quarta-feira, 27 de maio de 2015

Hora da limpeza

                                                     A maior vítima



Em xeque: será esta a sombra da
 corrupção que paira sobre a FIFA?
       O mundo do futebol recebeu nas primeiras horas de hoje a notícia da prisão de importantes dirigentes da FIFA, entidade responsável pela promoção e administração do esporte mais popular e praticado do planeta. A procuradoria-geral dos EUA acusa os 7 dirigentes detidos - dentre eles o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol, José Maria Marin - de participação em esquemas de corrupção que envolvem desde a sonegação de impostos ao recebimento de propina com o intuito de favorecer as candidaturas que acabaram sendo vitoriosas de Rússia e Qatar para sediar os próximos mundiais em 2018 e 2022. Não deixa de ser lamentável a cada vez maior percepção de que um dos principais elementos para a harmonia entre os povos está profundamente contaminado por fraudes e interesses que nada têm a ver com os princípios desportivos.
       Al Capone era um dos mais temidos nomes da máfia em Nova York no início do século XX. Praticamente todos sabiam de suas atividades ilícitas, principalmente aquelas relacionadas ao contrabando de bebidas alcoólicas em uma época em que seu consumo era proibido nos EUA. Mesmo assim, Al Capone foi preso muitos anos depois já que raramente deixava provas e rastros contra si, sem contar os acordos com autoridades policiais que jogavam tudo "para debaixo do tapete". O lado obscuro da história da FIFA não é muito diferente: encontraram-se os tão raros rastros e a justiça americana pôde, então, agir.
       Segundo os investigadores do FBI, isso aconteceu porque um dos membros do comitê executivo da entidade, o americano Chuck Blazer, também acusado no inquérito, optou por contar detalhes do suposto "padrão FIFA" de corrupção, que pode estar operando há pelo menos 20 anos. As justiças americana e suíça puderam iniciar investigações já que tantos bancos americanos quanto suíços foram utilizados para transições financeiras fraudulentas.
       Os EUA têm, mesmo que indiretamente, exercido um papel importante em relação ao futebol ultimamente. Não estão apenas investindo no fortalecimento do campeonato nacional local, a Major League Soccer, como também deram o passo inicial para uma ampla "faxina" na FIFA e em outros órgãos e confederações em prol de políticas e negócios mais honestos caso as investigações se aprofundem. Indícios de corrupção e violações aos princípios do esporte também pairam sobre a Conmebol, responsável pela gestão do futebol sul-americano, e a CBF não é de hoje.
       A CBF há anos é constantemente criticada por práticas autoritárias e pouco transparentes, sendo comandada por um grupo que se estabeleceu no poder há décadas, começando por Ricardo Teixeira, Marin e o atual líder, Marco Polo del Nero. O fato de um dos detidos ser exatamente um ex-presidente da entidade é preocupante para o futebol mais vencedor da história e que atravessa uma crise de qualidade dentro e fora das "quatro linhas".
       Desde a trágica e humilhante derrota nas semifinais da Copa do Mundo de 2014 por 7 a 1 diante da Alemanha, inúmeros projetos de lei reivindicando o desenvolvimento do futebol precisam ser debatidos. Zelar pela transparência das instituições esportivas, fiscalizar e punir rigorosamente quem transgride leis e códigos de conduta, melhorar a infraestrutura e estabelecer diálogo com grupos de atletas, como o "Bom Senso FC", são fundamentais nesse processo de retomada de prestígio e qualidade. O momento é favorável ao debate sobre o esporte, sua modernização e legado: não é sempre que um país organiza, em tão curto espaço de tempo, os dois maiores eventos do mundo, a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, geralmente vistos como catalisadores de modernizações. Essa oportunidade dificilmente baterá a nossa porta de novo.
       Os dirigentes presos estavam reunidos para a eleição à presidência da FIFA, marcada para esta sexta-feira e que, caso seja mantida, acontecerá sob grande turbulência. A última barreira moral, a do esporte, onde, a princípio, os interesses não entravam no jogo, foi derrubada há muito tempo. Escândalos como o deflagrado hoje retratam isso. O esporte não merecia perder de goleada para a ganância e a falta de ética.

*Leia mais sobre o assunto!
http://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/2015/05/advogada-geral-dos-eua-diz-que-esquema-se-estendeu-ano-apos-ano.html
http://oglobo.globo.com/esportes/chuck-blazer-senhor-10-que-colaborou-na-investigacao-do-fbi-16274401
http://oglobo.globo.com/esportes/de-delacao-na-ditadura-furto-de-medalha-polemica-trajetoria-de-marin-16273021

                                                            Mattheus Reis