sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Racha espanhol

                                                     Divórcio de ferro

O parlamento Catalão aprovou a realização de um plebiscito, sem data pré-definida, acerca da proclamação da autonomia e consequente secessão da província perante a Espanha. A crise do euro promove a ressurgência de velhas questões que, devido a prosperidade da união monetária, na primeira década do século XXI, haviam sido amenizadas. 
    A interdependência ocasionada pelos princípios de formação do bloco europeu arrasta para o fundo do poço nações tão fragilizadas economicamente quanto a Grécia, que sacrificam suas respectivas finanças a fim de ceder paliativo alento a um país com métodos reguladores e benefícios sociais não condizentes com seu estágio de desenvolvimento. A Espanha, assim como as outras potências regionais foi obrigada a adotar em seu vocabulário a austeridade. 
   Encurralados em um beco sem saída, chefes de Estado são obrigados a atuar sobre a redução da concessão de benefícios previdenciários e aumentos de impostos. A Espanha, mais precisamente, adota uma prática mercantilista contemporânea ao arrematar, através do governo central, altos percentuais da arrecadação provenientes das regiões autônomas. Catalunha e Andaluzia são exemplos de províncias com padrão de renda e qualidade de vida superiores à média espanhola, porém submissas a esta política que proporcionou, entre outros fatores, a recessão destas. A secessão traduz-se em um basta à subserviência que impede o crescimento.
   Mesmo que a adesão dos catalãs e o apoio dos não-catalãs fortaleça todo este cenário, a Catalunha independente está mais propensa - nesta empreitada - a fracassar do que ser bem sucedida. O maior obstáculo consiste na aprovação, no parlamento europeu, de sua soberania. A decisão necessita da unanimidade dos Estados-membros, sendo a Espanha um destes. O país rechaça qualquer tentativa de emancipação sob o argumento constitucional nacional de atrelamento das regiões autônomas ao Estado maior espanhol. 
   O continente europeu enfrentou episódios semelhantes de desmembramento, marcados por acordos pacíficos. A "transição de veludo" comprova essa tese. Não é o momento mais auspicioso para a deflagração de um conflito que tenderia, somente, ao agravamento da crise econômica.
   Soma-se a tudo isso o impacto cultural e psicológico de uma sociedade que vive laços intensos, porque não existe uma separção social entre a Catalunha e o resto da Espanha, diferentemente do País Basco. Tal impacto atingiria, inclusive, o mundo esportivo: a vitoriosa equipe de futebol do Barcelona se afastaria da Liga BBVA - o campeonato nacional -  colocando o seu futuro e o alto desempenho em risco. Em suma, os fatores preponderam muito mais a manutenção territorial a separação.

*Leia mais sobre a onda separatista catalã
                                                      

                                                         Mattheus Reis
  
  
  
 

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