Surpresa
aliada ao ineditismo. O primeiro Papa jesuíta, latino-americano e intitulado de
Francisco. Todas estes fatos proporcionaram o renascimento da esperança e do
otimismo em torno da eleição do cardeal argentino Jorge Mario Bergollio. Seu
semblante humilde, sereno e simpático contrasta com o luxo do
Vaticano: um choque de realidade que a cúria romana precisa após as impactantes
denúncias e afastamentos de clérigos supostamente envolvidos em escândalos
sexuais.
A eleição de
Bergollio ratifica a necessidade da Igreja em reforçar sua presença em regiões
menos assistidas e que registra grande perda de fiéis, como a América Latina, ainda
palco de grandes injustiças sociais e econômicas, além de ser o berço das nações
mais católicas do mundo: a brasileira e a mexicana.
O caráter
jesuíta do novo Pontífice reflete, a grosso modo, as tendências norteadoras de
seu papado. Ao ter como fonte inspiradora o grande mártir São Francisco de
Assis, Francisco intensificará a obra missionária aos pobres e perseguidos,
buscará a promoção dos direitos humanos principalmente em países onde o catolicismo
é alvo de preconceitos abertos, como a China, e tentará manter o principal
legado de seu antecessor, Bento XVI: o ecumenismo, fundamentado na aproximação
com outras religiões, sobretudo o islã. A unidade é a palavra de ordem.
A concretização desses objetivos
garantiria acima de tudo um mundo mais fraterno em um século marcado por
constantes desavenças e instabilidades. Desde o 11 de Setembro até a guerra
civil na Síria, atravessando as invasões ao Iraque e Afeganistão e a crise do
Euro.
Mesmo
intensas e abrangentes, as pressões da sociedade não devem alterar o caráter tímido
das transformações a serem feitas na ideologia da Igreja acerca de temas polêmicos.
A união homoafetiva, o uso de métodos contraceptivos e as pesquisas com
células-tronco são temas abordados de forma cética e ortodoxa. O
que, porém, não impede que certas liberalizações sejam estabelecidas, de acordo
com os princípios do Concílio do Vaticano II. "Foram achar no fim do mundo, talvez, uma voz de mudança".
Nunca antes o Brasil teve tantas possibilidades de ter um cardeal no comando da instituição mais sólida da história ocidental. A influência de Dom Odilo Scherer e a realização da Jornada Mundial da Juventude no Rio de janeiro, este ano, o colocou como um dos favoritos ao posto. Entretanto a figura de Francisco é mais coerente com a postura na qual a Igreja pretende adotar para se reerguer e estar mais presente com seus seguidores. A escolha foi correta. Conforme disse a presidenta Dilma Rousseff, se o Papa é argentino, Deus é brasileiro. A rivalidade existe até nos céus. É uma pena que não tenhamos um Messi jogando no nosso lado.
*Leia mais sobre a eleição de Francisco como o novo líder da Igreja Católica!
Mattheus Reis