sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Mancha negra na Petrobrás

                                                    Quem, de fato, manda.

      O ex-diretor da Petrobrás e um dos organizadores do esquema de corrupção que norteia a principal empresa estatal do país na atualidade, Paulo Roberto Costa, vem ao longo da semana detalhando aos investigadores da Polícia Federal e do Ministério Público toda a engrenagem montada para o desvio de dinheiro da empresa com o intuito de abastecer interesses individuais, como campanhas eleitorais de políticos aliados do governo e da candidata Marina Silva, entre outros. Ao ser detido e optar por esclarecer o escândalo em troca da redução da sua futura pena, Costa reforça a interferência política histórica em questões e setores fundamentais para o desenvolvimento do Brasil, quando a ética e o profissionalismo deveriam prevalecer.
      Em praticamente todos os governos, a política e a troca de favores atropelam o mérito e a capacitação de pessoas em cargos importantes em agências reguladoras, ministérios e estatais. A diferença se estabelece no grau dessa interferência, que, ao que tudo indica, se intensificou nos governos do PT por conta de questões ideológicas do partido como a oposição ao neoliberalismo em sua forma ampla. Porém, a intervenção estatal na economia e em outras áreas pode se transformar em um meio para a ocorrência de práticas ilícitas caso aliados mal-intencionados sejam indicados para cargos de confiança e não haja um forte controle de transparência.
      Os desvios de dinheiro na Petrobrás, além de outros problemas como os elevadíssimos e suspeitos custos das refinarias de Pasadena, no Texas, e Abreu e Lima, em Pernambuco, são responsáveis, mesmo que indiretamente, pela brusca queda do valor de mercado da empresa e pelo represamento de preços dos combustíveis, segundo analistas, causando impactos na inflação.
      Ao mesmo tempo, entretanto, privatizar empresas estatais pelo argumento da existência de focos de corrupção nelas não parece ser uma opção coerente porque ignora a ocorrência de práticas ilícitas também na iniciativa privada: as grandes construtoras são exemplo disso.
      Assim como não é coerente apontar uma só figura do governo como a responsável por todos os imprevistos que acontecem nele. Enxergo na presidenta Dilma Rousseff uma imagem comprometida e íntegra, mas que peca pela inexperiência, em algumas situações, e está sufocada por um sistema que prioriza os interesses individuais acima de tudo. Dilma exerceu os postos de ministra de Minas e Energia e da Casa Civil, porém, antes de 2010, não concorrera a nenhum cargo do Executivo ou do Legislativo. Por sua inexperiência, foi assessorada por aliados do governo anterior e, sem saída, precisou se submeter às influências deles mesmo contra sua vontade em busca da necessária governabilidade.
     Esse jogo de poder enraizado mostra que, apesar de ser a figura política mais importante do país, Dilma, como qualquer outro presidente, precisa aceitar o fato de que não manda sozinha. Seu grande erro, talvez, tenha sido cometido há quatro anos quando considerou viável seu nome à sucessão de Lula.


                                                               Mattheus Reis

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