terça-feira, 1 de abril de 2014

Fantasma eterno?

                                                          O chumbo  




      No dia 31 de Março de 1964, iniciava-se o Regime Militar brasileiro. Durante 21 anos, 5 generais-presidentes conduziram o país e buscaram conciliar o caos e o progresso. Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo impediram que a luz penetrasse num céu tomado de chumbo, que hoje está mais limpo, porém que ainda não está completamente descontaminado.
       Os militares quando depuseram João Goulart, anunciaram novamente o caráter salvacionista de sua missão. De fato, o país estava abalado econômica e socialmente, porém não tão desigual como ficou durante a ditadura. Somente agora, na década de 2010, voltamos a reduzir a desigualdade social e a concentração de renda a níveis anteriores à chegada dos militares ao poder, algo que não pode ser tão comemorado, pois o Brasil continua a ser um país de facetas sociais mais que antagônicas.
       A conjuntura da Guerra Fria radicalizou a crise que o país enfrentava no início dos anos 1960 e consideráveis parcelas das classes sociais e de setores da economia apoiaram o golpe, acreditando que ele seria temporário e necessário para restabelecer a ordem social. Mas o novo regime não era, na visão dos militares radicais, um governo provisório. Esse foi o primeiro indício do que estaria por vir. A ficha caiu quando o AI-5 já estava decretado.
       As torturas eram substituídas, nas manchetes dos meios de comunicação, pelas obras faraônicas e pelo altíssimo crescimento econômico, construído sobre um banco de areia. Isso criou uma legião de defensores da ditadura, que argumentavam ser esse período muito próspero. O banco de areia se desfez nos anos 1980 e a prosperidade também. Surge o medo da inflação, que assusta os brasileiros até hoje.
       O pior legado dos anos de chumbo se materializou em 1989 quando, após 25 anos sem votar em uma eleição presidencial, o povo brasileiro elegeu um "Caçador de Marajás". O impeachment de Collor foi uma grande tragédia da política e da democracia brasileiras, porque comprovou que censuraram também o senso político do cidadão brasileiro.
       Entretanto, é necessário ressaltar que, nesse teatro de horrores, não houve um lado certo. Hoje, sabemos que a possibilidade de uma "Revolução" era tão improvável quanto inadequada. Ao pegar em armas, a esquerda se igualou aos militares, na defesa de um sistema político, econômico e social que pode ser tão cruel quanto o capitalismo. O fim da Guerra Fria mostrou que o capitalismo é o único caminho a ser trilhado na atualidade e que a receita para um mundo melhor é torná-lo o menos desigual possível.      
       Nestes primeiros meses de 2014, atos favoráveis ao Regime Militar como a reedição da "Marcha da família com  Deus pela liberdade" mostram a persistência desse fantasma e que os ares do Brasil ainda estão contaminados por chumbo. Nem as confissões e os depoimentos assustadores de torturadores e integrantes dos órgãos de repressão da época relatados às Comissões da Verdade, parecem convencer seus defensores. O chumbo demora cerca de 325 anos para se decompor completamente em algumas partes do corpo humano. O apoio à volta de uma Ditadura Militar no Brasil não pode durar nem 1% desse tempo.


*Veja imagens marcantes do período militar brasileiro!
http://educacao.uol.com.br/album/ditadura-45-anos_album.htm


                                                      Mattheus Reis

















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