quinta-feira, 11 de outubro de 2012

6+6+6+6...

                                                   O reinado continua

    O presidente venezuelano Hugo Chávez, mesmo diante da real possibilidade de derrota para o  opositor Capriles Radonsky, conquistou a quarta vitória seguida nas eleições, com significativa margem de segurança. O líder Bolivariano consegue o raro feito de permanecer um longo período no poder, democraticamente. Serão completados 20 anos a frente do país.
    O voto na Venezuela possui caráter facultativo. Grande parte das constituições latino-americanas adotam esta prática. O recente período amplamente democrático existente no Brasil -pós 1988- e a consequente ausência de senso crítico político mais apurado dos eleitores é um argumento justificável para a manutenção do voto obrigatório entre 18 e 70 anos. Porém, a "República de Chávez" é um evidente exemplo de que a consolidação democrática, obtida desde sua independência, não é sinônimo de conscientização política, a longo prazo.
   Chávez venceu com com margem de aproximadamente 12%. Essa diferença causou certa frustração da oposição. Todavia, Capriles foi o adversário que obteve o maior números de votos nestes últimos quatro pleitos. Este dado reforça o desgaste do atual governo, seja pela péssima infraestrutura do país - evidenciada pelo acidente da refinaria petrolífera da estatal PDVSA, em Amuay, quanto pelo incremento das desigualdades sociais. 
   O povo venezuelano se viu em um encruzilhada e, comovido pela debilitada saúde do presidente, acabou optando pela manutenção assistencialismo eleitoreiro em relação a uma incógnita. Entretanto, pela primeira vez houve uma eminência de troca de poder. Em apenas alguns meses era inviável derrubar uma ideologia construída por quase 2 décadas. Capriles fortalece-se para as próximas disputas, aumentando suas chances caso a Venezuela continue estagnada como no estágio atual.  
    
* Leia mais sobre a reeleição de Chavez na Venezuela!
http://oglobo.globo.com/mundo/e-tudo-continua-tranquilo-na-venezuela-6343301


                                                         Mattheus Reis

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Racha espanhol

                                                     Divórcio de ferro

O parlamento Catalão aprovou a realização de um plebiscito, sem data pré-definida, acerca da proclamação da autonomia e consequente secessão da província perante a Espanha. A crise do euro promove a ressurgência de velhas questões que, devido a prosperidade da união monetária, na primeira década do século XXI, haviam sido amenizadas. 
    A interdependência ocasionada pelos princípios de formação do bloco europeu arrasta para o fundo do poço nações tão fragilizadas economicamente quanto a Grécia, que sacrificam suas respectivas finanças a fim de ceder paliativo alento a um país com métodos reguladores e benefícios sociais não condizentes com seu estágio de desenvolvimento. A Espanha, assim como as outras potências regionais foi obrigada a adotar em seu vocabulário a austeridade. 
   Encurralados em um beco sem saída, chefes de Estado são obrigados a atuar sobre a redução da concessão de benefícios previdenciários e aumentos de impostos. A Espanha, mais precisamente, adota uma prática mercantilista contemporânea ao arrematar, através do governo central, altos percentuais da arrecadação provenientes das regiões autônomas. Catalunha e Andaluzia são exemplos de províncias com padrão de renda e qualidade de vida superiores à média espanhola, porém submissas a esta política que proporcionou, entre outros fatores, a recessão destas. A secessão traduz-se em um basta à subserviência que impede o crescimento.
   Mesmo que a adesão dos catalãs e o apoio dos não-catalãs fortaleça todo este cenário, a Catalunha independente está mais propensa - nesta empreitada - a fracassar do que ser bem sucedida. O maior obstáculo consiste na aprovação, no parlamento europeu, de sua soberania. A decisão necessita da unanimidade dos Estados-membros, sendo a Espanha um destes. O país rechaça qualquer tentativa de emancipação sob o argumento constitucional nacional de atrelamento das regiões autônomas ao Estado maior espanhol. 
   O continente europeu enfrentou episódios semelhantes de desmembramento, marcados por acordos pacíficos. A "transição de veludo" comprova essa tese. Não é o momento mais auspicioso para a deflagração de um conflito que tenderia, somente, ao agravamento da crise econômica.
   Soma-se a tudo isso o impacto cultural e psicológico de uma sociedade que vive laços intensos, porque não existe uma separção social entre a Catalunha e o resto da Espanha, diferentemente do País Basco. Tal impacto atingiria, inclusive, o mundo esportivo: a vitoriosa equipe de futebol do Barcelona se afastaria da Liga BBVA - o campeonato nacional -  colocando o seu futuro e o alto desempenho em risco. Em suma, os fatores preponderam muito mais a manutenção territorial a separação.

*Leia mais sobre a onda separatista catalã
                                                      

                                                         Mattheus Reis