segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Existe uma saída?

                O pesadelo do terror retorna a Paris.


Preces: parisienses fazem uma corrente de oração
em um dos alvos de ataques na última sexta-feira.
       Onze meses depois do atentado contra a sede do jornal satírico Charlie Hebdo, Paris revive dolorosamente o pesadelo causado pelo terror. Uma série de ataques coordenados em pelo menos 6 áreas da capital francesa deixou uma centena de mortos. O Estado Islâmico, que reivindicou a autoria das ações bárbaras de sexta-feira passada, é também o responsável por elevar o nível de organização, influência e crueldade do terrorismo contemporâneo, o que exige, por sua vez, estratégias mais eficazes de desestabilização do grupo. Quem pensa, porém, que mais tiros são sinônimos de maior paz no mundo está enganado.
       EUA, França e nações árabes como a Arábia Saudita se articularam, no início de 2015, em torno de uma ofensiva aérea para destruir instalações e bases de treinamento do Estado Islâmico na Síria, uma estratégia bem conhecida, utilizada em outros confrontos, e duvidosa. Barack Obama afirmou, na última semana, que o EI perdera força, não avançando territorialmente. O ataque a Paris foi, entretanto, um indício de uma comemoração antecipada e equivocada do presidente americano.
       Já passou pela sua cabeça questionar quantas pessoas inocentes morreram seja por mísseis disparados de drones ou por incursões militares terrestres neste barril de pólvora chamado Oriente Médio? Extremistas costumam se fixar em locais densamente povoados, e, neste cenário marcado pela influência radical posta em prática por uma minoria muçulmana que distorce a religião, uma criança que testemunha sua família, de bem, sendo equivocadamente dizimada por uma bomba pode ter sua vida transformada para o mal. Está aí uma das formais de nascimento de um terrorista; é tudo que a jihad quer. Em escala quase industrial, a reposição de "mártires" acontece.
       O combate é necessário. No entanto, precisa ser executado de maneira mais inteligente para reduzir os danos ao máximo. Em tempos de globalização, o Estado Islâmico é o que melhor soube aproveitar ferramentas massivamente exploradas pela cultura ocidental na divulgação de valores, como a liberdade e o consumo: a mídia. Uma "arma" que, agora, é usada contra os seus próprios inventores. Com a internet, a retórica do terror se tornou mais ampla e atraiu jovens, a maioria deles imigrantes árabes ou de descendência árabe, cuja situação socioeconômica na Europa é caracterizada pela marginalização e pelo preconceito. O controle a esse tipo de conteúdo é muito pequeno e permissivo na grande rede de computadores.
       Mais crucial ainda do que uma vigilância maior sobre a internet e outros meios de comunicação pelos serviços de inteligência mundiais é uma transição política que traga estabilidade real à Síria, onde o Estado Islâmico fincou raízes em meio ao caos e se aproveitando do vazio de poder local.
       Desde 2011, quando a Primavera Árabe trouxe ares de esperança que não se confirmaram totalmente, o presidente sírio Bashar al-Assad, acusado de ter cometido inúmeras violações aos direitos humanos, não consegue e não quer controlar o país, retalhado por milícias pró e contra a sua deposição e por organizações fundamentalistas islâmicas. As potências ocidentais ainda têm dúvidas se as sobras de relevância política de Assad ajudam ou atrapalham, e, enquanto isso, cada vez mais sírios são obrigados a se aventurarem em uma jornada de alto risco rumo a uma Europa que desmente as visões de civilidade tão atribuídas ao continente, cada vez mais intolerante com imigrantes pobres.
         Combater o terrorismo não deixa de ser uma façanha já que, quanto mais atacado, mais extremista ele se torna. Em certos momentos, esse ódio acumulado explode de forma desmedida, como é o caso do EI, cujas execuções brutais são condenadas até mesmo por outros grupos terroristas. O fato de Paris - berço da Revolução Francesa e dos princípios básicos da civilização ocidental - ser a metrópole mais atingida nos últimos 12 meses pelo terror não deixa de ser um claro sinal para pensarmos se tais valores, como liberdade, igualdade e fraternidade, estão sendo devidamente praticados no século XXI. Mesmo em um momento de comoção, não podem ser levadas adiante atitudes precipitadas e que possam causar mais derramamento de sangue.
      
      

*Não se esqueça também daqueles que passam por dificuldades causadas pelo mar de lama em Mariana (MG)! Devemos prestar solidariedade  ao próximo, sobretudo àqueles mais próximos de nós.


                                                             Mattheus Reis

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