terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Novo eldorado

                                        Uma jogada não tão segura.
      
Estrelas: Ricardo Goulart e Tardelli,
destaques da próxima temporada na China
       Dois dos principais jogadores que atuavam nos gramados brasileiros deixaram o país no último mês para defender clubes do exterior. Algo à princípio rotineiro já que o Brasil se inseriu na lógica econômica do futebol como um exportador de atletas cada vez mais jovens e sem experiência adequada, sobretudo para o continente europeu nas últimas décadas. Ricardo Goulart, ex-meio campista do Cruzeiro e Diego Tardelli, ex-atacante do Atlético-MG, tiveram um destino semelhante, foram negociados pelos seus até então clubes, porém, optaram por um caminho alternativo, desafiador, mas, ao mesmo tempo, financeiramente tentador: a rota para a China.  
       A globalização, processo socioeconômico cujo carro-chefe caracteriza-se pela evolução das tecnologias de comunicação e de informação, permitiu aos dirigentes e jornalistas esportivos estarem a par sobre o que está acontecendo nos principais campeonatos do mundo e seus principais destaques. Como exemplo, a tv a cabo e a internet são imprescindíveis para que aqui, no Brasil, possamos acompanhar os torneios do futebol europeu em tempo real. Seja na Europa, na China ou no oriente médio, a lógica é, no mínimo, semelhante.
       Se, por um lado, o futebol brasileiro provavelmente não possui mais tamanhas notoriedade e qualidade dos anos em que Romário, Roberto Carlos, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Kaká e Adriano eram os protagonistas dos maiores clubes europeus, ele ainda é prestigiado em 'áreas periféricas', como a China. E, desde o início da década, uma leva cada vez mais numerosa de jogadores brasileiros segue para o maior mercado consumidor do mundo, atraídos por uma grandiosa empreitada estimulada principalmente pelo governo chinês com o intuito de expandir a prática do esporte mais popular da Terra naquele país.
       Após um período conturbado de crise econômica e pressão sobre o governo de Mao Tsé-Tung, a China promoveu uma política de modernizações econômicas, ao estimular a chegada de novos investimentos vindos de multinacionais e de outras empresas do exterior durante os anos 1970, mas sem abrir mão totalmente da política socialista. Novas empresas instalaram sua estrutura de produção nas principais metrópoles chinesas, atraíram um imenso contingente de trabalhadores do campo em busca de melhores salários e maiores oportunidades; o ramo da construção civil viveu uma fase de aquecimento a fim de acomodar o intenso êxodo-rural, o consumo de grande parte da população aumentou e o país decolou: sua economia alcançou o posto de 2ª maior do planeta, atrás apenas da dos E.U.A..
       O futebol local também é afetado positivamente por essa expansão embora os desafios ainda sejam grandes. A maioria dos clubes de futebol chineses recebem pesados investimentos e/ou são propriedade do governo ou de companhias estatais. Tais investimentos acabam sendo direcionados em maior parte à contratação de nomes consagrados do futebol mundial mesmo que não estejam mais atravessando uma fase de auge, como o atacante francês Anelka, com a finalidade de mobilizar novos fãs. As propostas, envolvendo cifras milionárias, se tornam praticamente irrecusáveis àqueles atletas que buscam certa estabilidade financeira.
       Não se deve negar, por outro lado, os risco de um negócio, à primeira vista, excepcional. Tardelli enfrentou e ultrapassou adversidades durante aproximadamente 10 longos anos de carreira até, finalmente, conquistar títulos de expressão, como a Libertadores da América e a Copa do Brasil, e conquistar espaço no time titular da seleção brasileira. Goulart, por sua vez, estava frequentemente nas listas de convocação do técnico Dunga e atuando em alto nível no elenco do atual bicampeão nacional Cruzeiro. Há um consenso em torno das deficiências técnicas apresentadas pelo futebol chinês, de pouca expressão no cenário mundial e que se classificou para uma Copa do Mundo em apenas uma oportunidade na história, em 2002. Ao priorizarem a questão financeira, decisão difícil e que precisa ser respeitada, Tardelli e Goulart podem sofrer uma queda de desempenho e não corresponder às expectativas criadas por especialistas, treinadores e torcedores. Quem perde é a seleção brasileira, escassa de craques e que poderia se beneficiar do talento dos dois. 


*Leia mais sobre o assunto!
http://oglobo.globo.com/esportes/futebol-chines-vira-novo-eldorado-para-jogadores-do-brasil-15144357
                                                     
                                                               Mattheus Reis
      

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