sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Origem e finalidade



                               Uma história marcada pela violência



      Dois acontecimentos ocorridos nesta semana puseram em evidência na pauta de discussões e preocupações dos principais líderes ocidentais o número crescente de ações e de grupos cujo objetivo predominante é difundir uma interpretação radical e, sobretudo, equivocada das leis islâmicas. O sequestro que manteve por horas pessoas reféns em um café na cidade de Sydney, realizado aparentemente de modo autônomo por um clérigo iraniano radicado na Austrália, bem como um ataque sangrento, de autoria reconhecida pelo grupo Talibã, a uma escola militar na cidade paquistanesa de Peshwar que deixou cerca de 130 vítimas, a maioria delas crianças, estão inseridos nesse contexto no qual a violência é origem e finalidade.     
       Os EUA e seus aliados, mergulhados na disputa ideológica da Guerra Fria, "criaram", no século XX, inimigos que os atormentam neste início de século XXI. A conjuntura política e cultural do Oriente Médio começou a intensificar seus contornos explosivos a partir de um evento-chave: a Revolução Iraniana, em 1979, que marcou a transformação do país em um Estado profundamente influenciado por uma interpretação mais inflexível da sharia, as leis de conduta do islã. O Wahhabismo é uma dessas correntes de interpretação.
       Em uma análise mais objetiva, a Revolução caracterizou-se como uma resposta vinda dos setores mais conservadores contra a presença de valores e hábitos do Ocidente não só no Irã mas também no mundo árabe e que seriam "responsáveis pela deterioração da cultura puramente muçulmana".
       Temerária quanto à expansão do processo de radicalização do islã, a União Soviética ocupou militarmente, no mesmo ano, uma de suas áreas de influência, o Afeganistão, país vizinho ao Irã e abrigo do Talibã, grupo também radical com potencial para empreender uma revolução similar. Os EUA e seus principais aliados vislumbraram no Talibã e em outros grupos semelhantes ideologicamente, como a al-Qaeda, um auxílio no combate ao adversário socialista na região, passando, portanto, a os financiar técnica e financeiramente.
      Os grupos fundamentalistas, a partir de então, cresceram não só em quantidade como em poder mesmo após o colapso e desintegração da União Soviética. A intensificação da globalização difundiu mais intensamente, através da internet e dos programas de tv, valores morais e culturais aos quais o islã se opõe, colocando as culturas ocidental e muçulmana em rota de colisão. Os ataques suicidas em resposta à "perda gradual dos valores e da pureza das tradições da religião presentes em povos árabes e não-árabes" consequentemente se sucederam.
      Em um contexto mais recente, outros dois fatores tem significativa importância: a Primavera Árabe e a retirada das tropas americanas do Iraque, bandeira da primeira campanha presidencial de Barack Obama e concretizada no fim de 2012. Ocorrida no início de 2011, a Primavera Árabe marcou o desmantelamento de estruturas de poder originárias da Guerra Fria em países como o Egito e a Líbia. O cenário de autoritarismo, violação dos direitos humanos e desigualdade social nesses países foi determinante para a eclosão dos protestos que culminaram na deposição de líderes presentes no poder há décadas e aliados das potências ocidentais. 
       Uma característica comum a esses líderes (Hosni Mubarak e Muamar Kadafi, respectivamente), porém, era imprescindível para a estabilidade do mundo árabe: o secularismo, ou seja, uma maior separação dos valores religiosos em relação às decisões políticas e institucionais. A saída de tais lideranças da cena política abriu espaço para a ascensão de grupos ligados e/ou simpatizantes ao fundamentalismo islâmico. No Egito, a até então marginalizada Irmandade Muçulmana é um desses exemplos. Chegou a vencer as primeiras eleições democráticas da história do país, mas, após um ano, foi derrubada e posta novamente na clandestinidade por um golpe militar baseado em um viés secularista. 
       Já a retirada das tropas americanas do Iraque após 9 anos de guerra pode ser , hoje, considerada precipitada por conta da forma pela qual foi posta em prática. Devido às reduções do efetivo militar americano e dos suportes técnico e financeiro para as forças armadas iraquianas terem acontecido rapidamente, tão rapidamente também se constatou a fragilidade de defesa do Iraque, ainda não preparado para andar com as próprias pernas. A consequência tem nome e fúria: Estado Islâmico, grupo fundamentalista que ganhou as manchetes da imprensa mundial pelas invasões a quarteis, refinarias e represas do país e da Síria, roubo de armas e execuções bárbaras de jornalistas e voluntários de ONGs humanitárias. Obama precisou reagir, sendo obrigado a liderar um ataque aéreo, no mês passado, aos pontos estratégicos do Estado Islâmico.
       A situação caótica no Oriente Médio começou com a prática da violência cultural, empreendida com intuitos políticos e econômicos e responsável por hierarquizar culturalmente os povos e suprimir hábitos e tradições, no contexto, da cultura islâmica. Entretanto, isso não pode ser a justificativa de grupos fundamentalistas e do Ocidente para pôr em prática a violência bélica, traumática para ambos os lados. A violência pode gerar violência, mas violência não justifica violência. E tanto os americanos, que em pesquisas  de opinião rejeitam uma nova intervenção militar no Oriente Médio, quanto os árabes, que condenam as ações do Estado Islâmico e de outros grupos, sabem disso.


Leia mais sobre o assunto!
http://www.dw.de/estado-isl%C3%A2mico-leva-mundo-%C3%A1rabe-a-debater-rela%C3%A7%C3%A3o-entre-terrorismo-e-religi%C3%A3o/a-17954602
http://noticias.terra.com.br/mundo/oriente-medio/pesquisa-revela-que-85-dos-arabes-nao-apoiam-acoes-do-ei,e1895c5c66ab9410VgnCLD200000b1bf46d0RCRD.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Wahhabismo                                                         


                                                              Mattheus Reis
      

sábado, 6 de dezembro de 2014

O voto e sua importância

                                      Por quê o caminho mais fácil?
     
Crianças perfiladas para execução do hino nacional no Sarah Dawsey: cerimônia toda segunda-feira para, segundo a diretora, 'desenvolver a cidadania' Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo       Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a eleição de 2014 foi aquela que contou com a menor participação de jovens entre 16 e 20 anos da história. Motivos como a progressiva redução da taxa de natalidade ao longo das últimas décadas no Brasil são decisivos, porém não se pode ignorar um ceticismo de grande parte desses jovens quanto ao modelo político vigente e a sua condução.
      A democracia representativa é o modelo que norteia a política nacional e a de maioria esmagadora de outros países ao redor do mundo, sendo o voto fundamental nesse processo. A corrupção, os lentos avanços pelos quais o país atravessa nos setores públicos e no combate às desigualdades pertinentes ao cotidiano bem como o tratamento não igualitário da justiça e das leis, pautado, muitas vezes, no poder econômico e de influência nos fazem, brasileiros, não acreditar em um futuro melhor, no mínimo menos injusto.
      Essa descrença se reflete nos jovens, cuja significativa parcela, mesmo apta a votar aos 16 e 17 anos não o fazem e não encaminham a documentação necessária para votar quando são obrigados a participarem das eleições, a partir de 18 anos. O descontentamento é compartilhado por outros independentemente da idade.
      Nesse contexto, surge um polêmico debate: o fim do voto obrigatório entra em pauta. Ao mesmo tempo, surge também uma reflexão: ao defender a extinção dessa obrigatoriedade, estariam seus defensores não dando devido valor e respeito aos líderes da Diretas Já e àqueles que morreram eletrocutados, no pau-de-arara e intoxicados na Ditadura Militar? Por mais que alguns membros da esquerda tenham cometido erros graves como a adesão à luta armada, buscava-se uma expansão dos direitos civis, como o voto para presidente. Vivemos em um país de tradições religiosas fortes, mas ao mesmo tempo ignoramos muitas vezes um preceito comum a todas as religiões: o amor ao próximo.
       Tal desinteresse pode estimular mais práticas ilícitas daqueles que compõem o poder pois abrir mão do voto significa, em tese, abrir mão de escolher um político conscientemente e fiscalizar a sua atuação. Apoiar o fim da obrigatoriedade do voto em uma viés no qual apenas eleitores conscientes politicamente iriam votar soa discriminatório e pode ampliar ainda mais o esquema de compra de votos: sendo o voto eventualmente facultativo, mais eleitores poderiam ir às urnas por questões meramente financeiras, principalmente em currais eleitorais.
      O início de uma reforma política tem como ponto de partida a escolha de representantes comprometidos com a essa causa. Estimular o interesse e o senso crítico dos eleitores em relação à política é, portanto, fundamental e é o que está sendo posto em prática e resgatado em alguns colégios no Rio de Janeiro, onde os alunos estudam conteúdos de cidadania e ética nas aulas de História e Geografia e praticam atos de respeito e valorização à pátria como a execução do Hino nacional. Caso sejam expandidas, essas medidas podem ser bem sucedidas na tentativa de, no futuro, termos uma geração mais consciente acerca da importância do voto e da política, como um todo, do que a atual.      

Leia mais sobre o assunto!

                                                                    Mattheus Reis

domingo, 23 de novembro de 2014

O campeão voltou

                                   Hamilton venceu dois adversários


Lewis Hamilton F1 GP Abu Dhabi (Foto: AFP)     A vitória no Grande Prêmio de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, foi mais que suficiente para o inglês Lewis Hamilton conquistar, após intensas disputas com o companheiro de equipe, Nico Rosberg, mais um campeonato na Fórmula-1 depois de 6 anos de jejum. Um ano especial para Hamilton, que, com 11 vitórias na temporada, tornou-se não só o maior vencedor de corridas entre pilotos ingleses (33 triunfos no total), ultrapassando o lendário Nigel Mansell, mas também o único inglês bicampeão da categoria. Para alcançar esses feitos, não precisou somente duelar contra Rosberg.
     Após conquistar seu primeiro título mundial de pilotos, em 2008, em uma épica batalha contra Felipe Massa, Hamilton fascinou-se pela fama e notoriedade adquiridas e caiu de rendimento nas temporadas seguintes. Os erros e imprudências o afastaram das vitórias e, por conta disso, sua imagem se arranhou com a equipe que defendia, a McLaren.
     Hamilton precisou redescobrir seu espírito competitivo e dedicação ao trabalho com o intuito de retrilhar o caminho de sucesso nas pistas. O jejum de títulos e as poucas vitórias são desesperadores para qualquer piloto que conheça seu potencial e talento. Hamilton os tinha e isso não se perde definitivamente. Quando se transferiu para a Scuderia Mercedes, ano passado, iniciou o seu processo de evolução assim como sua nova equipe. Os frutos do árduo trabalho foram, enfim, colhidos hoje. No meio do deserto, ele encontrou um oásis.
     É inegável a superioridade dos carros da Scuderia Mercedes, que dominaram a temporada: foram inúmeras "dobradinhas" e vitórias em 16 dos 19 GP's disputados. Porém, todo grande carro necessita de uma "excelente peça" no cockpit, entre o volante e o assento. Rosberg tinha plenas condições de ser campeão já que tinha nas mãos o mesmo carro e mecânicos tão qualificados quanto Hamilton. Os problemas mecânicos enfrentados pelo alemão em Abu Dhabi influenciaram na perda do título, mas não foram cruciais. O inglês, mais talentoso, conseguiu domar seu ímpeto, agressivo ao extremo, que lhe tirou o título de 2007, seu ano de estreia na Formula-1, ainda na McLaren, o melhor carro na época. Rosberg e o ímpeto descontrolado de Hamilton ficaram para trás. Uma corrida não se vence apenas na pista.
     A vitória na última etapa coroou o ano inesquecível de Hamilton, mas ela foi ameaçada nas voltas finais por Felipe Massa, o 2º colocado, guiando uma Willians, equipe que mais evoluiu em 2014, saltando da 9ª posição no campeonato de construtores, em 2013, para 3° nesta temporada. Esse desempenho surpreendente enche de expectativa os fãs brasileiros de que Massa possa novamente estar em condições de brigar por vitórias e até pelo título no ano que vem. Resta torcer! A Fórmula-1 voltará a rasgar o asfalto dos circuitos ao redor do mundo a partir de 15 de março em Melbourne, Austrália.

*Leia mais sobre o bicampeonato do piloto inglês Lewis Hamilton!
http://globoesporte.globo.com/motor/formula-1/noticia/2014/11/pegas-toques-e-vai-e-vem-da-amizade-hamilton-x-nico-chega-capitulo-final.html
http://globoesporte.globo.com/motor/formula-1/noticia/2014/11/top-5-relembre-duelos-historicos-que-marcaram-etapas-finais-da-formula-1.html
http://globoesporte.globo.com/motor/formula-1/fotos/2014/11/fotos-momentos-marcantes-da-formula-1-em-2014-em-imagens.html

                                                          Mattheus Reis
    

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Voto de protesto

                                     A função da oposição na política


     Enquanto no Brasil as últimas semanas foram norteadas pela corrida ao Planalto entre Aécio Neves e Dilma Rousseff, os EUA preparavam-se para outra eleição, não presidencial, mas não menos importante: a legislativa. Ao contrário do que se imagina, não há apenas os partidos Republicano e Democrata no cenário político americano. O Partido Independente e outros também se fazem presentes. Mas a influência e o poder dos dois maiores são tão absurdamente superiores que as disputas são polarizadas e praticamente todas as cadeiras no congresso são tomadas por eles. O que Obama não desejava aconteceu na última terça- feira. Os Republicanos ampliaram sua presença no parlamento, dificultando ainda mais os projetos que o presidente pretende iniciar nos dois anos que restam de seu mandato.  
     Nessas eleições, conhecidas também como "de meio de mandato", o presidente já sofrera um duro baque em 2010. Os Republicanos se tornavam maioria na Câmara dos Representantes. Naquele momento, o discurso de Obama começava a decair em descrédito, a economia não dava sinais efetivos de recuperação. Mas o Senado ainda estava sob o controle de seu partido. Agora, apesar da economia estar em fase de reaquecimento, com elevação do PIB e redução do desemprego, os democratas perderam o controle do Senado. Para piorar, em alguns estados também ocorreram eleições para governador, nas quais os Republicanos venceram na maioria deles. Em 30 dos 50 estados a oposição governa.
     Quando os candidatos - sejam a presidente, governador ou prefeito - iniciam suas campanhas, muitos deles optam por distorcer a realidade em seus discurso com o intuito de conquistar os preciosos votos. Obama é um político inteligente, porém subestimou alguns desafios que enfrentaria e que foram bandeiras de campanha tanto no âmbito externo, como a retirada das tropas do Iraque, quanto internamente na reforma do sistema de saúde, reforma da imigração, recuperação econômica e a feroz oposição Republicana. A ala radical desse partido, o Tea Party, ganhou força.
     O resultado, por conta de todos esses fatores, mostrou a indignação de grande parte do povo em relação à forma de Obama administrar a maior potência do planeta. Poucos avanços foram efetivados. A volta de intervenções militares no Oriente Médio, mesmo sem o envio de tropas, contra o Estado Islâmico reduziram sua popularidade.
     Por outro lado, conhecer os papeis de Legislativo e das oposições em um governo é fundamental para compreender alguns motivos dos poucos avanços da gestão Obama. Os Republicanos, liderados pelo Tea Party, impuseram várias restrições às propostas apresentadas pelo governo. Obviamente, alegaram motivos para isso, que encontram respaldo em setores da sociedade americana. Porém, tais motivos podem estar relegados a segundo plano em prol de um objetivo maior: criar um situação de ingovernabilidade de Obama, o que os favoreceria nas próximas eleições presidenciais, em 2016. Questões referentes à concessão de mais direitos aos imigrantes são urgentes em um país onde cerca de 30 milhões não são originalmente americanos. A oposição não pode bloquear pautas e reivindicações como essa, suprapartidárias.
     A oposição não está presente em qualquer governo minimamente democrático para se autoproclamar inimiga de quem está no poder. Seu dever é o de, através do diálogo, mostrar outros pontos de vista sobre qualquer proposta de lei, projeto e afins além de fiscalizar o cumprimento e a aplicação de recursos; tudo pelo objetivo de melhorar o país. Ao travar uma guerra ideológica e em alguns momentos infantil, o Partido Republicano, conjuntamente com os erros de Obama, não faz os EUA avançarem social e economicamente como deveria caso um ambiente mais harmônico e de consenso estivesse predominando na política local. Mas a luta, em praticamente todas as circunstâncias, pelo poder atropela o bem comum.
     
    


Leia mais sobre o assunto!
http://oglobo.globo.com/mundo/eleicoes-americanas/


                                                       Mattheus Reis

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Recado a Dilma


                              Nada mudou. Mas pode mudar.

      A eleição presidencial mais disputada da história do país. Nunca antes um candidato fora eleito ou reeleito para o cargo político mais importante do Brasil com uma margem percentual de votos tão apertada: 3,24% a mais para Dilma Rousseff. A já superada menor vantagem registrada de um presidenciável vitorioso em relação ao segundo colocado datava de 1955, quando Juscelino Kubitschek ganhou a corrida com vantagem de 5,44%. A emoção, de fato, esteve presente até os momentos finais na apuração: até por volta de 19:30Hs, Aécio Neves liderava, porém uma parcela significativa de votos da região Nordeste ainda não tinham sido contabilizados. O PT completará, em 2018, 16 anos à frente do país. A tendência de continuidade das estruturas de poder montadas nos governos Lula e Dilma é clara. Todavia algumas posturas que caminham a mudanças mais profundas foram sinalizadas.  
      A campanha foi a mais acirrada da história, assim como pode-se afirmar que foi uma das mais sujas. Vasculhou-se tudo, até mesmo sobre as vidas particulares dos candidatos a presidente, tendo as redes sociais dado suporte às acusações, na maioria das vezes, infundadas e irracionais. Na antevéspera da eleição, a disputa esquentou ainda mais por conta da publicação de uma reportagem na revista "Veja", que denunciava a conivência de Lula e Dilma acerca de escândalos de corrupção na Petrobrás. A reação da militância petista foi, ao mesmo tempo, imediata e absolutamente condenável de depredar a entrada da sede da revista.
      Foi um risco assumido pela diretoria da "Veja" ao autorizar a publicação de uma denúncia que ainda não pode ser comprovada já que os depoimentos de envolvidos no caso não foram oficializados nem divulgados integralmente. Além disso, a revista usualmente é posta em comercialização aos domingos, mas parte de seus exemplares já estava nas bancas na sexta-feira, dois dias antes do 2° turno, o que levanta fortes indícios de tentativa de induzir o voto dos eleitores. Sou estudante de Jornalismo e defendo a liberdade de expressão da imprensa. Mesmo assim, não considero-a acima de qualquer suspeita e seus erros, ligados sobretudo às questões ética e de imparcialidade, não podem passar desapercebidos. Esse foi um deles.
      Dilma Rousseff em seu primeiro pronunciamento após reeleita fez sinalizações que mostram uma clara disposição ao diálogo com a oposição, cujo ótimo desempenho de Aécio a fortaleceu. Um comportamento diferente daquele durante seu primeiro mandato, marcado por uma incisiva determinação da presidenta em conduzir o governo sob suas vontades. É uma atitude louvável em um cenário no qual somente um pouco de diálogo e consenso podem reverter problemas como a inflação próxima de bater o teto da meta estipulado, o baixo crescimento do PIB, metas fiscais e a crise energética, bem como outras pautas: saúde, educação, segurança, transporte e habitação.
      Por outro lado, a trajetória política de militância da presidenta durante a Ditadura Militar, que a marcou física e psicologicamente, estabelece uma questão prioritária, de honra, para o seu próximo ciclo de governo: a realização de um efetiva reforma política, que restrinja o financiamento empresarial às campanhas, puna com mais rigor crimes, como o de "caixa 2", entre outras medidas a fim de que a política não seja tão refém de interesses que não condizem com o bem-estar comum como é atualmente.
      Caso Dilma entenda o recado de mudança tão propagado na campanha e presente desde as manifestações do ano passado, ela honrará os princípios que passou a defender nos "anos de chumbo", apesar dos obstáculos que se impõem contra isso. Que suas palavras no discurso da vitória não sejam apenas para embelezar o seu texto.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Tudo velho de novo?

                                       Que dessa vez seja diferente.


      Apesar da já esperada disputa acirrada, a eleição presidencial de 2014 tinha até 13 de agosto um quê de previsibilidade. O principal embate estava polarizado entre o PT, de Dilma Rousseff, e o PSDB, com o candidato Aécio Neves. Com a morte de Eduardo Campos, a reviravolta foi tão grande que uma nova eleição começou a se desenhar. Porém, o resultado do 1° turno realinhou a corrida ao Planalto entre os adversários tradicionais. A chapa de terceira via, ao ser liderada, de fato, por Marina Silva ganhou força, amedrontando a presidenta e causando histeria na campanha tucana, mas perdeu fôlego na reta final.
      Marina Silva, Dilma Rouseff e Aécio Neves, individualmente, possuem trajetórias políticas marcantes e singulares. A candidata do PSB talvez tenha o passado mais tocante e comovente: de seringueira e alfabetizada apenas aos 16 anos a presidenciável. A 36ª líder do Brasil foi uma militante aguerrida durante a ditadura militar e enfrentou-a até as consequências mais drásticas, como a tortura. Já Aécio, criado em um ambiente altamente politizado por ser neto de Tancredo Neves, participou do movimento Diretas Já.
      O PT saiu vitorioso no 1° turno com mais de 41 milhões de votos dados a Dilma. Os programas sociais arrebatam milhões de seguidores, mas no segundo turno o partido continuará debatendo temas espinhosos e falhas na condução do governo, nos últimos 4 anos: desaceleração da economia e casos de corrupção. Além disso, a tática do medo, da qual o PT fora vítima e agora usa a seu favor assim como muitos quando chegam ao governo, dever ser persistente, infelizmente, em seus programas eleitorais.
      Marina Silva chegou a liderar em pesquisas de intenção de voto tanto no 1° quanto no 2° turnos. Entretanto, suas contradições e hesitações quanto a propostas de ampliação de direitos ao grupo GLBT, por exemplo, fizeram a candidata não ir, mais uma vez, à fase decisiva do pleito. Marina desejava muito que a eleição tivesse acontecido uma semana antes do dia 5 de outubro, pois ainda estaria na frente de Aécio. Os bombardeios de Dilma e Aécio contra Marina, inimiga comum aos dois naquele momento, também a comprometeram. Diferentemente de 2010, quando também não disputou o 2° turno, ao manifestar publicamente seu apoio a Aécio Neves, busca ser mais atuante, mas, ao mesmo tempo, reforça suas contradições: Se fosse Marina Silva fiel aos seus ideais em defesa da "nova política", não apoiaria nem Dilma nem Aécio, cujos  partidos ela aponta como os principais representantes da "velha política".
      O candidato do PSDB enfrentou muitos dilemas em sua caminhada até agora. Negociou intensamente o apoio da ala paulista tucana, indignada por não ter Serra ou Alckmin como nomes à presidência pelo partido, e enfrentou problemas nos bastidores que quase causaram a sua renúncia à disputa quando foi ultrapassado por Marina nas pesquisas. Todavia, sua derrota dupla em Minas Gerais, para Dilma e para o candidato petista a governador, mostram que ele não é tão unânime quanto afirma ser, em seu estado-natal, na propaganda eleitoral.
      A reviravolta a favor de Aécio o fortaleceu bastante para os próximos intensos dias de campanha pelo Brasil e isso se comprova através do empate técnico no último levantamento feito pelo IBOPE. Restam praticamente 10 dias para  "o dia D" e o Brasil deseja ouvir propostas para um futuro melhor. Tudo é possível e não se pode apontar um favorito. É, porém, lamentável que, nessa terça-feira, quando os dois candidatos se reencontrarão em mais um debate na Rede Bandeirantes de televisão, à noite, seja marcada novamente por ataques desmoralizantes e às vezes infundados. Não queremos e não merecemos isso.

                                                                 Mattheus Reis

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Um lugar ao sol

                                      Aquilo que, às vezes, não vemos


          O Brasil, ao longo das últimas décadas, vem apresentando um panorama de evolução positiva em seus indicadores socioeconômicos. Ainda assim, a desigualdade é perceptível para praticamente todos os brasileiros na vida cotidiana. Em um país de contrastes acentuados, os governos que se sucedem têm o dever de promover políticas de inclusão e de oportunidades para todos. A Lei de Cotas , que obriga todas as universidades federais a destinarem 50% de suas vagas para certos grupos de estudantes, é uma dessas medidas.
        A reserva de vagas nos vestibulares públicos para determinados grupos de estudantes, como negros, indígenas e matriculados na rede pública de ensino, enfrenta ressalvas de alguns especialistas e de outros estudantes que não se enquadram nessa política, responsável, sem dúvida, por acirrar a concorrência. Porém, busca atenuar problemas que só poderão ser solucionados em uma perspectiva de longo prazo.
        Muitas comunidades indígenas estão afastadas de serviços públicos de qualidade. Dados do Índice da Educação Básica do Brasil comprovam as disparidades entre os ensinos público e privado em termos de qualidade, além de que, como uma consequência do passado de escravidão e discriminação no país, a maioria dos alunos negros frequenta escolas públicas, em geral de baixa qualidade, e enfrentam dificuldades em obter qualificação adequada e bons salários posteriormente.
        Quando estes grupos de estudantes acabam, por motivos específicos, não obtendo a qualificação necessária ao mercado de trabalho e amplamente inferior às das classes mais altas da sociedade, há a intensificação de um sério problema: a concentração de renda. As cotas, ao possibilitaram a ascensão social, possuem o intuito de melhorar a qualidade de vida, o desenvolvimento econômico, de tornar o Brasil mais justo, além de acreditar na superação do cidadão.
        As cotas não são uma solução definitiva dentre os inúmeros desafios que a educação impõe aos governantes. É fundamental valorizar os professores, bem como promover infraestrutura necessária nas escolas a fim de que o ensino de ricos e pobres seja o mais próximo possível em termos de qualidade. Esse é um processo longo, que envolverá gerações. Enquanto não forem alcançadas as metas pretendidas, as cotas são imprescindíveis no processo de evolução do Brasil em seus indicadores socioeconômicos.




                                                                      Mattheus Reis

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Mancha negra na Petrobrás

                                                    Quem, de fato, manda.

      O ex-diretor da Petrobrás e um dos organizadores do esquema de corrupção que norteia a principal empresa estatal do país na atualidade, Paulo Roberto Costa, vem ao longo da semana detalhando aos investigadores da Polícia Federal e do Ministério Público toda a engrenagem montada para o desvio de dinheiro da empresa com o intuito de abastecer interesses individuais, como campanhas eleitorais de políticos aliados do governo e da candidata Marina Silva, entre outros. Ao ser detido e optar por esclarecer o escândalo em troca da redução da sua futura pena, Costa reforça a interferência política histórica em questões e setores fundamentais para o desenvolvimento do Brasil, quando a ética e o profissionalismo deveriam prevalecer.
      Em praticamente todos os governos, a política e a troca de favores atropelam o mérito e a capacitação de pessoas em cargos importantes em agências reguladoras, ministérios e estatais. A diferença se estabelece no grau dessa interferência, que, ao que tudo indica, se intensificou nos governos do PT por conta de questões ideológicas do partido como a oposição ao neoliberalismo em sua forma ampla. Porém, a intervenção estatal na economia e em outras áreas pode se transformar em um meio para a ocorrência de práticas ilícitas caso aliados mal-intencionados sejam indicados para cargos de confiança e não haja um forte controle de transparência.
      Os desvios de dinheiro na Petrobrás, além de outros problemas como os elevadíssimos e suspeitos custos das refinarias de Pasadena, no Texas, e Abreu e Lima, em Pernambuco, são responsáveis, mesmo que indiretamente, pela brusca queda do valor de mercado da empresa e pelo represamento de preços dos combustíveis, segundo analistas, causando impactos na inflação.
      Ao mesmo tempo, entretanto, privatizar empresas estatais pelo argumento da existência de focos de corrupção nelas não parece ser uma opção coerente porque ignora a ocorrência de práticas ilícitas também na iniciativa privada: as grandes construtoras são exemplo disso.
      Assim como não é coerente apontar uma só figura do governo como a responsável por todos os imprevistos que acontecem nele. Enxergo na presidenta Dilma Rousseff uma imagem comprometida e íntegra, mas que peca pela inexperiência, em algumas situações, e está sufocada por um sistema que prioriza os interesses individuais acima de tudo. Dilma exerceu os postos de ministra de Minas e Energia e da Casa Civil, porém, antes de 2010, não concorrera a nenhum cargo do Executivo ou do Legislativo. Por sua inexperiência, foi assessorada por aliados do governo anterior e, sem saída, precisou se submeter às influências deles mesmo contra sua vontade em busca da necessária governabilidade.
     Esse jogo de poder enraizado mostra que, apesar de ser a figura política mais importante do país, Dilma, como qualquer outro presidente, precisa aceitar o fato de que não manda sozinha. Seu grande erro, talvez, tenha sido cometido há quatro anos quando considerou viável seu nome à sucessão de Lula.


                                                               Mattheus Reis

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

O gol contra do Grêmio

                                                     Indignação e omissão

     Com uma atuação envolvente de seus jogadores, o Santos venceu por um placar de 2 a 0, em Porto Alegre, o Grêmio na partida de ida das oitavas de final da Copa do Brasil, resultado que encaminhou bem a classificação da equipe paulista à próxima fase da competição. É uma pena, porém, que os gols e jogadas de Robinho e cia. tenham sido ofuscados mais uma vez pelo racismo. A vítima do mais recente episódio do tipo foi o goleiro santista Aranha. Sua revolta, ainda em campo, diante dos xingamentos mostrou o quanto a discriminação racial pode ferir o moral de um ser-humano. Sua reação instantânea de orgulhar-se por ser negro tentou ser um escudo contra uma metralhadora de ofensas verbais vindas da torcida adversária.
     Oito casos de racismo, que repercutiram com maior impacto na mídia, foram registrados no futebol brasileiro durante esses nove meses de 2014. Três deles ocorreram no Rio Grande do Sul, dentre os quais em dois envolveram-se torcedores gremistas. O Grêmio foi o último dos grandes clubes do país a admitir atletas negros em seus elencos. Além disso, uma de suas torcidas organizadas possui influências ideológicas neonazistas. A conivência por parte da diretoria do clube ainda a mantém livre para transitar nos estádios.
     Historicamente, a formação cultural - que foge um pouco da do restante do Brasil - e o menor grau de miscigenação da população gaúcha são fatores contribuintes desse maior grau de intolerância apresentado pelas minorias tanto de gaúchos quanto de torcedores do clube, o que não justifica, por sua vez, um comportamento tão bárbaro e que não é exclusivo daquele estado. Em outras partes do país e do mundo, sobretudo na Europa, o racismo está presente, caracterizando, sem surpresas, um problema universal.  
     Esse triste acontecimento é mais um exemplo e também, por outro lado, uma oportunidade para que punições sejam aplicadas e atitudes como essas não se repitam. O início de uma mudança verdadeira começa na educação e civilidade da sociedade. Ao mesmo tempo que condenamos ofensas racistas, quando presenciamos cenas semelhantes as que ocorreram na Arena do Grêmio deixamos o silêncio imperar na maioria das vezes. Não temos coragem para apontar o dedo e culpar quem está errado. Eu, autor deste texto para você, leitor, confesso que já me omiti e não encontrei até hoje o porquê de tanta hesitação em fazer justiça. Na maioria das escolas, o assunto não é profundamente debatido: em 12 anos de estudos durante os ensinos fundamental e médio, não me recordo de ter assistido a uma aula específica sobre o racismo, suas causas, consequências e o quão insistente é a sua presença no cotidiano.
     O esporte é um dos poucos meios pelos quais é possível reunir negros e brancos, ricos e pobres em condições de igualdade.  O futebol, especificamente, é a principal forma de confraternização entre os povos e um poderoso meio de divulgação de campanhas anti-discriminatórias por sua popularidade, por ser o mais praticado e assistido das modalidades esportivas. Os estádios não podem ser palco de ofensas racistas, homofóbicas e brigas generalizadas.  Ainda mais no Brasil, cuja população encantou estrangeiros com simpatia e receptividade durante a Copa do Mundo de 2014.



*Veja uma entrevista de Aranha após sofrer discriminação racial. 


http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2014/08/eu-tenho-do-dela-diz-goleiro-aranha-sobre-jovem-que-o-ofendeu-em-jogo.html


http://br.reuters.com/article/sportsNews/idBRKBN0GY2M320140903                               


                                                           Mattheus Reis

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Aparente fim

                                                                   A paz virá ?


     Depois de 50 intermináveis e violentos dias para israelenses e habitantes da Faixa de Gaza, o anúncio da assinatura entre representantes de grupos extremistas palestinos e do governo de Israel, na última terça-feira, de uma trégua no mais recente conflito entre as partes trouxe, por pelos menos 30 dias, a paz esperada com ansiedade por ambos os lados. Os assassinatos de 3 jovens israelenses e a posterior morte de um também jovem palestino foram o estopim para o tremor na volátil relação entre os, assumidamente, inimigos. Crianças e pessoas inocentes, sem qualquer ligação com a guerra, morreram em maior número assim como foi grande a destruição causada pelos mísseis, estrelas cadentes ao avesso, que cruzavam os céus a cada momento de um lado para o outro da fronteira.
     São recorrentes esses sangrentos conflitos que se arrastam desde o século XX, quando da criação do Estado de Israel. Os palestinos foram obrigados, em sua maioria a se reassentarem em porções menores de terra, menos férteis e com escassos recursos de água. O não reconhecimento do Estado da Palestina aflora o ódio e a inserção nesse contexto de grupos terroristas, como o Hamas e a Jihad Islâmica, agrava a situação já marcada pela tensão constante no cotidiano no cotidiano da população local.
     Nesse último embate, encerrado temporariamente pelo cessar-fogo, registraram-se 2140 mortes de palestinos - a maioria deles civis - e de 70 judeus, sendo 67 militares e apenas 3 civis. Tal desproporcionalidade, resultante da superioridade do exército israelense, um dos mais equipados do mundo, gerou fortes críticas ao governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Israel tem direito a se defender das células terroristas presentes em Gaza e que, de fato, constituem uma real ameaça ao seu povo, porém, a princípio, o exército israelense, não se preocupou devidamente em realizar ataques precisos aos locais onde se localizavam os postos de comando extremistas, o que ficou evidente com o bombardeio de uma escola da ONU lotada de refugiados, cujas casas haviam sido também indevidamente destruídas, provocando inúmeras mortes. Isso caracteriza genocídio entre outras violações de guerra.
      A próxima rodada de negociações acontecerá no prazo de um mês no Cairo. O tema mais polêmico a ser discutido é a construção de um porto e de um aeroporto em Gaza, proposta contrária aos interesses do governo Israelense, cujo temor é o da entrada facilitada e clandestina de armas fornecidas ao Hamas caso tais obras saiam do papel,
      Embora tenha sido importante, a assinatura do cessar-fogo está bem longe de ser a solução para a paz definitiva, até agora não alcançada em momento algum nesses 66 anos desde a criação de Israel. Apesar de ferir o patriotismo judeu, a necessidade do reconhecimento da Palestina como Estado autônomo é fundamental para ser iniciada uma trégua permanente, mútua. E, mesmo assim, não se pode assegurar com certeza que a região será, realmente, uma "Terra Santa" porque o antissemitismo pregado pelo Hamas continuará vivo, porque o Estado de Israel estará, ali, ao lado, a poucos quilômetros de distância. O radicalismo existe dos  dois lados e uma faísca é capaz de explodir um paiol de intolerância e discórdia, como há 50 dias. 

                                                          
Leia mais sobre o assunto!
http://lounge.obviousmag.org/promiscuidade_artistica/2014/05/a-arte-das-criancas-palestinas-da-faixa-de-gaza.html
                                                   Mattheus Reis  

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Sua cor, sua sentença?

                               Não há apenas um Michael Brown.
 


     A morte de mais um jovem negro impulsionou uma escalada de violência e tensão nos EUA. A cada episódio do tipo que se sucede, a sociedade americana ensaia dividir-se como no período da segregação durante a primeira metade do século XX. Michael Brown, de 18 anos, levou seis tiros de um policial da cidade de Ferguson, no estado de Missouri, na semana passada. O caso é controverso e ainda não foi totalmente esclarecido se a atitude do policial foi adequada ou não às circunstâncias, porém a indignação e a revolta já se abateram sobre a população local, majoritariamente negra, contra a polícia de Ferguson, cujos agentes são, sem exceção, todos brancos.
     Antes de ser abordado pelo policial Darren Wilson, Michael Brown assaltara uma loja de conveniências. Pode-se afirmar isso já que câmeras de vigilância flagraram o crime. Entretanto, Wilson declarou que o abordou sem saber da ocorrência desse assalto. As dúvidas surgiram pois as investigações ainda não chegaram à conclusão se Michael atacou o policial e, por conta disso, foi alvejado, ou se houve um assassinato por Brown ser simplesmente negro. Até agora, a sociedade americana não tem uma posição definida sobre o que realmente aconteceu e espera uma apuração por parte das autoridades policiais conforme revelou pesquisa do jornal New York Times.
     Nos últimos dias, os protestos violentos e saques arrefeceram. Michael Brown tomou atitudes erradas. Todavia, a cada morte registrada de negros em circunstâncias parecidas, uma realidade nos EUA mostra a sua face mais nua e crua: o país recupera-se gradativamente da crise econômica de 2008 acompanhado de um crescimento da desigualdade social, sendo os negros os mais atingidos. Ferguson retrata em escala local um aspecto presente em quase todo território americano ao apresentar uma taxa de desemprego de 25% dos negros enquanto, na mesma cidade apenas 6% dos brancos não possuem emprego. O surgimento de "Michaels Browns" é uma triste consequência em um meio onde escassas oportunidades de emprego e de educação de qualidade são oferecidas por conta do preconceito.
     Assim como no Brasil, a superação da discriminação nos EUA, após séculos de escravidão, é um processo difícil, que durará longos anos mesmo com a adoção de práticas socioeducativas de inclusão e de combate à marginalização dos negros. No caso americano especificamente, houve o agravante da segregação racial legitimada pelo governo e semelhante à imposta pelo Apartheid, na África do Sul, e que só foi derrubada pelos esforços até hoje reconhecidos de Martin Luther King Jr. no final da década de 1950.
     A eleição de Barack Obama, em 2008, como chefe da maior potência mundial é um símbolo da capacidade dos negros de irem além e serem bem sucedidos apesar das dificuldades. Obama tem enfrentado, de fato, muitos problemas tanto internamente quanto na geopolítica e diplomacia internacional. O racismo é um deles e, por ser o primeiro presidente negro da história do país, ele precisa ser mais incisivo e tentar, pelo menos, iniciar uma mudança na relação conflituosa entre brancos e negros.
 
Leia mais sobre o assunto!
http://www.dw.de/entenda-o-caso-michael-brown-e-os-protestos-em-ferguson/a-17861142

                                                                   Mattheus Reis

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Voo fatal

                                  Tempo: um grande inimigo



     O fatídico acidente aéreo ocorrido em Santos (SP) envolvendo a comitiva de Eduardo Campos, que vitimou o ex-governador de Pernambuco e alguns de seus assessores chocou o Brasil. Pela primeira vez um candidato ao Planalto morre em plena campanha na história do país. Eduardo Campos pertencia a uma família de renomado prestígio político. Seu avô, Miguel Arraes, também foi governador de Pernambuco e um artífice de significativa importância do processo de redemocratização pós-ditadura. Tendo Arraes como principal cabo eleitoral, ascendeu à política e realizou um bom trabalho, com alta aprovação popular, à frente de seu estado natal. A relação entre avô e neto foi estrita, tanto que o destino reservou a mesma data - 13 de agosto - como o último dia de suas vidas. Exatamente 9 anos após o falecimento de Arraes, Campos também faleceu.
     Eduardo Campos estava em seu auge na carreira política. Após ser ministro de Lula em seu primeiro mandato e governador, decidiu trilhar caminhos próprios depois de um ótimo desempenho de seu partido, o PSB, nas eleições municipais de 2012. Se afastou da influência do petismo e, ao oficializar sua candidatura à presidência, passou a ter Dilma e Lula como adversários. O intuito do PSB, em 2014, era apresentá-lo nacionalmente como um candidato forte e alternativo à bipolarização da disputa entre PT e PSDB, que governa o Brasil há 20 anos e gradativamente provoca uma rejeição por parte da população, expressa em pesquisas de opinião.
     Nesse contexto de tristeza e comoção, é evidente que a política ocupa um patamar secundário, mas deve-se destacar a necessidade do partido de Campos correr contra o tempo para definir o seu futuro já que, em 10 dias, precisará anunciar um novo candidato caso desejar manter-se nas eleições presidenciais. Marina Silva, até então vice de Eduardo, pode assumir a vaga de titular na chapa, em um caminho visto por analistas como natural e bem provável de acontecer. Ela teria de volta a chance que lhe foi tirada quando o Tribunal Superior Eleitoral impediu, no fim do ano passado, a criação de seu partido, a Rede Sustentabilidade.
     Essa questão poderá influir diretamente no cenário eleitoral. Caso o PSB saia da disputa, Dilma e Aécio brigariam por votos preciosos e o tucano, em tese, seria o mais beneficiado pois, historicamente, a maioria dos votos dos candidatos oposicionistas não migram para aqueles que buscam a reeleição. Ao mesmo tempo, Marina Silva, se optar por seguir adiante, pode, inclusive, obter mais votos por ser mais conhecida e vista pela população como leal aos seus ideais, o que embolaria de vez a disputa, indo provavelmente para segundo turno. Todas essas suposições são viáveis, porém com o início dos debates e do horário eleitoral obrigatório no rádio e na TV, o panorama pode mudar.
     A manutenção de uma terceira opção na disputa presidencial seria importante a fim de que o debate de ideias seja enriquecido, favorecendo, assim, o fortalecimento da democracia. Por esse e por outros motivos específicos, a união de Campos e Marina se concretizou de forma tão rápida. O ex-governador atrairia mais votos e sua vice permaneceria na corrida ao Planalto. Um apoio mútuo. A "chapa de terceira via" começou a ganhar força com a própria candidatura de Marina em 2010 pelo Partido Verde e Eduardo Campos, em tese, daria continuidade a essa visão em 2014.
     Cabe agora, após a tragédia, às autoridades policiais e de aviação apurar as possíveis causas do acidente, sejam elas humanas ou mecânicas. O fato de um dos pilotos ter declarado cansaço antes do voo fatal pode ser relevante na investigação assim como a análise da caixa-preta do avião. O modo de vida da sociedade no século XXI, aceleradíssimo, implica direta e indiretamente no ritmo de campanha dos políticos. São muitos compromissos em diversas partes do Brasil - o 5º maior país em dimensões territoriais - na caça incessantes aos votos, uma obsessão que pode cegar. A máxima "Não há tempo a perder" é regra e isso, em alguns momentos, permite erros e falhas responsáveis até por tirar a vida de pessoas, como a de Eduardo Campos e de outras 6 pessoas.


*Veja uma das últimas entrevistas de Eduardo Campos, concedida ao Jornal Nacional, da Rede Globo
                                                   Mattheus Reis

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

A volta fulminante do Ebola

                                                           Perigo letal


     Serra Leoa, Guiné e Libéria, países localizados na costa ocidental do continente africano, são o epicentro de uma nova epidemia de Ebola. Após 38 anos, uma das doenças mais mortais da atualidade volta a assombrar uma população extremamente carente e com poucas forças para lutar contra um vírus tão difícil de ser combatido. Os sintomas, como febre, irritações na pele e na garganta e dores fortes no corpo, quando contraídos na região, fazem aumentar a preocupação de ONGs e das autoridades locais em isolar ao máximo possível os pacientes a fim de evitar novas contaminações.
     Isso porque o contágio se dá facilmente por fluidos corporais, como o suor e a saliva, afetando inclusive médicos responsáveis por atender as vítimas. Em 1976, a comunidade científica soube pela primeira vez da existência do vírus quando o primeiro surto, ocorrido no Congo, causou uma grande quantidade de mortes que, porém, já foi superada pela epidemia iniciada no fim do ano passado e que no primeiro semestre de 2014 atingiu o seu ápice. Até agora, registraram-se cerca de 1500 casos, dentre os quais aproximadamente 800 mortes foram confirmadas nos três países, o que caracteriza um índice de mortalidade superior a 50%.
     Outros surtos e epidemias frequentemente assolam a África subsaariana. Malária, Cólera e Poliomelite são as mais recorrentes e as responsáveis por inúmeras mortes. As condições sanitárias e estruturais precárias, nesses países, contribuem para o alastramento de doenças já erradicadas em outras partes do mundo. O Ebola emerge novamente sob o mesmo contexto: Serra Leoa, por exemplo, apresenta um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano do mundo.
     A ajuda humanitária está efetivamente presente, sendo ela imprescindível. Todavia, os relatos de que o vírus se alastra mais rapidamente do que o seu combate se transformaram em um apelo por socorro. Estratégias mais elaboradas devem ser traçadas entre as ONGs, as autoridades locais e a Organização Mundial de Saúde para que sejam intensificados o suporte médico às áreas de difícil acesso, a descontaminação de locais públicos e a chegada de recursos que melhorem a estrutura para o tratamento de doentes em um esforço coletivo a fim de que o Ebola não cause tantas mortes.   



Saiba mais sobre o assunto!

http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2014/08/zh-explica-o-que-e-o-virus-ebola-que-deixou-mais-de-700-mortos-na-africa-4565742.html


                                               Mattheus Reis














segunda-feira, 28 de julho de 2014

Conquistas e desafios

                                  A luta continua contra o HIV


     Relatório da entidade das Nações Unidas responsável pelo combate a AIDS, Unaids, revelou, nos últimos dias, um resultado positivo acerca do controle da doença. O número de infecções no mundo vem caindo ao longo dos últimos anos. O acesso a tratamentos adequados está progressivamente alcançando as parcelas mais pobres nos países mais necessitados de suporte médico vindo do exterior assim como é notória, apesar de gradual, a evolução de medicamentos mais eficazes e menos colaterais aos pacientes.
      Vem do continente africano, sobretudo da sua porção subsaariana, o resultado mais expressivo. A região mais pobre do mundo registrou significativa queda na quantidade de casos de AIDS. O trabalho desenvolvido tanto pela ONU quanto por ONGs como a "Médicos sem fronteiras" é imprescindível na contenção da epidemia da doença e na redução de mortes. Quem ainda carece de todo esse suporte é a população de sudeste asiático, também extremamente pobre, em sua maioria, e desinformada sobre os perigos oriundos da contaminação.
      Entretanto, no caso específico do Brasil, os dados sobre o país foram desapontadores. Na contramão, o Brasil, segundo o mesmo relatório, elevou sua taxa de incidência em 11%, a maior da América do Sul. Especialistas supõem uma redução da importância do tema entre jovens e homossexuais: A evolução e a eficácia do tratamento camuflam o temor da contaminação, alvo de histeria quando da descoberta do vírus HIV em meados dos anos 1980. Quanto ao grupo "GLBT", o engajamento em questões como elaboração de leis anti-discriminatórias e conquistas civis, como a união homoafetiva, podem estar desviando o foco em relação a AIDS.
      As campanhas de conscientização são rotineiras nas cadeias de rádio e televisão no Brasil, mas é preciso empreender novos esforços. Aulas e palestras sobre educação e saúde sexual nas escolas da rede pública são algumas das medidas que poderiam ser tomadas pelo governo, em suas esferas de poder, e que já estão em vigor em alguns países.
      Na última semana, aconteceu a 20ª Conferência anual sobre a AIDS na cidade de Melbourne. Cientistas, ativistas e outros analistas discutiram os avanços ratificados pelo relatório divulgado pela Unaids e estratégias que deem continuidade a este progresso, melhorando o acesso a prevenção, diagnóstico e tratamento, tarefas que se tornaram mais difíceis, todavia, devido à tragédia que abateu muitas esperanças e expectativas com a queda, na Ucrânia, de um avião da companhia Malaysia Airlines, onde estavam conceituadíssimos cientistas especializados em AIDS a caminho da reunião na Austrália.

*Leia mais sobre o tema!

                                                                  Mattheus Reis

terça-feira, 22 de julho de 2014

Nova chance

                                          Vale a pena ver de novo?


     As vaias da torcida após o término da disputa pelo 3º lugar da Copa do Mundo, em Brasília, puseram fim a uma participação melancólica da seleção brasileira neste 20º mundial. Da grande expectativa criada antes da bola rolar em São Paulo, no dia 12 de junho, à completa frustração com a derrota por 3 a 0 para a Holanda. Os 200 milhões de brasileiros sentiram todas as emoções que uma Copa do Mundo pode proporcionar: a imensa aflição causada pela vitória obtida somente depois dos pênaltis contra o Chile, a dor em nossas costas causada por um golpe desleal do colombiano Zúñiga, que tirou Neymar e boa parte das nossas esperanças no hexa, e a perplexidade do massacre alemão nas semifinais. O Brasil, com seu time, deveria honrar sua tradição pentacampeã e buscar o 3º lugar. Todavia, como a cultura brasileira costuma honrar somente o primeiríssimo, um prêmio de consolação não possui importância alguma por aqui.  
     E essa foi a tônica do time que foi ao gramado do Estádio Nacional Mané Garrincha para encerrar sua participação, que, na verdade, havia terminado na terça-feira anterior, em Belo Horizonte, naquela que deveria ser a sua Copa, com o país do futebol campeão em seus domínios, no templo maior do esporte mais popular do mundo.
     Foi evidente a dificuldade ofensiva da equipe. A percepção de que a seleção dependia de Neymar era uma verdade universal, porém nem todos estavam cientes da fragilidade do meio-campo. Um time que não encantou e empolgou como na Copa das Confederações no ano anterior, torneio que mais uma vez nos iludiu: Copa do Mundo é outro assunto, é mais competitiva e não se pode comparar tais competições, o que foi feito insistentemente pela imprensa nacional. A receita para o hexa, de fato, era repetir as atuações de junho do ano passado, mas isso mais pressionou do que ajudou os jogadores brasileiros. 
     Por poucas vezes, uma lista de convocação para a Copa do Mundo sofreu tão poucas críticas e rejeições como essa última. Apenas 1 ou 2 nomes foram contestados. Adriano, Ganso, Alexandre Pato, Kaká e Robinho eram outros nomes que poderiam figurar entre os selecionados caso correspondessem às expectativas, em algumas ocasiões superestimadas, criadas em torno deles. Entretanto, cada um por motivos específicos, ficaram pelo meio do caminho, prejudicando consideravelmente a qualidade técnica da seleção. Olhos brilhavam ao verem, no Santos, uma orquestra regida por Ganso e Neymar. Por que só um deles "chegou lá"?
     Ontem, foi anunciada a volta de um velho conhecido da torcida ao comando desta seleção abatida. Dunga terá uma nova oportunidade para se redimir dos erros em sua primeira passagem. Erros que vão desde o conflituoso relacionamento com a imprensa à preparação da equipe em uma Copa do Mundo. Travar guerra contra a mídia é enfrentar como consequências o crescimento de sua rejeição, já elevada, e críticas sensacionalistas e injustas. Além disso, não é necessário enclausurar os atletas, como foi feito em 2010, a fim de conquistar bons resultados. Comprometimento é fundamental, porém Alemanha e Holanda - campeã e 3º lugar, em 2014, respectivamente - flexibilizaram suas preparações ao permitirem aos jogadores passearem e estarem próximos a suas famílias, o que, provavelmente, trouxe mais tranquilidade e bem-estar a atletas tão pressionados.  
     Para muitos analistas, o retorno de Dunga era inesperado até o momento no qual veicularam-se os primeiros rumores. A princípio, Tite ou outro renomado treinador estrangeiro eram vistos como melhores opções. Entretanto, apesar do fracasso na África do Sul, os títulos da Copa América, em 2007, da Copa das Confederações, em 2009, além da antecipada classificação nas eliminatórias comprovam um bom desempenho de Dunga como treinador. Caso mude alguns de seus conceitos e tenha a mesma garra da época de jogador, o capitão do tetra pode reescrever sua história na seleção brasileira com mais uma bela conquista, na Rússia em 2018.   

                                                               Mattheus Reis
    

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Novos descobridores

A Copa do Mundo é o maior espetáculo da Terra. Por isso, você, leitor, lerá duas postagens sobre o torneio que chegou ao fim após 31 dias de um futebol jogado em altíssimo nivel e há muito tempo não visto nos mundiais. Esta abordará uma visão geral da Copa e da conquista alemã e outra analisará a participação melancólica da seleção brasileira em mais uma empreitada mal-sucedida de conquistar o hexacampeonato.

                                                       Os dois campeões

    O Maracanã foi palco de uma grande final entre Alemanha e Argentina na noite de ontem. De um lado, os comandados de Joachim Löw, cientes do favoritismo e da qualidade do time, mas que sabiam da necessidade do título para a confirmação das expectativas criadas em torno deles. A Argentina, por sua vez, impulsionada pela rivaliade acirrada entre os dois países nos mundiais anteriores confiava e dependia de Lionel Messi, que não decepcionou, porém não encontrou  forças para lutar contra 11 craques. A Alemanha redescobre a América ao ser o primeiro país europeu a vencer uma Copa disputada no continente.
     A presença carismática e o engajamento social do time alemão no Brasil já foram suficientes para que eles merecessem o tetracampeonato após 24 anos de jejum. A 20ª Copa do Mundo da FIFA foi especial não só pela conquista mas pelo fato de os 23 convocados aprenderem e evoluírem como seres-humanos e cidadãos. A interação com comunidades indígenas locias, a doação de cerca de R$ 30.000,00 para a compra de uma ambulância e as construções de uma escola e do próprio resort onde ficaram hospedados no litoral baiano - o que gerará empregos à população local - serão lembranças marcantes e permanentes da passagem campeã  da Alemanha por Santa Cruz Cabrália.
     Além disso, a preparação de longo prazo adotada pela administração do futebol alemão o credenciou para a consagração no Brasil, que já poderia ter acontecido se a Alemanha não fosse eliminada nas semifinais em 2006 e 2010. A formação de jogadores e técnicos bem como  o gerenciamento do campeonato nacional são de excelente qualidade, propiciando, assim, o sucesso de times como o Bayern de Munique e de craques em todas as posições. De Manuel Neuer, eleito o melhor goleiro desta Copa, a Klose, centroavante e novo detentor do recorde de maior artilheiro das Copas do Mundo, com 16 gols marcados, além de Mario Götze, primeiro reserva a decidir uma final na história da competição: essa é a nova cara da Alemanha, exemplo de que a coletividade se sobrepõe ao talento individual no futebol. Por mais que seja um gênio, Messi, caso saísse vitorioso, ontem, transformaria o futebol em algo menos prazeroso.
     Nós, brasileiros, sonhávamos com a tão aguardada conquista do "hexa". Entretanto, apesar da eliminação da seleção brasileira nas semifinais, devemos estar orgulhosos, pois também fomos campeões já que transmitimos à mídia e à comunidade internacional uma imagem positiva. Não houve milagres, como muitos afirmaram. Erramos em aspectos como a limpeza urbana e não entregamos a tempo obras previstas. Todavia, nos empenhamos ao máximo para acolher turistas da melhor forma possível e o que tivemos a oferecer em termos de infraestrutura foi aquém do esperado, porém suficiente para realização de uma grande copa, que poderia ser melhor ainda. Nota: 8,5.
     As falhas de agora não podem se repetir em 2016. Temos condições de realizar outro grande evento esportivo que contagie o mundo. Precisamos dar cada vez mais importância à construção de um legado que beneficie as cidades sedes. Por outro lado, é evidente o sentimento de saudade. Durante 30 dias, torcemos e curtimos a nossa Copa. Os jogos emocionantes e a atmosfera trazida pelos turistas farão falta. A Alemanha venceu a Copa do Mundo de 2014 e os brasileiros foram campeões de alegria e simpatia. Provavelmente, devido à boa impressão que surpreendeu o mundo e a cúpula da FIFA, não precisaremos esperar tantos 64 anos para sentir a emoção de ver os maiores craques do futebol mundial em gramados brasileiros novamente!

Leia mais sobre a Copa do Mundo da FIFA
http://oglobo.globo.com/esportes/copa-2014/em-balanco-da-copa-valcke-isenta-fifa-de-culpa-no-escandalo-dos-ingressos-13252446
http://oglobo.globo.com/esportes/copa-2014/proxima-sede-da-copa-russia-admite-desafio-de-reproduzir-atmosfera-do-brasil-13245830

* Veja 10 imagens marcantes da Copa de 2014
http://oglobo.globo.com/esportes/momentos-marcantes-da-copa-no-brasil-13251329


                                                                Mattheus Reis   

segunda-feira, 30 de junho de 2014

País sem dono

                                                             Iraque rachado


Nesta terça-feira, supervisores de Direitos Humanos da ONU alertaram para o possível risco de genocídio que enfrenta a minoria religiosa yazidi, no Iraque. Na foto, uma mãe e seus filhos caminham para fronteira com a Síria Foto: STRINGER/IRAQ / REUTERS     O clima de aparente tranquilidade no qual vivia o Iraque desde a retirada das tropas americanas do país pelo presidente Obama, no fim de 2012, parece ter acabado. O terror e o medo, que antes podiam estar sendo represados seja pela censura ou pelos esforços das forças militares iraquianas, romperam o dique que os segurava. A possibilidade de uma guerra civil é grande em uma conjuntura na qual os dias de pouca paz que restavam no oriente médio podem ter terminado.
     Além dos conflitos entre judeus e palestinos, da guerra civil na Síria - que continua após 3 anos - e da crise política no Egito, um grupo ultrarradical está promovendo um choque de poder onde Saddam Hussein governou rispidamente por muito tempo. O grupo Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS, na sigla em inglês) está gradativamente tomando cidades importantes do Iraque e da Síria com o intuito de criar um novo país, regido pelo fundamentalismo islâmico.
     Fazem isso com o auxílio de grande arsenal roubado após inúmeras invasões aos quarteis das forças armadas iraquianas. Destituem lideranças locais e atemorizam a população com execuções sumárias de minorias não muçulmanas, vistas pelo extremistas como impuras. O grupo terrorista era vinculado à al-Qaeda, mas, posteriormente, tais laços foram cortados já que a al-Qaeda o considerou "radical demais". E esse é o fato que dá uma noção mais clara do que esse grupo é capaz: o mais conhecido grupo fundamentalista e autor de ataques suicidas horripilantes, como o do 11 de Setembro, reconhecendo a periculosidade de outro, menos conhecido, porém fiel aos seus dogmas ao extremo.
     Não é a toa que um grande contingente de soldados iraquianos desertou pelo temor de combaterem o ISIS, facilitando, assim, a sua propagação e o alastramento do terror no país. Sem segurança, inúmeras habitantes do norte do país estão deixando tudo para trás, em um grande êxodo, e partem para montanhas e locais mais seguros. Na Síria, o vazio de poder e o caos da guerra civil colaboram para a ação do grupo jihadista.
     Todo o caos que abala o Iraque, atualmente, comprova as falhas graves presentes no projeto de democratização forçada na região pelos E.U.A. Nouri al-Maliki, primeiro ministro, que chegou ao poder apoiado pelos americanos, com o intuito de liderar tal democratização, demonstra não ter força suficiente para recolocar seu país, ao mínimo, nos eixos. As forças militares iraquianas enfraqueceram-se após o fim do suporte financeiro e técnico dos E.U.A. Para não correr o risco de perder as eleições presidenciais de 2012, Obama reiterou a retirada das tropas americanas do Iraque. Essa e a reforma do sistema de saúde foram suas principais bandeiras de campanha. A saída dos soldados era necessária devido à rejeição da opinião pública com uma guerra sem vencedores e, sobretudo, cara. Todavia, poderia ter sido executada de uma forma mais gradual, que não deixasse o Iraque às traças, evitando, assim, o surgimento de radicalismos como o do ISIS.
     A guerra civil é uma preocupação cada vez mais latente por conta de um ultimato. O sheik xiita Ali al-Sistani, figura religiosa mais influente do país, intimou a população a se armar e a lutar contra o ISIS. Milhares deles já se uniram aos soldados iraquianos restantes. A população, de maioria xiita, contra o ISIS, de caráter sunita. Nessa terra, onde um sheik e um grupo terrorista possuem maior força do que um líder político, o futuro é tenebroso. 

Leia uma outra visão da nova crise do Iraque!

                                               Mattheus Reis