociedade defina e lute pelo tipo de polícia que quer.
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*Leia mais sobre o assunto:

domingo, 20 de setembro de 2015

Ponto final

                                            O enfático "não" do STF


Tesoura nas campanhas: Políticos precisarão se adequar
à nova realidade de recursos disponíveis nas eleições.
       Após um longo debate envolvendo o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional, com idas e vindas políticas, a maior instância judiciária do país decidiu, em julgamento na última quinta-feira, caracterizar como inconstitucionais as doações de empresas durante as campanhas eleitorais. A partir de agora, portanto, financiamentos do tipo estão proibidos, e qualquer tentativa de algum grupo político reverter as novas regras provavelmente não será bem-sucedida no Congresso, sob a justificativa de desrespeitar a Constituição Federal. Embora não esteja explícita uma proibição aos financiamentos privados nos seus artigos, outros princípios-base da Lei Maior do País, como democracia e  equidade, influenciaram os votos de 8 dos 11 juízes do STF.   
        A maioria esmagadora das últimas campanhas obteve maior parte de seus recursos por intermédio de doações de empresas que atuam em diversos setores, como o bancário, da construção civil até mesmo o alimentício. De acordo com uma reportagem do jornal "Estado de São Paulo", as 10 que mais doaram em 2014 distribuíram, independentemente de preferência político-partidária, cerca de R$ 160 milhões entre 360 dos 513 deputados eleitos por mais de 23 partidos.
       Na corrida presidencial os números são ainda maiores e, por que não, revoltantes: 95% dos R$ 350 milhões arrecadados pela campanha de reeleição de Dilma Rousseff, 87% dos R$ 227 milhões declarados pelos administradores da campanha de Aécio Neves e 87% dos R$ 44 milhões financiados para Marina Silva vieram de contribuições privadas, segundo o jornal "O Globo" e com base nas prestações de contas entregues pelos comites dos candidatos à Justica eleitoral.
        Esses valores estratosféricos, por si só, já seriam suficientes para o debate sobre maiores restrições. A falta de regras anteriormente ocasionou uma hiperinflação das candidaturas. Além disso é inegável a influência exercida pelo poder econômico nas decisões políticas e no voto da população.  Empresas, em geral, buscam retorno quando  "investem" em políticos. Os exemplos de fraudes, favorecimentos ilícitos em licitações e superfaturamentos de obras cometidos  por empreiteiras e desvendados pela operação Lava-Jato são apenas uma amostra das "recompensas" cobradas em troca de preciosos votos.  As eleições, muitas vezes, se transformam em um "vale-tudo" pelo poder, e quanto mais recursos - não importa de onde vêm - maiores as chances de uma campanha mais forte, melhor administrada e de vitória.
        A partir de 2016, as fontes de arrecadação legais serão as contribuições de, no máximo, 10% da renda anual de pessoas físicas e o dinheiro público do Fundo partidário, que foi expandido justamente prevendo o fim das doações privadas. Essa é uma das principais polêmicas da nova regra: quando é cogitado o uso de dinheiro público para as campanhas, muitas críticas surgem, evidentemente, entre a população, farta de pagar uma das maiores cargas tributárias do mundo e, dificilmente, ver o retorno esperado na qualidade de vida.  Ao eleitor, entretanto, é preciso ficar claro que o dinheiro até então destinado, nas eleições, pelas empresas era, sobretudo, fruto dos lucros obtidos com a compra de produtos e serviços pelos cidadãos.
       De qualquer forma, somos nós quem pagamos a conta da farra política. O fato do dinheiro ser público pode inibir a submissão  de muitos governos à influência politica das empresas, que não deveriam participar ativamente de eleições, cujo resultado é, em tese, reflexo apenas da vontade popular. Os votos antes conquistados através do dinheiro e da influência precisarão vir, agora, de um diálogo mais próximo com as demandas da população.
       Apesar da tendência de barateamento das campanhas, são inúmeras as ações a serem tomadas ainda com a finalidade de ser garantida uma maior transparência nas práticas eleitorais e um maior compromisso  com o bem-estar da população. Instituir limites mais severos de gastos em eleições e coibir as arrecadações não declaradas e, portanto, ilegais, das quais empresas, mesmo a partir de agora proibidas, podem participar ("caixa-dois") são as pautas que deveriam fazer parte de um debate permanente. O "não" do STF precisa ser o "sim" para o início de uma tão sonhada e, ao mesmo tempo, tão distante reforma política efetiva, que combata a corrupção e amplie poder de participação popular nas decisões políticas.


*Leia mais sobre o assunto clicando nos links:




                                                          Mattheus Reis

terça-feira, 25 de agosto de 2015

No caminho certo?

                    Nem tudo no Flamengo está "no azul".


Com o pé direito: Em sua reestreia pelo Flamengo,
 O. de Oliveira venceu o São Paulo por 2 a 1.
       O Flamengo começou o 2º turno do Campeonato Brasileiro de 2015 sob o comando de um novo técnico. Isso não é nada inédito no clube de maior torcida do mundo. Oswaldo de Oliveira voltou ao comando da equipe após 12 anos de sua primeira passagem e, de cara, enfrenta um dilema sobre o seu futuro a curto-prazo: conseguirá ele dar, enfim, estabilidade e qualidade a um elenco que oscila dentro de campo há pelo menos 3 anos ou será “mais um” dentre os muitos que, por pouco tempo, ocuparam o banco de reservas? O que o destino lhe reservará?
       Quando o assunto é planejamento financeiro, o Flamengo tem ocupado uma posição de protagonismo ultimamente, recebendo até elogios em uma reportagem do The New York Times. A tão exigida boa gestão é um tema sobre o qual a mídia esportiva há bastante tempo agenda, ou seja, debate. O corte de gastos e o cerco ao desperdício foram tratados como prioridade no rubro-negro carioca, a partir da vitória de Eduardo Bandeira de Mello nas eleições presidenciais em dezembro de 2012. Desde então, os últimos balanços financeiros divulgados estão "no azul": em 2014, foi o clube, na série A, com maior arrecadação (R$ 347 milhões de reais) e o único a reduzir a sua dívida, que gira em torno de R$ 698 milhões apesar da redução de R$ 58 milhões em comparação com 2013. No 1° semestre de 2015, o lucro já atinge a marca de R$ 36 milhões.
       No entanto, dentro das quatro linhas, o sucesso não se repete. É preciso ressaltar que uma reestruturação financeira, após anos de irresponsabilidades administrativas e fiscais, não se faz da noite para o dia, e o futebol acaba sendo afetado. Há 3 anos e meio o Flamengo não chega ao G-4 na classificação do Brasileirão, flerta com o rebaixamento. De 2000 para cá, 34 treinadores foram contratados; Oswaldo de Oliveira é o oitavo da gestão Bandeira de Mello, na presidência há 2 anos e meio. Um projeto consistente de conquistas a longo prazo, sob essas circunstâncias, é praticamente inviável.
       O futebol é a principal fonte de receita dos clubes. A partir de boas campanhas e títulos em competições nacionais e internacionais, o lucro de patrocínios, bilheteria e venda de produtos cresce. Por conta da sua história vitoriosa e de sua popularidade, a marca “Flamengo” é forte, mas é inegável que os gols dentro de campo resultariam em mais gols ainda nas contas.
       O projeto da "chapa azul", liderada por Bandeira de Mello, está em xeque por conta das inúmeras polêmicas e divergências na cúpula de futebol. Os interesses políticos diversos na diretoria levaram ao seu racha: muitos dos dirigentes que substituíram a turbulenta gestão de Patrícia Amorim já se desligaram e até mesmo anunciaram candidatura de oposição nas próximas eleições, marcadas para dezembro deste ano. Essa falta de consenso em torno de um interesse maior – o sucesso prolongado de um clube – não é uma realidade exclusiva do Flamengo; uma disputa por poder que relega ao segundo plano qualquer superávit financeiro.
       A austeridade imposta por essa gestão atual é um modelo pioneiro, e sua influência é tanta que inspirou as contrapartidas exigidas pela MP do futebol aos clubes em troca do refinanciamento de suas enormes dívidas com o governo federal. Entretanto, enquanto o futebol rubro-negro for administrado da forma pela qual tem sido, incorreta, sem continuidade e apoio a treinadores, a impressão é a de que, mesmo com lucros exorbitantes eles poderiam ser maiores ainda; a alegria de 40 milhões de torcedores, também.

                                                            Mattheus Reis



quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Em busca de um legado




                                                      Hora de agir
      
Chega de esperar: Obama em anúncio de ambicioso
 plano para "limpar" a matriz energética americana.
       Ele está correndo contra o tempo. Enquanto o seu partido, o Democrata, e o opositor, Republicano, já se preparam para eleição presidencial do ano que vem, Obama mede esforços para deixar um legado minimamente concreto e duradouro para mais de 300 milhões de americanos a partir do momento em que não for mais o ocupante do salão oval da Casa Branca. Os últimos meses foram de avanços significativos tanto na política interna quanto externa; nem tudo saiu conforme o idealizado quando Obama escreveu seu nome da história como o primeiro presidente negro dos EUA; ainda há muito o que fazer.
       A crise financeira iniciada em 2008 foi um choque para as pretensões iniciais do então recém eleito presidente. O combate ao desemprego e a retomada do crescimento passaram a ser prioridades na maior economia do planeta durante os seus primeiros 4 anos de mandato. A partir de medidas inicialmente impopulares tomadas, a imagem do governo se deteriorou. Atualmente, no entanto, já são visíveis os indícios da retomada da economia americana mesmo que gradativamente: nos últimos 5 anos, foram criadas mais de 13 milhões de postos de trabalho no país.
       Outra promessa de campanha finalmente saiu do papel após longas batalhas políticas e judiciais: a Reforma da Saúde. Nos EUA, não existe um sistema de saúde pública integrado como o SUS brasileiro. Por conta disso os americanos são submetidos a pagar caro por planos de saúde ou arcar despesas de tratamento hospitalar do próprio bolso. Essa reforma, também conhecida como Obamacare, tem por intuito subsidiar os preços dos planos de cobertura médica para famílias cujas faixas de renda mensal estão entre as mais baixas. Mais de 20 milhões de pessoas já estão sendo beneficiadas.
       A legalização do casamento civil entre homossexuais em todos os estados americanos, a reaproximação diplomática com Cuba, o acordo de não-proliferação nuclear assinado conjuntamente ao Irã e o recente lançamento de um programa de redução das emissões de gases do efeito estufa são outros avanços mediados e desejados por Obama.
       Os passos dados até agora têm uma enorme complexidade e impacto na cultura local. As pesquisas de opinião mostram que esses efeitos, na sua maioria benéficos, não foram sentidos ainda, como um todo, já que apenas 43% aprovam a gestão de Obama, um percentual não tão elevado. Um novo jeito de governar - bem diferente do apresentado por presidentes anteriores e responsável por defender bandeiras como o meio ambiente, a diplomacia pacífica, os imigrantes hispânicos e o grupo LGBT - ainda enfrenta muitas oposições na classe política e na sociedade americanas.
       Mesmo enfrentando problemas como o crescimento da influência fundamentalista do Estado Islâmico e os comprometedores casos de espionagem a empresas e a governos empreendida por agências de segurança americanas, Obama, deixa um plataforma de boas ideias e propostas de continuidade para aquela que se apresenta com mais chances de ser a candidata de seu partido à sucessão, Hillary Clinton. 


Leia mais sobre o assunto:
http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,obamacare-ja-beneficia-20-milhoes---imp-,1714929
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2015/03/1609756-eleicao-presidencial-nos-eua-ja-domina-debate-nos-eua.shtml
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/mundo/2015/07/17/interna_mundo,490800/aprovacao-de-obama-cai-apoio-segue-forte-entre-jovens-minorias-e-liberais.shtml


                                                              Mattheus Reis

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Contagem regressiva.

                                                         Vamos torcer!


Expectativa: abertura das Olímpiadas de Pequim,
 em 2008. Daqui a um ano será a nossa vez.
       Daqui a exatamente um ano, em 5 de agosto de 2016, os olhos do mundo se voltarão novamente para a cidade do Rio de Janeiro. Após sediar no ano passado a grande final da Copa do Mundo em julho de 2014, o Maracanã será palco principal do maior evento esportivo do planeta: os Jogos Olímpicos. Ciente da responsabilidade de sediar a competição pela primeira vez na América do Sul, a cidade  está definitivamente em obras, que causarão mudanças em questões como a mobilidade urbana e a rede hoteleira. Apesar disso, o planejamento e o legado são alvos de inúmeras críticas, concentradas, sobretudo, em relação à poluição na Baía de Guanabara e na Lagoa Rodrigo de Freitas.
       Conforme era o esperado, as despoluições da Baía e da Lagoa, prometidas quando a cidade se candidatou a sediar os jogos, dificilmente serão concluídas e se tornaram um grande problema para o Comitê Organizador dos Jogos. Os locais onde serão disputadas as provas de iatismo e remo em 2016 somente poderão ter sua biodiversidade recuperada após contínuos projetos de combate ao lançamento de esgoto e de resíduos sólidos nas águas e mananciais da região metropolitana; um esforço que pode levar 20 anos para ter seus primeiros resultados concretos vistos, conforme afirmou recentemente a ministra do meio-ambiente Izabella Teixeira.
       Apesar de a porcentagem de esgoto lançado in natura, ou seja sem nenhum tratamento, na Baía ter diminuído de 83% para 51% nos últimos 8 anos, segundo o governo do estado do Rio de Janeiro, inúmeros velejadores - motivados tanto por vantagens quanto pela saúde dos atletas - e a Federação Internacional de Iatismo apelaram aos comitês Olímpico Internacional e Organizador dos Jogos pela mudança do local das competições.
       Diante de tantos problemas pelos quais o Brasil enfrenta em termos de qualidade de serviços públicos e desigualdade social, os Jogos Olímpicos no Brasil acabam sendo vistos como algo "supérfluo". Quem nunca ouviu verdades do tipo "Os recursos poderiam ser destinados ao que realmente importa, como a educação e a saúde."?  É preciso destacar, no entanto, que, mesmo em tempos de ajuste fiscal e aperto nos gastos, os cidadãos brasileiros pagam uma das maiores quantidades de impostos do mundo. Não é preciso ser um renomado analista de finanças publicas para perceber a possibilidade de se conciliar demandas diversas, seja a de um megaevento ou a de desenvolvimento social e sustentável desde que os recursos sejam administrados de forma planejada, correta e honesta. De acordo com o Ministério Público Federal, perdemos por ano mais de 200 bilhões de reais por conta da falta de planejamento, da corrupção e do desperdício do poder público. A mais atualizada matriz de responsabilidades fiscais dos Jogos Olímpicos no Rio apontam investimentos de 38 bilhões de reais para o megaevento, valor custeado não só pelo poder público mas também pela iniciativa privada. Se existe algum vilão nessa história, não são simplesmente os Jogos Olímpicos.
       As Olimpíadas e o esporte, como um todo, trazem, em si, uma mensagem de superação, sendo um dos últimos elementos restantes de união e confraternização entre as nações do mundo. Além disso, eventos desse porte podem ser catalisadores de transformações sociais e urbanas. Barcelona, sede em 1992, é um exemplo do que pode-se dizer "antes e depois dos Jogos". Aos "trancos e barrancos", 'a cidade maravilhosa' e, agora, 'olímpica' tenta fazer o mesmo, sem sabermos, porém, se terá o mesmo sucesso.  
       No âmbito esportivo, o Comitê Olímpico Brasileiro espera colher bons resultados do pesado investimento feito a partir de 2012 com a finalidade de melhorar o rendimento de atletas, principalmente aqueles cujas modalidades praticadas não possuem tanta tradição no país e notórios resultados em competições internacionais. A partir da contratação de profissionais estrangeiros, do desenvolvimento da infraestrutura de treinamento e de bons resultados vistos nas recentes competições internacionais, quando modalidades como a canoagem conquistaram medalhas inéditas, o objetivo traçado de que o Brasil figure entre os 10 melhores países no quadro geral de medalhas pode vir a se concretizar, o que seria a sua melhor participação na história das Olimpíadas. Essa expectativa é, no entanto, apenas um detalhe diante da necessidade de uma vitória ainda maior.
       Os Jogos Olímpicos para o Brasil e para o Rio de Janeiro, mais precisamente, devem ser um fator  responsável por acelerar mudanças na qualidade de vida da cidade, provar a capacidade do país em organizar grandes eventos e, acima de tudo, inserir de vez nos debates políticos e públicos uma cultura esportiva, que zele tanto pela saúde e bem-estar da população quanto pela inclusão social e formação de novos atletas. Diante das dificuldades enfrentadas por muitos jovens, eles já são campeões na vida e poderão ser, quem sabe, vitoriosos também nos campos, nas quadras ou tatames. Os brasileiros, mesmo que em cima da hora, como aconteceu na Copa do Mundo, farão a sua parte e torcerão pelos atletas do país a partir de 5 de agosto de 2016. Vamos torcer ainda mais para que a cidade do Rio de Janeiro, infelizmente uma das mais violentas do mundo, comece a ser, daqui a um ano, maravilhosa de fato.

*Leia mais sobre o assunto:
http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2015/07/estudo-analisa-agua-no-rio-e-diz-que-ha-risco-para-atletas-nas-olimpiadas.html   
http://veja.abril.com.br/noticia/esporte/barcelona-20-anos-depois-a-olimpiada-e-uma-nova-cidade/
http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/despoluicao-da-baia-de-guanabara-pode-demorar-20-anos-diz-ministra-do-meio-ambiente-12698824


                                                                Mattheus Reis



sexta-feira, 31 de julho de 2015

Bonito de se ver!

                                                      Atletas de ouro.

Podium brasileiro: V. Nascimento, M. Silva e R. Silva,
 medalhistas nos 50 metros nado livre em Toronto.
       A delegação paralímpica do Brasil deu mais um exemplo de superação ao bater o recorde de medalhas do país em Jogos Parapan-americanos. Na edição deste ano, em Toronto (CAN) e, que terminou no último sábado, foram 257 medalhas conquistadas (109 de ouro, 74 de prata e outras 74 de bronze), quantidade mais que suficiente para colocar o Brasil no primeiro lugar no quadro geral pela terceira vez consecutiva. O sorriso no rosto de praticamente todos os atletas, medalhistas ou não, é uma vitória diante de inúmeras dificuldades do dia-a-dia.
       O primeiro efeito positivo desse resultado espetacular é um grande aumento na verba pública repassada ao Comitê Paralímpico Brasileiro, que passará de R$ 39 milhões para aproximadamente R$ 130 milhões anuais; uma justa recompensa para aqueles que representam muito bem o país em competições internacionais de grande porte apesar dos poucos incentivos para a maior parte dos atletas. Em Jogos Olímpicos, a evolução é visível: nas últimas 5 edições, o Brasil saltou da 37ª posição, em Atlanta-1996, para a 7ª, em Londres-2012, no quadro geral de medalhas. 
       Existe, no entanto, um longo caminho a ser percorrido. Embora programas, como o Bolsa-atleta, e a Lei de Incentivo ao Esporte tenham contribuído, recentemente, para acelerar a profissionalização do esporte paralímpico no Brasil, há uma demanda crescente pela expansão dos subsídios, melhora da infraestrutura de treinamento, assim como um apelo por maior visibilidade na mídia, sobretudo em canais esportivos a cabo, que, em sua maioria, não transmitem regularmente as competições. Alguns atletas de elite, como o nadador multicampeão Daniel Dias, conseguiram, através de medalhas e recordes, patrocinadores públicos e privados, mas isso não se aplica a todos os competidores, que precisam, muitas vezes, conciliar uma desgastante jornada dupla de trabalho e treinamentos.
       As dificuldades enfrentadas por eles no esporte se somam às do dia-a-dia. As cidades brasileiras cresceram, nas últimas décadas, sem um planejamento que acompanhasse de forma eficiente as mudanças demográficas e questões como a acessibilidade. Por conta disso, são visíveis os problemas denunciados por deficientes sobre a dificuldade de se locomoverem em calçadas, prédios e meios de transporte. Mesmo quem não é atleta precisa encarar diariamente uma maratona com obstáculos chamados "buracos", "escadas" e "ônibus não-adaptados".
       O Rio de Janeiro recebeu do Comitê Olímpico Internacional a prazerosa, mas ao mesmo tempo desafiante, missão de sediar os Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Essa é uma oportunidade indispensável para, em tão pouco tempo, catalisar transformações urbanas e na gestão do esporte que, provavelmente, levariam muito mais tempo caso um evento desse porte não acontecesse por aqui.   
      O cenário econômico instável pelo qual atravessa o país não deixa de ser um percalço, mas a continuidade de uma política esportiva inclusiva e de excelência assim como o aperfeiçoamento das condições de acessibilidade para deficientes são fundamentais para termos, no futuro, a percepção de quão importante foram os Jogos não só para a "Cidade Maravilhosa" mas também para o Brasil. A sanção do "Estatuto da pessoa com deficiência" pela presidente Dilma Rousseff, em julho, pode ser considerada um avanço já que a legislação nacional não tinha um documento tão específico sobre o tema. No entanto, a excelência não pode ser apenas algo sonhado pelos competidores: o governo, em suas esferas de poder, precisa fazer com que o Estatuto seja cumprido e reconhecido devidamente; um reconhecimento já conquistado pelos atletas paralímpicos do Brasil há muito tempo e com quem temos uma dívida.
      
* Leia mais sobre o assunto       


http://espn.uol.com.br/noticia/536242_apos-otimo-parapan-comite-paralimpico-brasileiro-tera-mega-aumento-de-verba
http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/07/dilma-sanciona-estatuto-da-pessoa-com-deficiencia.html

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Bandeira branca

                                  Os aplausos de Mandela




      

Gesto histórico: Obama e Castro se
cumprimentam  no funeral de Mandela.
       Aquele 10 de dezembro de 2013, dia chuvoso e triste na cidade de Johannesburgo, na África do Sul, por conta do funeral do grande líder e Nobel da paz Nelson Mandela, proporcionou, por outro lado, uma cena que despertou, na época, muita curiosidade e expectativa no mundo; uma cena cujo significado passamos a compreender e celebrar há pouco tempo: depois de décadas marcadas por acusações e ódio mútuos, Cuba e EUA se abraçaram através de um aperto de mão entre Barack Obama e Raúl Castro, irmão de Fidel Castro e, atualmente, presidente da ilha. Após uma série de rodadas de negociações, foi realizado hoje o primeiro evento concreto de uma reaproximação diplomática: a abertura das embaixadas americana e cubana nos dois países.
      A retomada de relações diplomáticas entre Cuba e EUA a partir do final do ano passado, mediada por importantes figuras como o Papa Francisco, é o início da queda de mais um resquício da Guerra Fria. Devido ao embargo econômico imposto pelos EUA e seus aliados em 1961, Cuba buscou suporte econômico na extinta União Soviética através de alinhamento político e ideológico, além da assinatura de acordos comerciais. Com o colapso da União Soviética e de suas áreas de influência nos anos 1990, o enclave socialista na América perdeu seu pilar de sustentação frente ao bloqueio americano. Desde então, a população de local convive mais intensamente com racionamentos de utensílios vitais, como alimentos.
       A partir da ascensão de Raúl Castro ao poder, proporcionada pela saúde debilitada de seu irmão mais velho, uma nova política de abertura gradual da economia - e que desembocou na reaproximação com o governo americano - foi posta em prática. Diante da crise econômica e da pressão interna e da comunidade internacional contra o autoritarismo no país, o governo cubano apontava como estratégia culpar a manutenção do embargo pela penúria, o que não deixa de ser, pelo menos em parte, verdadeiro.
       Obama, por sua vez, não terá tempo suficiente para finalizar uma aproximação plena. Com aproximadamente 1 ano e meio de mandato pela frente, dificilmente conseguirá cumprir as etapas mais importantes e, ao mesmo tempo, agudas das negociações: o debate sobre a desativação da prisão de Guantánamo e o tão complexo fim do embargo. O longo caminho a ser percorrido exige uma reconciliação contínua, progressiva, e, para isso, uma vitória do partido Democrata nas eleições presidenciais de 2016 e, consequentemente, a continuidade do legado de Obama parecem ser o único caminho viável já que a maior parte do partido opositor, o Republicano, se opõe a qualquer diálogo sobre o tema.
       Apesar dos poucos passos dados por enquanto, eles são animadores. Segundo o instituto de pesquisas Pew Research, 63% dos americanos aprovam a reaproximação. Esse dado comprova mais uma vitória para a diplomacia de Obama, que não gosta de resolver seus problemas e desavenças com uma arma nas mãos; uma grande mudança na forma como o regime político dos Castro dialoga e vê o mundo. Os desafios são mútuos e gigantes. Os EUA precisam promover uma abertura que não interfira na soberania de Cuba, não repetindo os exemplos de episódios como o da Emenda Platt e o da invasão à Baía dos porcos no século passado. Cuba, por sua vez, precisa compreender as marcas e os impactos negativos de uma estrutura de governança pautada por violações aos direitos humanos e censura prévia apesar dos invejáveis níveis de serviços públicos, como a saúde e a educação.
       Em meio à comoção gerada pela perda de um exemplo para a humanidade em 2013, um gesto simbolizou tudo o que Mandela sempre desejou e lutou: a união sem distinções entre povos. Se Mandela não pôde assistir ao vivo àquele aperto de mãos, ele aplaude, lá do alto, o que foi construído hoje. Um tijolo por vez. No dia dos amigos, EUA e Cuba mostraram pela primeira vez depois de 54 anos que, no mínimo, não desejam ser eternos inimigos. 


*Leia mais sobre o assunto!
http://noticias.terra.com.br/mundo/eua-e-cuba-retomam-relacoes-diplomaticas-veja-o-que-ja-mudou,91a47edd71de3790937a3f98cd124325w583RCRD.html
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/12/141217_cuba_eua_reaproximacao_rm




                                                      Mattheus Reis

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Um ano depois...

                            "Pátria de chuteiras, mostra a tua cara!"



Nocauteado: A falta de qualidade e de confiança
 ainda afetam o futebol brasileiro pós-7X1.
       O dia 8 de julho de 2014 começou cercado por otimismo e confiança, porém terminou de uma forma melancólica em algo para esquecer e, paradoxalmente, para ser lembrado. Estávamos vivendo o clima de uma semifinal de Copa do Mundo. Desde 2002, quando a seleção brasileira conquistou o pentacampeonato mundial de futebol, não estávamos tão perto de colocar mais uma estrela no peito: nas últimas duas Copas, em 2006 e em 2010, fomos eliminados nas quartas-de-final. Todos nós sabemos o que aconteceu depois de 90 minutos daquele jogo em Belo Horizonte. No entanto, nem todos atentaram-se aos indícios e lições que o 7 a 1 nos mostrou.
       Apesar de disputar a Copa América em junho deste ano, no Chile, desfalcada de experientes jogadores, como Marcelo, Luiz Gustavo e Oscar, a atuação muito abaixo do que o ainda país mais vitorioso da história do futebol já demonstrou em outras ocasiões cada vez mais transmite a sensação de que não somos, neste momento, os "donos da bola". Estamos no futebol e em outros aspectos em baixa, mas isso não significa que tanto no futebol quanto no Brasil, como um todo, não exista a possibilidade de mudanças profundas e benéficas. 
       A seleção brasileira é somente o topo da pirâmide de uma restruturação urgente. A gestão dos clubes é o início do despontar de craques. São eles os formadores de atletas e precisam ter condições financeiras saudáveis para que o futebol brasileiro saia do "coma". O talento existe. Muitos craques em potencial, porém, acabam não correspondendo às expectativas criadas por conta de transferências precoces para clubes europeus com o intuito de sanar dívidas de seus clubes formadores e, em alguns casos, encher os bolsos indevidamente de dirigentes e empresários.
     Esse "assédio irresistível" acaba sendo responsável por comprometer o amadurecimento técnico de muitos jogadores.
       Visando combater as deficiências do futebol dentro e fora das quatro linhas, a Câmara dos Deputados aprovou na última terça-feira a Medida Provisória Profut, um conjunto de normas voltadas para a modernização das práticas administrativas dos clubes, dentre elas punições rígidas para aqueles que não zelarem pela redução de dívidas fiscais, limites de gastos com futebol (cerca de 80% do orçamento anual) e incentivo a investimentos nas categorias de base e no futebol feminino, vice-campeão olímpico em 2004 e em 2008, mas que carece de apoio.
       Tal regulamentação, inédita no Brasil e que será encaminhada para votação no Senado Federal na próxima semana, pode ser o início de uma mudança profunda e complexa que abrange também o combate a práticas ilícitas na Confederação Brasileira de Futebol e em federações estaduais, intensificação da segurança em estádios, alterações no calendário e nos horários dos jogos além de melhor qualificação de treinadores e professionais da área esportiva. Essas deficiências já existem há bastante tempo, principalmente fora das regiões sul e sudeste. No entanto, nas últimas décadas, sucessivas gerações de craques atenuaram os problemas estruturais do futebol. De Garrincha a Ronaldinho Gaúcho nossa "amarelinha" foi muito bem representada. Quando, admite-se, a safra atual está longe se ser excepcional, mesmo com a liderança técnica de Neymar, infraestrutura e uma administração séria e competente são fundamentais para elevar a competitividade do nosso futebol em relação aos adversários a serem enfrentados nos torneios internacionais.
       Foi a partir de um árduo trabalho de desenvolvimento profundo do seu futebol que a Alemanha colheu o tetra mundial no Maracanã. A fórmula, no entanto, não é pronta: é preciso conhecer os exemplos bem-sucedidos e adaptá-los à cultura, ao estilo de jogo e à condição socioeconômica do país. Conforme afirma o ditado popular "Há males que vêm para o bem", a triste derrota por 7 a 1 poder ser o início de uma retomada do país do futebol aos seus anos gloriosos. O momento é de criação de uma força-tarefa em prol do esporte e que concilie interesses comerciais de veículos de comunicação e reivindicações de atletas, clubes e torcedores. Não precisamos ressuscitar o futebol brasileiro: ele nunca morreu, mas, por conta do abandono, incompetência e outras deficiências, está com vergonha de aparecer novamente para o mundo.


                                                        Mattheus Reis

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Inovação no mercado de trabalho

                                                          O fator "Y"


       Qual é o seu grande objetivo profissional? Se você está inserido na faixa dos 20 a 30 anos de idade e está ingressando no mercado, provavelmente em sua lista de prioridades está a busca pela felicidade no emprego, e não apenas um bom salário, independentemente da carreira que você deseja seguir. Essa é uma das características mais marcantes da chamada “Geração Y”, da qual fazem parte jovens nascidos entre as décadas de 1980 e 1990 e tida como revolucionária ao exigir, mesmo que indiretamente, mudanças nas relações de trabalho.
       As demandas do mercado de trabalho, na atualidade, dão cada vez mais valor à criatividade, à proatividade e à pluralidade de conhecimentos e tarefas de um candidato a uma vaga. Não é à toa, portanto, que a Geração Y - inserida, em sua maior parte, em um período de intensa inovação tecnológica e de acesso rápido a múltiplas informações e perspectivas sobre diversos assuntos do cotidiano - está cada vez mais presente na força de trabalho do Brasil e do mundo, como um todo, já que se enquadra nos principais modelos de profissionais desejados pelas empresas, sobretudo aquelas relacionadas à indústria criativa, tecnológica e da informação, como Google, Facebook e Intel.
       A questão salarial não deixou de ser considerada, embora outros interesses apontados por essa geração mergulhada no mundo tecnológico, como a sensação de contribuição ao crescimento produtivo da empresa, valorização por chefes e superiores além do bem-estar ao exercer a profissão estejam ganhando força.
       Sabendo da necessidade de acompanhar as transformações nas relações de trabalho, algumas empresas correm para se adequar e criar um agradável ambiente de trabalho com o objetivo de atrair os “exigentes” profissionais da Geração Y. Muitas delas investem na flexibilização de horários, principalmente àqueles que têm filhos pequenos, espaços de lazer, convênios e descontos para cursos de aprimoramento, e atividades físicas, como yoga e pilates.
       Tal mudança de paradigma, porém, ainda não é regra. Poucos setores da economia e empresas de pequeno e médio porte já empregam essa filosofia. Expandi-la para setores além da tecnologia e da publicidade, ou seja, para indústria pesada, com muitos funcionários, é desafiante, mas pode render frutos em um futuro não tão distante. No caso específico do Brasil, aponta a consultoria de recursos humanos Hays Recruting Experts Worldwide, é preciso incluir empresas maiores como também outras regiões do país: apenas o sudeste tem um percentual representativo da Geração Y ocupando os postos de trabalho disponíveis (43%).
       Existe praticamente um consenso entre especialistas em gestão, consultores de recursos humanos e psicólogos que trabalhar com satisfação e qualidade de vida garante maior produtividade e, consequentemente, impulsiona a economia. A Geração Y, apesar de ser criticada muitas vezes injustamente pela dispersão e ansiedade, é importante, nesse contexto, por ter iniciado uma modificação no ambiente, até antes, rígido das empresas e por estimular o bem-estar na carreira tanto entre as gerações anteriores de trabalhadores, como a “X”, quanto àquelas que ainda virão. Promover bem-estar aos seus funcionários pode ser inicialmente um gasto para empreendedores embora seja convertido mais rápido do que se espera em investimento, e bastante rentável.




OBS: As empresas mencionadas no texto são apenas exemplificações. Não há qualquer vínculo de publicidade entre tais empresas e o administrador do blog.


*Leia mais sobre o assunto:
http://exame.abril.com.br/topicos/geracao-y
http://redeglobo.globo.com/como-sera/videos/t/edicoes/v/o-intercambio-de-experiencias-entre-as-diferentes-geracoes-no-trabalho/3930856/


                                                            Mattheus Reis