sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Sua cor, sua sentença?

                               Não há apenas um Michael Brown.
 


     A morte de mais um jovem negro impulsionou uma escalada de violência e tensão nos EUA. A cada episódio do tipo que se sucede, a sociedade americana ensaia dividir-se como no período da segregação durante a primeira metade do século XX. Michael Brown, de 18 anos, levou seis tiros de um policial da cidade de Ferguson, no estado de Missouri, na semana passada. O caso é controverso e ainda não foi totalmente esclarecido se a atitude do policial foi adequada ou não às circunstâncias, porém a indignação e a revolta já se abateram sobre a população local, majoritariamente negra, contra a polícia de Ferguson, cujos agentes são, sem exceção, todos brancos.
     Antes de ser abordado pelo policial Darren Wilson, Michael Brown assaltara uma loja de conveniências. Pode-se afirmar isso já que câmeras de vigilância flagraram o crime. Entretanto, Wilson declarou que o abordou sem saber da ocorrência desse assalto. As dúvidas surgiram pois as investigações ainda não chegaram à conclusão se Michael atacou o policial e, por conta disso, foi alvejado, ou se houve um assassinato por Brown ser simplesmente negro. Até agora, a sociedade americana não tem uma posição definida sobre o que realmente aconteceu e espera uma apuração por parte das autoridades policiais conforme revelou pesquisa do jornal New York Times.
     Nos últimos dias, os protestos violentos e saques arrefeceram. Michael Brown tomou atitudes erradas. Todavia, a cada morte registrada de negros em circunstâncias parecidas, uma realidade nos EUA mostra a sua face mais nua e crua: o país recupera-se gradativamente da crise econômica de 2008 acompanhado de um crescimento da desigualdade social, sendo os negros os mais atingidos. Ferguson retrata em escala local um aspecto presente em quase todo território americano ao apresentar uma taxa de desemprego de 25% dos negros enquanto, na mesma cidade apenas 6% dos brancos não possuem emprego. O surgimento de "Michaels Browns" é uma triste consequência em um meio onde escassas oportunidades de emprego e de educação de qualidade são oferecidas por conta do preconceito.
     Assim como no Brasil, a superação da discriminação nos EUA, após séculos de escravidão, é um processo difícil, que durará longos anos mesmo com a adoção de práticas socioeducativas de inclusão e de combate à marginalização dos negros. No caso americano especificamente, houve o agravante da segregação racial legitimada pelo governo e semelhante à imposta pelo Apartheid, na África do Sul, e que só foi derrubada pelos esforços até hoje reconhecidos de Martin Luther King Jr. no final da década de 1950.
     A eleição de Barack Obama, em 2008, como chefe da maior potência mundial é um símbolo da capacidade dos negros de irem além e serem bem sucedidos apesar das dificuldades. Obama tem enfrentado, de fato, muitos problemas tanto internamente quanto na geopolítica e diplomacia internacional. O racismo é um deles e, por ser o primeiro presidente negro da história do país, ele precisa ser mais incisivo e tentar, pelo menos, iniciar uma mudança na relação conflituosa entre brancos e negros.
 
Leia mais sobre o assunto!
http://www.dw.de/entenda-o-caso-michael-brown-e-os-protestos-em-ferguson/a-17861142

                                                                   Mattheus Reis

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