quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Voto de protesto

                                     A função da oposição na política


     Enquanto no Brasil as últimas semanas foram norteadas pela corrida ao Planalto entre Aécio Neves e Dilma Rousseff, os EUA preparavam-se para outra eleição, não presidencial, mas não menos importante: a legislativa. Ao contrário do que se imagina, não há apenas os partidos Republicano e Democrata no cenário político americano. O Partido Independente e outros também se fazem presentes. Mas a influência e o poder dos dois maiores são tão absurdamente superiores que as disputas são polarizadas e praticamente todas as cadeiras no congresso são tomadas por eles. O que Obama não desejava aconteceu na última terça- feira. Os Republicanos ampliaram sua presença no parlamento, dificultando ainda mais os projetos que o presidente pretende iniciar nos dois anos que restam de seu mandato.  
     Nessas eleições, conhecidas também como "de meio de mandato", o presidente já sofrera um duro baque em 2010. Os Republicanos se tornavam maioria na Câmara dos Representantes. Naquele momento, o discurso de Obama começava a decair em descrédito, a economia não dava sinais efetivos de recuperação. Mas o Senado ainda estava sob o controle de seu partido. Agora, apesar da economia estar em fase de reaquecimento, com elevação do PIB e redução do desemprego, os democratas perderam o controle do Senado. Para piorar, em alguns estados também ocorreram eleições para governador, nas quais os Republicanos venceram na maioria deles. Em 30 dos 50 estados a oposição governa.
     Quando os candidatos - sejam a presidente, governador ou prefeito - iniciam suas campanhas, muitos deles optam por distorcer a realidade em seus discurso com o intuito de conquistar os preciosos votos. Obama é um político inteligente, porém subestimou alguns desafios que enfrentaria e que foram bandeiras de campanha tanto no âmbito externo, como a retirada das tropas do Iraque, quanto internamente na reforma do sistema de saúde, reforma da imigração, recuperação econômica e a feroz oposição Republicana. A ala radical desse partido, o Tea Party, ganhou força.
     O resultado, por conta de todos esses fatores, mostrou a indignação de grande parte do povo em relação à forma de Obama administrar a maior potência do planeta. Poucos avanços foram efetivados. A volta de intervenções militares no Oriente Médio, mesmo sem o envio de tropas, contra o Estado Islâmico reduziram sua popularidade.
     Por outro lado, conhecer os papeis de Legislativo e das oposições em um governo é fundamental para compreender alguns motivos dos poucos avanços da gestão Obama. Os Republicanos, liderados pelo Tea Party, impuseram várias restrições às propostas apresentadas pelo governo. Obviamente, alegaram motivos para isso, que encontram respaldo em setores da sociedade americana. Porém, tais motivos podem estar relegados a segundo plano em prol de um objetivo maior: criar um situação de ingovernabilidade de Obama, o que os favoreceria nas próximas eleições presidenciais, em 2016. Questões referentes à concessão de mais direitos aos imigrantes são urgentes em um país onde cerca de 30 milhões não são originalmente americanos. A oposição não pode bloquear pautas e reivindicações como essa, suprapartidárias.
     A oposição não está presente em qualquer governo minimamente democrático para se autoproclamar inimiga de quem está no poder. Seu dever é o de, através do diálogo, mostrar outros pontos de vista sobre qualquer proposta de lei, projeto e afins além de fiscalizar o cumprimento e a aplicação de recursos; tudo pelo objetivo de melhorar o país. Ao travar uma guerra ideológica e em alguns momentos infantil, o Partido Republicano, conjuntamente com os erros de Obama, não faz os EUA avançarem social e economicamente como deveria caso um ambiente mais harmônico e de consenso estivesse predominando na política local. Mas a luta, em praticamente todas as circunstâncias, pelo poder atropela o bem comum.
     
    


Leia mais sobre o assunto!
http://oglobo.globo.com/mundo/eleicoes-americanas/


                                                       Mattheus Reis

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