terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Torneio de bárbaros

                                    Fatalidades não podem ser evitadas

    Em 2013, o esporte foi o tema mais abordado e discutido neste blog até agora. Devido às circunstâncias, todos os posts relacionados não abordam conquistas e recordes A magnitude da tragédia ocorrida no jogo entre Corinthians e San José, na cidade boliviana de Oruro, comprova mais uma vez os precários níveis de organização e de segurança dos campeonatos sul-americanos. A torcida fiel oscila entre a glória e o fundo do poço; Aquela que apoia em massa o time, no Japão e comete uma barbárie de grandes proporções.
     A morte do jovem Kevin Espada é um incidente longe de ser uma fatalidade. Por inúmeras vezes, a imprensa alertou e denunciou a volatilidade das torcidas e das partidas em torneios como a Libertadores da América. Problemas tratados, na maioria das ocasiões, de forma conivente pelas autoridades locais e do futebol. Não há a cultura de punições no futebol das Américas e isso, consequentemente, transforma-se em um passe livre para a repetição de tragédias do tipo. Uma morte; poderiam ser 100; a gravidade seria a mesma.
     Dentro desse cenário de tradicional omissão, o veto à torcida corinthiana aos jogos do time na competição é muito melhor do que nada, porém é uma medida muito paliativa, pouco conscientizadora, além de não ser justa por completo. O clube San José deveria ser punido, por ser o mandante da partida. A Federação Boliviana, da mesma forma, por ser a organizadora da partida e ter comprovado sua incapacidade para realizar tal tarefa. E a Confederação Sul-americana de Futebol por autorizar a entrada de instrumentos que provoquem ferimentos, como sinalizadores.
     A Libertadores é uma das competições mais disputadas no campo. O embate deve se resumir aos gramados. O recado é valido também para o Brasil, que às vésperas da Copa do mundo não pode ignorar o principal legado do evento: a consolidação de uma cultura de paz no futebol, fundamentada pela segurança dos estádios e pela educação dos torcedores.
    Sempre frequentei estádios com um misto de temor e tensão devido à violência. Os palcos do esporte mais popular e fascinante do mundo não podem se converter em verdadeiros calabouços onde as derramas de sangue sejam comuns e encaradas como meras fatalidades.
                                                               
                                                                    Mattheus Reis

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Uma luz que se apagou

                                     Era uma vez um rei
                    
    Ele tinha uma nação inteira como súdita. Para os sul-africanos, acima dele somente a figura singela, mas praticamente super-humana, do "Madiba" Nelson Mandela. Menos de um ano depois de seu apogeu, Oscar Pistorius está vendo seu sucesso e suas conquistas ruírem na mesma velocidade do tiro disparado que matou sua namorada e que deixará ferida, para sempre, a África do Sul.
    O supercampeão paralímpico comoveu o mundo, em julho de 2012, ao participar com atletas sem deficiência das provas de atletismo dos Jogos Olímpicos de Londres. Suas próteses de fibra de carbono reverteram um cético tabu: aqueles que afirmavam sua incapacidade em competir em alto nível passaram a cogitar prováveis vantagens obtidas pelo uso das próteses. Além de recordes, Oscar derrubou a desconfiança.
    O.J. Simpson, Tiger Woods, Bruno. Acusado formalmente por homicídio premeditado, Oscar Pistorius, tão quanto estes outros atletas mencionados, denigre sua carreira profissional por envolvimento em escândalos pessoais ou em crimes. Casos sem relação íntima com o esporte, porém que possuem o agravante de envolver não somente a ética, como pessoas e vidas.
    O assassinato de Reeva Steenkamp soma-se a outras 2488 mortes de mulheres e 200 mil ocorrências de agressões, raptos e estupros registradas nos últimos 7 anos; uma triste realidade da África do Sul. Diante deste cenário de violência, não serão as milhares de armas espalhadas pelas residências sulafricanas a solucionarem o problema da alta incidência de crimes enfrentado pelo país.
    Os super-heróis do século XXI, quando não estão vestidos com suas capas, se transformam em vilões frios e calculistas? É uma tendência surgirem vários “coringas” dentro do mundo esportivo? Cada vez que um ídolo perde seu trono de glória, um jovem apaixonado por esportes perde uma referência. Eu perdi uma. Uma que tinha suas próteses tão idolatradas quanto as chuteiras de um grande craque do futebol.  

*Leia mais sobre assunto!
                                                                 
                                                                   Mattheus Reis

sábado, 9 de fevereiro de 2013

O boom do Xisto

                                                    Herói ou vilão?
    Nos últimos anos, cresceu vertiginosamente a exploração de um recurso mineral não convencional. Para os que não sabem, o gás de xisto é a grande novidade energética da atualidade, cuja importância foi destacada pelo presidente americano Barack Obama, em seu discurso na posse de seu segundo mandato, podendo ser a solução para a autonomia das matrizes de inúmeros países.
     Brasil e Estados Unidos - donos de grandes reservas de xisto - estão apostando no novo recurso. Ambos buscam a menor dependência perante o petróleo de regiões como o Oriente Médio, marcado por instabilidades políticas que implicam diretamente no preço do combustível; algo já visto nas Crises do Petróleo durante a década de 1970.
     Além disso, os americanos visam, desse modo, a uma maior redução das emissões de gases do efeito estufa – promessa ainda não cumprida por Obama. O Brasil tenta aproveitar a oportunidade para aliviar a saturação da Petrobrás, que apresenta quedas na produção e registrou, em 2012 seu menor faturamento desde 2003.
     Se por um lado o gás de Xisto pode alavancar a economia de algumas nações, consequentemente, prejudicará os maiores produtores do brent, além de provocar um novo arranjo na geopolítica mundial a longo prazo. Os países árabes podem transformar um cenário de redução das exportações em maior dinamização da atividade econômica. Os conhecidos sheiks magnatas do petróleo não estariam sós no poder.
     Embora este momento de descoberta seja contagiante, a extração do recurso acarreta graves impactos ambientais, caso seja feita inadequadamente, já que envolve grandes quantidades de produtos químicos, o que coloca em risco lençóis freáticos e a biodiversidade local.
     Simultaneamente, o xisto trás consigo euforia e cautela. Uma provável solução alternativa ao uso da energia nuclear - em xeque desde o acidente de Fukushima no Japão. Entretanto, mesmo que em menores proporções, não deixa de ser um combustível poluente cujo fascínio imediato, por ser abundante e barato, pode cegar os chefes de estado, a ponto de retardarem o desenvolvimento de fontes limpas de energia. O início da corrida pela segunda independência, a energética, não deve ser um retrocesso, melancólico, da corrida para salvar a Terra.   

* Leia mais sobre o gás de Xisto!

                                                                Mattheus Reis

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

"Super" até no nome

                                             Muito além de uma partida
 
 O próximo dia 03 de fevereiro será de muitas emoções e expectativas para os fãs da bola oval. San Francisco 49ers e Baltimore Ravens disputarão o título da 47ª edição do Super Bowl na cidade de Nova Orleans. A final da liga nacional de futebol americano (NFL) não envolve apenas os dois melhores times em busca da glória. Ao contrário, o espetáculo, marcante no evento, em certos momentos, ofusca o convidado de honra desta festa americana: o esporte. 
    De fato, a decisão de Domingo levará a campo franquias que foram merecedoras de fazê-la.  Embora o esporte circunstancialmente não premie o melhor ou o mais dedicado, ambos são dignos de serem os finalistas. Um time que encanta com suas jogadas contra aquele marcado pela constância, pela presença frequente nos playoffs. San Francisco e Baltimore não podiam faltar, de maneira alguma, neste show.
    O Super Bowl será especial para uma família, especificamente. Os irmãos Jim e John Harbaugh – técnicos dos 49ers e dos Ravens, respectivamente - estarão em lados opostos. Somente um deles será coroado; motivo, entretanto que não tirará a felicidade da família Harbaugh. A genética, sem dúvida, estará em campo, já que as duas equipes possuem estratégias de jogo semelhantes. Mais um fator preponderante para o equilíbrio.
    A história dos Super Bowls desmente, em certas oportunidades, o favoritismo presente nas especulações pré-jogo. Entretanto, poucas ressalvas são feitas pela imprensa esportiva acerca da mínima vantagem exercida por San Francisco sobre Baltimore. Tal margem deve-se a magistral temporada do quarterback Colin Kaepernick. Os 49ers, agora, possuem “o ás para dar a cartada final” - e, desse modo, igualarem-se ao Pittsburgh Steelers, como o maior vencedor da história com 6 títulos - diferentemente da última temporada, quando a vaga para final ficou a um passo da concretização, após a derrota para o New York Giants na final da Conferência Nacional.
    Todavia, este fato não rebaixa o adversário a mero coadjuvante, muito menos a ponto de ser considerado um provável “azarão”. A vantagem servirá apenas de falso parâmetro para os insaciáveis apostadores, ainda mais quando os Ravens buscam proporcionar um fim de carreira glorioso à lenda do time: oscilando entre acusações criminais e grandes atuações, Ray lewis, o melhor defensor da história da NFL, se aposentará após a decisão.
    Cerca de R$ 8 milhões de reais pagos por 30 segundos de comerciais, o maior consumo de comida em um único dia no mundo, show da célebre cantora Beyoncé no intervalo: são algumas peculiaridades que circundam o campeonato mais valioso do mundo em seu dia de gala. Não é a toa que um evento tão grandioso tenha em seu nome a palavra “super”. Caso contrário, qual sentido teria?  

* Assista ao Super Bowl a partir das 20:30 Hs de domingo nos canais ESPN e Esporte Interativo!

                                                             Mattheus Reis