quarta-feira, 8 de julho de 2015

Um ano depois...

                            "Pátria de chuteiras, mostra a tua cara!"



Nocauteado: A falta de qualidade e de confiança
 ainda afetam o futebol brasileiro pós-7X1.
       O dia 8 de julho de 2014 começou cercado por otimismo e confiança, porém terminou de uma forma melancólica em algo para esquecer e, paradoxalmente, para ser lembrado. Estávamos vivendo o clima de uma semifinal de Copa do Mundo. Desde 2002, quando a seleção brasileira conquistou o pentacampeonato mundial de futebol, não estávamos tão perto de colocar mais uma estrela no peito: nas últimas duas Copas, em 2006 e em 2010, fomos eliminados nas quartas-de-final. Todos nós sabemos o que aconteceu depois de 90 minutos daquele jogo em Belo Horizonte. No entanto, nem todos atentaram-se aos indícios e lições que o 7 a 1 nos mostrou.
       Apesar de disputar a Copa América em junho deste ano, no Chile, desfalcada de experientes jogadores, como Marcelo, Luiz Gustavo e Oscar, a atuação muito abaixo do que o ainda país mais vitorioso da história do futebol já demonstrou em outras ocasiões cada vez mais transmite a sensação de que não somos, neste momento, os "donos da bola". Estamos no futebol e em outros aspectos em baixa, mas isso não significa que tanto no futebol quanto no Brasil, como um todo, não exista a possibilidade de mudanças profundas e benéficas. 
       A seleção brasileira é somente o topo da pirâmide de uma restruturação urgente. A gestão dos clubes é o início do despontar de craques. São eles os formadores de atletas e precisam ter condições financeiras saudáveis para que o futebol brasileiro saia do "coma". O talento existe. Muitos craques em potencial, porém, acabam não correspondendo às expectativas criadas por conta de transferências precoces para clubes europeus com o intuito de sanar dívidas de seus clubes formadores e, em alguns casos, encher os bolsos indevidamente de dirigentes e empresários.
     Esse "assédio irresistível" acaba sendo responsável por comprometer o amadurecimento técnico de muitos jogadores.
       Visando combater as deficiências do futebol dentro e fora das quatro linhas, a Câmara dos Deputados aprovou na última terça-feira a Medida Provisória Profut, um conjunto de normas voltadas para a modernização das práticas administrativas dos clubes, dentre elas punições rígidas para aqueles que não zelarem pela redução de dívidas fiscais, limites de gastos com futebol (cerca de 80% do orçamento anual) e incentivo a investimentos nas categorias de base e no futebol feminino, vice-campeão olímpico em 2004 e em 2008, mas que carece de apoio.
       Tal regulamentação, inédita no Brasil e que será encaminhada para votação no Senado Federal na próxima semana, pode ser o início de uma mudança profunda e complexa que abrange também o combate a práticas ilícitas na Confederação Brasileira de Futebol e em federações estaduais, intensificação da segurança em estádios, alterações no calendário e nos horários dos jogos além de melhor qualificação de treinadores e professionais da área esportiva. Essas deficiências já existem há bastante tempo, principalmente fora das regiões sul e sudeste. No entanto, nas últimas décadas, sucessivas gerações de craques atenuaram os problemas estruturais do futebol. De Garrincha a Ronaldinho Gaúcho nossa "amarelinha" foi muito bem representada. Quando, admite-se, a safra atual está longe se ser excepcional, mesmo com a liderança técnica de Neymar, infraestrutura e uma administração séria e competente são fundamentais para elevar a competitividade do nosso futebol em relação aos adversários a serem enfrentados nos torneios internacionais.
       Foi a partir de um árduo trabalho de desenvolvimento profundo do seu futebol que a Alemanha colheu o tetra mundial no Maracanã. A fórmula, no entanto, não é pronta: é preciso conhecer os exemplos bem-sucedidos e adaptá-los à cultura, ao estilo de jogo e à condição socioeconômica do país. Conforme afirma o ditado popular "Há males que vêm para o bem", a triste derrota por 7 a 1 poder ser o início de uma retomada do país do futebol aos seus anos gloriosos. O momento é de criação de uma força-tarefa em prol do esporte e que concilie interesses comerciais de veículos de comunicação e reivindicações de atletas, clubes e torcedores. Não precisamos ressuscitar o futebol brasileiro: ele nunca morreu, mas, por conta do abandono, incompetência e outras deficiências, está com vergonha de aparecer novamente para o mundo.


                                                        Mattheus Reis

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