terça-feira, 3 de julho de 2012

Novela Mexicana

                                                  71 anos depois

No último domingo, em meio ao turbulento processo eleitoral, o candidato Enrique Peña Nieto foi eleito o novo presidente do México e recolocou o Partido Revolucionário Institucional (PRI) no comando do país após 12 anos. Ao instaurar uma dinastia de 71 anos - entre 1929 e 2000 - sustentada por ações ilícitas e autoritárias, o PRI visualiza Peña Nieto como figura renovadora, capaz de desmitificar tal imagem negativa e provar aos mexicanos que o partido atravessa uma nova era.
   Segundo colocado na disputa, o ex-prefeito da Cidade do México Manuel Lopez Obrador contestou de modo veemente o resultado. São fortes as evidências de manipulação de voto a favor de Peña Nieto, ademais a perceptível imparcialidade da imprensa local ao vencedor. A diferença de 7% talvez fora influenciada por estes dois artifícios. Enquanto permanece essa "novela", a equipe de transição já está sendo montada.
   O narcotráfico é o grande entrave a ser enfrentado. Os cartéis de drogas espalhados pelo país cada vez mais adquirem força, intensificando as disputas e rivalidades pelo poder sobre a comercialização de intorpecentes. Esta grave doença que ataca a política de segurança pública se disseminou de tal forma a atingir a mídia, coibindo-a: o México detém o maior número de ataques registrados a jornalistas, em todo o mundo.
   Durante toda a campanha, nenhuma proposta concreta a fim de solucionar a questão do tráfico de drogas foi apresentada. Os eleitores manifestaram sua opinião nas urnas acerca do combate intensivo do exército, elaborado pelo atual presidente Felipe Calderón. O fraco desempenho de sua aliada, Josefina Vásquez, comprova que este plano fracassou, tanto pelas denúncias de associação ao narcotráfico por parte do alto escalão militar, quanto pelo crescimento exarcebado da violência, principalmente das cidades localizadas próximas a fronteira com os EUA. Ciudad Juarez é o exemplo mais explícito do domínio dos cartéis.
   Apenas a guerra travada contra os traficantes de drogas e o processo de transformação ideológica de seu partido são, por si só, desgastantes. A segunda tarefa é menos árdua, pois o PRI deve adotar uma postura mais liberal perante forte oposição de movimentos sociais, como o "Yo soy 132", atuante em toda a corrida presidencial. Inúmeros esforços deverão ser expendidos para minimizar o caos provocado pelo poder paralelo, que cresceu sustentado, entre outros motivos, pelo inértil comportamento nos 71 anos governados pelo PRI.

                                                 Mattheus Reis

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