domingo, 17 de março de 2013

Seu nome, seu destino

                                        O frisson de um tango no Vaticano

     Surpresa aliada ao ineditismo. O primeiro Papa jesuíta, latino-americano e intitulado de Francisco. Todas estes fatos proporcionaram o renascimento da esperança e do otimismo em torno da eleição do cardeal argentino Jorge Mario Bergollio. Seu semblante humilde, sereno e simpático contrasta com o luxo do Vaticano: um choque de realidade que a cúria romana precisa após as impactantes denúncias e afastamentos de clérigos supostamente envolvidos em escândalos sexuais.
     A eleição de Bergollio ratifica a necessidade da Igreja em reforçar sua presença em regiões menos assistidas e que registra grande perda de fiéis, como a América Latina, ainda palco de grandes injustiças sociais e econômicas, além de ser o berço das nações mais católicas do mundo: a brasileira e a mexicana.
     O caráter jesuíta do novo Pontífice reflete, a grosso modo, as tendências norteadoras de seu papado. Ao ter como fonte inspiradora o grande mártir São Francisco de Assis, Francisco intensificará a obra missionária aos pobres e perseguidos, buscará a promoção dos direitos humanos principalmente em países onde o catolicismo é alvo de preconceitos abertos, como a China, e tentará manter o principal legado de seu antecessor, Bento XVI: o ecumenismo, fundamentado na aproximação com outras religiões, sobretudo o islã. A unidade é a palavra de ordem.
      A concretização desses objetivos garantiria acima de tudo um mundo mais fraterno em um século marcado por constantes desavenças e instabilidades. Desde o 11 de Setembro até a guerra civil na Síria, atravessando as invasões ao Iraque e Afeganistão e a crise do Euro.
     Mesmo intensas e abrangentes, as pressões da sociedade não devem alterar o caráter tímido das transformações a serem feitas na ideologia da Igreja acerca de temas polêmicos. A união homoafetiva, o uso de métodos contraceptivos e as pesquisas com células-tronco são temas abordados de forma cética e ortodoxa. O que, porém, não impede que certas liberalizações sejam estabelecidas, de acordo com os princípios do Concílio do Vaticano II. "Foram achar no fim do mundo, talvez, uma voz de mudança".
     Nunca antes o Brasil teve tantas possibilidades de ter um cardeal no comando da instituição mais sólida da história ocidental. A influência de Dom Odilo Scherer e a realização da Jornada Mundial da Juventude no Rio de janeiro, este ano, o colocou como um dos favoritos ao posto. Entretanto a figura de Francisco é mais coerente com a postura na qual a Igreja pretende adotar para se reerguer e estar mais presente com seus seguidores. A escolha foi correta. Conforme disse a presidenta Dilma Rousseff, se o Papa é argentino, Deus é brasileiro. A rivalidade existe até nos céus. É uma pena que não tenhamos um Messi jogando no nosso lado.
     
 
*Leia mais sobre a eleição de Francisco como o novo líder da Igreja Católica!                      
 
 
                                                                       Mattheus Reis

sexta-feira, 8 de março de 2013

O último Libertador

                               O primeiro e último Chavista
 
      Na última terça-feira, a Venezuela amargou a perda do seu líder mais carismático. Órfã, a nação venezuelana está desamparada em um de seus momentos mais delicados, de grave crise financeira e explosão da violência urbana. Hugo Chávez quebrou o reinado de longa data das elites no poder para instaurar o seu, disfarçado de ares democráticos, que foi parado pelo câncer: o único adversário que o derrotou.
    Sua chegada à presidência marcou o início de uma intensa perseguição ao imperialismo econômico promovido pelos EUA na América Latina, alimentando o sentimento yankeefóbico em suas ideologias. Entretanto, sempre foi fã do baseball e exportou milhões de barris de petróleo para os norte-americanos. Pragmatismo ou reconhecimento de inferioridade?
     O grande mérito de sua gestão foi a retirada de milhões da pobreza extrema. Por mais clientelista que seja este programa assistencialista, garantiu desse modo três reeleições. Típico retrato da profunda frustração dos eleitores com os seus representantes interessados nos benefícios, e não nos deveres que o poder político acarreta. Chavez, assim representava a vingança dos oprimidos. Tal programa, míope, culminaria no caos econômico a partir dos anos 2010.  Entretanto, os votos eram imprescindíveis. A Revolução Bolivariana não podia parar e o povo estava feliz.
    A dependência extrema do petróleo, os elevados gastos com medidas assistencialistas e estatizações levaram o país a constantes blecautes energéticos, deficiências em infraestrutura, bem como desabastecimentos de alimentos e desenfreada inflação.
     Seu plano de governo contou com mentores emblemáticos da história latino-americana: Simón Bolívar, Fidel Castro e Vargas, por que não? A Venezuela teve um “pai dos pobres”. Além disso, o Chavismo consolidou-se como modelo político de exportação na região. Evo Morales e Rafael Correa são seus principais discípulos.
     Paradoxalmente, o Chavismo, mesmo que prevaleça através de violações constitucionais e vitórias eleitorais, está ameaçado. Esse é o preço a ser pago por um regime exacerbadamente personalista. A figura do comandante torna-se insubstituível. Embora Nicolás Maduro seja o favorito contra Henrique Caprilles no pleito a ser convocado, jamais poderá ser comparado ao antecessor e terá como carma a herança maldita de anos marcados pelo autoritarismo e imprudência na administração econômica. Para gerenciar o Chavismo, só Chávez e suas hábeis e geniais manobras. Nisso, ninguém era melhor do que Ele, aquele que foi capaz de colocar Deus em segundo plano na Venezuela.
 
* Veja as frases mais polêmicas e engraçadas de Hugo Chávez na Presidência Venezuelana.

* Veja um infográfico da historia de Chávez como líder Bolivariano.
http://oglobo.globo.com/mundo/algumas-das-frases-mais-polemicas-da-lingua-afiada-de-hugo-chavez-7750718


                                                  Mattheus Reis