quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Dura missão

                    Uma empresa ainda digna de crédito                          




Desafiante: conseguirá Bendine
ajudar a pôr tudo em ordem?
       A presidente Dilma Rousseff conjuntamente com membros do Conselho de administração da Petrobras nomeou Aldemir Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil, como o novo presidente da empresa, cuja reputação e situação financeira deterioraram-se após a deflagração da Operação Lava-jato, responsável pela investigação de denúncias cada vez mais verídicas referentes às práticas ilícitas e fraudes fiscais que envolviam diretores da companhia, empresários do ramo da construção civil, e funcionários e políticos de partidos da base aliada do governo, como o PT, PMDB e PP, bem como do PSB, legenda pertencente à oposição.
       Obras relacionadas à infraestrutura energética do país e nas quais havia participação da Petrobras, como refinarias, usinas e gasodutos, eram superfaturadas, ou seja, seus custos declarados pelas empreiteiras eram ilegalmente superiores aos previstos nos orçamentos. Os contratos, de valores altíssimos, tanto enriqueceram os empresários do ramo como eram destinados, em parte, aos diretores da Petrobrás envolvidos no esquema de corrupção. Em troca, as empreiteiras receberiam antecipadamente informações privilegiadas sobre novos projetos e, principalmente, seriam responsáveis pela execução de tais obras. A situação chegou ao ponto de somente as construtoras que pagassem propina - que oscilava entre R$ 50 milhões e R$150 milhões por contrato - poderiam participar das obras. Formou-se um cartel, um "clube", do qual participavam a OAS, Odebrecht, Camargo Correa entre outras. Nas mãos dos diretores, o dinheiro nutria campanhas eleitorais de políticos cujos nomes não foram divulgados oficialmente, porém, são conhecidos pelos investigadores e mantidos em sigilo já que alguns membros do esquema de corrupção, como o ex-diretor da área de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, optaram por detalha-lo em depoimentos na justiça em troca de redução da pena em uma eventual e posterior condenação, acordo denominado "delação premiada". Da forma mais didática e objetiva possível essa é a engrenagem que movia a corrupção na estatal há pelo menos 10 anos.
          Por conta das investigações que apontam para um enorme rombo nos cofres públicos, a diretoria comandada até então pela presidente da Petrobras Graça Foster, mergulhou em uma crise de credibilidade. Independentemente de estar ou não envolvida, Foster admitiu não ter mais condições emocionais e administrativas para continuar sua gestão, que começou em meados de 2012. Membros do alto escalão  também foram substituídos. Estimam-se perdas totais de R$ 88 bilhões de verba pública ocasionadas pela corrupção e gestão ineficiente.  A Petrobrás desde 2008 acumula sucessivas quedas em seu valor de mercado - de R$ 510 bi. passou a valer cerca de R$ 116 bi. atualmente segundo o jornal 'Folha de São Paulo' e a consultoria 'Economática'.
       Outra questão importante e com força para abalar a Petrobrás tanto quanto os supostos R$ 88 bi desviados diz respeito à tendência de queda do preço do barril de petróleo apresentada no último ano e que continua até agora. A partir dessa constatação inúmeras causas são plausíveis: maior oferta do produto possibilitada pela descoberta e exploração do Pré-sal e dos campos de xisto, nos EUA, a redução do consumo na Europa, afetada pela crise econômica desde 2011, e o declínio do crescimento da economia chinesa nos últimos 3 anosomando-se às pressões internacionais para que Pequim adote políticas e fontes energéticas menos poluentes. O cenário global atual não está favorável à indústria petrolífera e a empresa brasileira, consequentemente, arrecadará menos na exportação da commodity
       Enfrentar a queda de credibilidade, reerguer a maior empresa da América Latina a partir de menores recursos e afasta-la rastro da corrupção são os desafios mais emergentes da gestão de Bendini.
       Em situações de adversidade como a atual, a Petrobras acaba tornando-se alvo de uma questão já debatida anteriormente no governo FHC, porém persistente em alguns setores políticos e da sociedade: a sua privatização. Um dos candidatos à presidência da República na última eleição, o pastor Everaldo Pereira, do PSC, defendeu a venda da empresa sob o argumento de varrer a corrupção para longe das estruturas de governo. A atuação cúmplice de donos de construtoras nesse esquema, intitulado tendenciosamente de 'petrolão' e que gradativamente é desvendado pelos órgãos investigativos, mostra que o setor privado não é um oásis aonde a ética e a lisura se abrigam da lavagem de dinheiro, evasão de divisas, superfaturamento... Os crimes de "colarinho branco" não são cometidos pelas empresas, e sim por quem as administra. Os corruptos estão no setor público e no privado, nos governos do PT e do PSDB, e isso não é novidade para ninguém. 
       O cidadão brasileiro precisa ter conhecimento sobre a importância da Petrobras para a economia nacional e da sua atuação de ponta em segmentos da indústria petrolífera. Seu quadro técnico, isto é, a imensa equipe de cientistas, geólogos e engenheiros é uma das mais requisitadas e competentes do mundo, sobretudo em relação à extração de petróleo e de gás em águas profundas. Inúmeros projetos científicos e de investimento na matriz energética nacional são desenvolvidos por ela e a participação majoritária do Estado Brasileiro nas suas ações implica em que a maior parte da lucratividade da empresa possa ser reinvestida no país.
          Obviamente, a operação Lava-Jato tem mostrado que parte destes recursos, destinados ao desenvolvimento da nação, foram desviados durante anos. Não podemos negar que o PT falhou tanto em questões éticas quanto de planejamento em seus 12 anos de poder, contribuindo para que a esperança depositada no partido em 2002 fosse, em parte, frustrada. Por outro lado, o tema "privatização da Petrobrás" é uma questão de Estado, e não partidária. Seja com o PSDB, o PT ou qualquer outro partido à frente do comando do país, a maior empresa da América Latina deve servir ao povo brasileiro e, para isso, a investigação, a boa gestão e a transparência são fundamentais. A sua venda a qualquer grupo empresarial do ramo de energia pode ameaçar a continuidade de projetos e investimentos voltados para a economia brasileira, podendo serem direcionados para outras áreas de atuação onde haja maior interesse financeiro.  A privatização é abordada, muitas vezes, como uma solução mais prática. Nem sempre o melhor caminho é aquele menos sinuoso, ainda mais quando está em jogo a estabilidade de uma economia como a do Brasil, a sétima maior do planeta.





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