quinta-feira, 1 de maio de 2014

"S" de saudade

                                                                        

    Há 20 anos, em um dia 1° de Maio, o tricampeão mundial de Fórmula 1 Ayrton Senna, ao se chocar com um muro a mais de 300 Km/h, na curva Tamburello, em Ímola, nos deixou. Em um grande prêmio que não deveria ter acontecido, outro piloto brasileiro, Rubens Barrichello, sofreu um gravíssimo acidente na sexta-feira durante os treinos livres e, no sábado, o austríaco Roland Ratzenberg não resistiu a outro grave acidente quando disputava o treino que definiria as posições do grid para a largada do dia seguinte. No dia da corrida, Senna, por mais abalado que estivesse, estava determinado a vencer o GP e, assim, homenagear o seu companheiro de profissão. Porém, não foi isso o que aconteceu...  
     Senna possuía uma ambiguidade explicada somente pela sua paixão pela velocidade. Cada vez que um grave acidente acontecia na Fórmula 1, ele sempre parava, por um segundo que fosse, para repensar se correr a mais de 300 Km/h pelos circuitos do mundo em carros muito menos seguros que os de hoje valia a pena. Entretanto, essa dúvida era passageira. Chegava e ia embora na mesma velocidade em que ele rasgava o asfalto. Logo depois, Senna estava dentro de seu cockpit fazendo de tudo para ser milésimos de segundo mais rápido. Não há como lutar contra o destino. A Fórmula 1 sempre foi muito rápida e dinâmica. Parar, por um segundo, para pensar sobre certas "bobagens" era estar um segundo atrás de Prost, Mansell e outros. Na Fórmula 1, um segundo equivale a um ano-luz. Não há tempo a perder.
     Senna surgiu para os brasileiros em um momento muito difícil para o país, marcado no fim dos anos 1980 e início dos anos 1990 pelas crises social e econômica. Ouviam-se promessas de que "o tigre da inflação seria abatido com apenas um tiro". Senna cumpria aquilo que prometia. Antes de estrear na Fórmula 1, disse a Galvão Bueno que o narrador seria o porta-voz de suas vitórias, que aconteceram de fato. Se, por um lado, não estávamos à altura de França, EUA e Inglaterra em termos de desenvolvimento, o fato do Brasil ter um piloto mais rápido que os da França, Alemanha e Inglaterra serviu de alento para nós, desacreditados em quase tudo,  naqueles anos turbulentos. Senna, ao demonstrar o seu patriotismo a cada vitória, em um momento em que sua pátria estava 10 metros abaixo do fundo do poço, conquistava os brasileiros, que fizeram dele um herói.
     A matemática diz que 7 é maior que 3. Todavia a história da Fórmula 1 pode contestar a frieza dos números. A comparação entre o tricampeão Senna e o heptacampeão mundial Michael Schumacher tem sido inevitável nos últimos anos. Porém, o fato de Schumacher declarar-se fã do brasileiro parece por um ponto final em qualquer dúvida. Ultrapassar 10 pilotos e chegar à liderança de uma corrida na primeira volta, vencer o Grande Prêmio do Brasil, em 1991, com apenas uma marcha funcionando corretamente, além de enfrentar de igual para igual a geração de pilotos tida por muitos como a mais talentosa da história são façanhas dignas de apenas um gênio. Neste caso, sou obrigado a cometer uma heresia: 7 < 3. Os matemáticos que me desculpem.
     Senna viveu em um ambiente cercado por politicagens e interesses. Ele, em alguns momentos, errou, como todo ser-humano, e deixou a competição e os interesses pessoais ultrapassarem o espírito esportivo. São detalhes de uma carreira notória, excepcional, mas, ao mesmo tempo, breve do maior ídolo do esporte brasileiro. Hoje, o Brasil - às vésperas de sediar sua segunda Copa do Mundo - é o país do futebol. Foi e sempre será. Mas, há 20 anos, era também o país da Fórmula 1, onde assistir à corrida nas manhãs de domingo era um ritual tão sagrado quanto assistir a um jogo da seleção em Copa do Mundo. Vejo as corridas desde os 6 anos de idade, mas lamento, assim como tantos outros jovens, não ter testemunhado as ultrapassagens, as vitórias e os títulos de Ayrton Senna do Brasil.     

                                                         
*Leia mais sobre os 20 anos do adeus de Senna!
http://veja.abril.com.br/reportagens-especiais/20-anos-sem-ayrton-senna/
http://globoesporte.globo.com/motor/formula-1/senna-para-sempre/noticia/2014/04/brasil-na-cabeca-e-nas-maos-senna-elevou-autoestima-de-uma-nacao.html
http://www.estadao.com.br/noticias/esportes,apos-20-anos-ayrton-senna-deixa-legado-em-seguranca-para-formula-1,1158768,0.htm


                                                       Mattheus Reis

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