segunda-feira, 30 de junho de 2014

País sem dono

                                                             Iraque rachado


Nesta terça-feira, supervisores de Direitos Humanos da ONU alertaram para o possível risco de genocídio que enfrenta a minoria religiosa yazidi, no Iraque. Na foto, uma mãe e seus filhos caminham para fronteira com a Síria Foto: STRINGER/IRAQ / REUTERS     O clima de aparente tranquilidade no qual vivia o Iraque desde a retirada das tropas americanas do país pelo presidente Obama, no fim de 2012, parece ter acabado. O terror e o medo, que antes podiam estar sendo represados seja pela censura ou pelos esforços das forças militares iraquianas, romperam o dique que os segurava. A possibilidade de uma guerra civil é grande em uma conjuntura na qual os dias de pouca paz que restavam no oriente médio podem ter terminado.
     Além dos conflitos entre judeus e palestinos, da guerra civil na Síria - que continua após 3 anos - e da crise política no Egito, um grupo ultrarradical está promovendo um choque de poder onde Saddam Hussein governou rispidamente por muito tempo. O grupo Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS, na sigla em inglês) está gradativamente tomando cidades importantes do Iraque e da Síria com o intuito de criar um novo país, regido pelo fundamentalismo islâmico.
     Fazem isso com o auxílio de grande arsenal roubado após inúmeras invasões aos quarteis das forças armadas iraquianas. Destituem lideranças locais e atemorizam a população com execuções sumárias de minorias não muçulmanas, vistas pelo extremistas como impuras. O grupo terrorista era vinculado à al-Qaeda, mas, posteriormente, tais laços foram cortados já que a al-Qaeda o considerou "radical demais". E esse é o fato que dá uma noção mais clara do que esse grupo é capaz: o mais conhecido grupo fundamentalista e autor de ataques suicidas horripilantes, como o do 11 de Setembro, reconhecendo a periculosidade de outro, menos conhecido, porém fiel aos seus dogmas ao extremo.
     Não é a toa que um grande contingente de soldados iraquianos desertou pelo temor de combaterem o ISIS, facilitando, assim, a sua propagação e o alastramento do terror no país. Sem segurança, inúmeras habitantes do norte do país estão deixando tudo para trás, em um grande êxodo, e partem para montanhas e locais mais seguros. Na Síria, o vazio de poder e o caos da guerra civil colaboram para a ação do grupo jihadista.
     Todo o caos que abala o Iraque, atualmente, comprova as falhas graves presentes no projeto de democratização forçada na região pelos E.U.A. Nouri al-Maliki, primeiro ministro, que chegou ao poder apoiado pelos americanos, com o intuito de liderar tal democratização, demonstra não ter força suficiente para recolocar seu país, ao mínimo, nos eixos. As forças militares iraquianas enfraqueceram-se após o fim do suporte financeiro e técnico dos E.U.A. Para não correr o risco de perder as eleições presidenciais de 2012, Obama reiterou a retirada das tropas americanas do Iraque. Essa e a reforma do sistema de saúde foram suas principais bandeiras de campanha. A saída dos soldados era necessária devido à rejeição da opinião pública com uma guerra sem vencedores e, sobretudo, cara. Todavia, poderia ter sido executada de uma forma mais gradual, que não deixasse o Iraque às traças, evitando, assim, o surgimento de radicalismos como o do ISIS.
     A guerra civil é uma preocupação cada vez mais latente por conta de um ultimato. O sheik xiita Ali al-Sistani, figura religiosa mais influente do país, intimou a população a se armar e a lutar contra o ISIS. Milhares deles já se uniram aos soldados iraquianos restantes. A população, de maioria xiita, contra o ISIS, de caráter sunita. Nessa terra, onde um sheik e um grupo terrorista possuem maior força do que um líder político, o futuro é tenebroso. 

Leia uma outra visão da nova crise do Iraque!

                                               Mattheus Reis

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