quinta-feira, 4 de setembro de 2014

O gol contra do Grêmio

                                                     Indignação e omissão

     Com uma atuação envolvente de seus jogadores, o Santos venceu por um placar de 2 a 0, em Porto Alegre, o Grêmio na partida de ida das oitavas de final da Copa do Brasil, resultado que encaminhou bem a classificação da equipe paulista à próxima fase da competição. É uma pena, porém, que os gols e jogadas de Robinho e cia. tenham sido ofuscados mais uma vez pelo racismo. A vítima do mais recente episódio do tipo foi o goleiro santista Aranha. Sua revolta, ainda em campo, diante dos xingamentos mostrou o quanto a discriminação racial pode ferir o moral de um ser-humano. Sua reação instantânea de orgulhar-se por ser negro tentou ser um escudo contra uma metralhadora de ofensas verbais vindas da torcida adversária.
     Oito casos de racismo, que repercutiram com maior impacto na mídia, foram registrados no futebol brasileiro durante esses nove meses de 2014. Três deles ocorreram no Rio Grande do Sul, dentre os quais em dois envolveram-se torcedores gremistas. O Grêmio foi o último dos grandes clubes do país a admitir atletas negros em seus elencos. Além disso, uma de suas torcidas organizadas possui influências ideológicas neonazistas. A conivência por parte da diretoria do clube ainda a mantém livre para transitar nos estádios.
     Historicamente, a formação cultural - que foge um pouco da do restante do Brasil - e o menor grau de miscigenação da população gaúcha são fatores contribuintes desse maior grau de intolerância apresentado pelas minorias tanto de gaúchos quanto de torcedores do clube, o que não justifica, por sua vez, um comportamento tão bárbaro e que não é exclusivo daquele estado. Em outras partes do país e do mundo, sobretudo na Europa, o racismo está presente, caracterizando, sem surpresas, um problema universal.  
     Esse triste acontecimento é mais um exemplo e também, por outro lado, uma oportunidade para que punições sejam aplicadas e atitudes como essas não se repitam. O início de uma mudança verdadeira começa na educação e civilidade da sociedade. Ao mesmo tempo que condenamos ofensas racistas, quando presenciamos cenas semelhantes as que ocorreram na Arena do Grêmio deixamos o silêncio imperar na maioria das vezes. Não temos coragem para apontar o dedo e culpar quem está errado. Eu, autor deste texto para você, leitor, confesso que já me omiti e não encontrei até hoje o porquê de tanta hesitação em fazer justiça. Na maioria das escolas, o assunto não é profundamente debatido: em 12 anos de estudos durante os ensinos fundamental e médio, não me recordo de ter assistido a uma aula específica sobre o racismo, suas causas, consequências e o quão insistente é a sua presença no cotidiano.
     O esporte é um dos poucos meios pelos quais é possível reunir negros e brancos, ricos e pobres em condições de igualdade.  O futebol, especificamente, é a principal forma de confraternização entre os povos e um poderoso meio de divulgação de campanhas anti-discriminatórias por sua popularidade, por ser o mais praticado e assistido das modalidades esportivas. Os estádios não podem ser palco de ofensas racistas, homofóbicas e brigas generalizadas.  Ainda mais no Brasil, cuja população encantou estrangeiros com simpatia e receptividade durante a Copa do Mundo de 2014.



*Veja uma entrevista de Aranha após sofrer discriminação racial. 


http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2014/08/eu-tenho-do-dela-diz-goleiro-aranha-sobre-jovem-que-o-ofendeu-em-jogo.html


http://br.reuters.com/article/sportsNews/idBRKBN0GY2M320140903                               


                                                           Mattheus Reis

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