segunda-feira, 6 de abril de 2015

Bandeira branca

                                            Resposta à truculência
 


Reunião entre o secretário
de Estado americano J.Kerry e
o chanceler iraniano Javad Zarif.
       A Revolução Iraniana, em 1979, ergueu um muro que separou por muito tempo o Irã do ocidente. No final da última semana, porém, uma reaproximação importante foi efetivada com o objetivo de selar a paz após 36 anos de acusações e desconfianças mútuas, a partir da criação de um acordo prévio que reduz o potencial nuclear do Irã em troca de um gradual fim de sanções impostas pelos E.U.A. e por potências europeias, como Alemanha e França, que debilitaram nos últimos tempos a economia do "país dos Aiatolás".
       A derrubada do regime autoritário e alinhado aos interesses geopolíticos dos EUA e das potências europeias comandado pelo xá Reza Pahlevi, e a consequente ascensão de uma estrutura mais radical de poder, baseada nas leis islâmicas sob a tutela do Aiatolá Khomeini em 1979, gerou uma grave preocupação, na época, ao ocidente. A fusão das leis civis com as religiosas na constituição de um Estado Teocrático iraniano implicou a taxação do país como aliado do terrorismo nas décadas seguintes.
       A eleição, em 2013, de um novo presidente iraniano, mais moderado e disposto ao diálogo contribuiu para a pavimentação de uma trégua, também desejada pelo presidente americano Barack Obama. Ambos tinham muito mais a ganhar negociando do que em estado constante de tensão e rivalidade.
       Hassan Houani assumiu o comando do Irã já impactado pelas sanções impostas, que iam desde o boicote à compra de petróleo, seu principal produto de exportação, até restrições a iranianos de acessarem contas bancárias no exterior. Crises de desabastecimento de produtos básicos estavam sendo recorrentes e a inflação descontrolada geraram um sentimento de descontentamento por parte da população local, que, em sua maioria, exigia mudanças.
       Para contornar o desandar da economia, o governo do Irã se comprometeu a reduzir seu potencial energético nuclear, sobretudo no que se refere ao enriquecimento de urânio. É uma incógnita a real finalidade do projeto nuclear do país: se é destinado a intuitos pacíficos como o desenvolvimento de novos medicamentos e produtos químicos além de geração de energia elétrica ou se é voltado para a produção de armas nucleares, suspeita que sempre pairou durante os debates políticos internacionais sobre o tema.
       Independentemente da produção de armas nucleares pelo Irã ser verídica ou fruto de mais uma conspiração, esse acordo inicial firmado que ainda será aprofundado em novos encontros entre diplomatas e ministros de relações exteriores dos países envolvidos nessa longa e complexa negociação é, acima de tudo, uma medida preventiva a fim de proporcionar um mínimo de estabilidade ao Oriente Médio no momento em que o Estado Islâmico, as pertinentes tensões entre israelenses e palestinos, e a crise política que beira a guerra civil no Iêmen elevam o status da região ao de um barril de pólvora.
       O temor de uma arma de destruição de grandes proporções  - seja ela desenvolvida ou não pelo Irã - cair nas mãos de grupos extremistas e as catastróficas consequências disso não podem ser descartados. Houani e Obama possuem completa noção desse perigo. O diálogo, ao prevalecer, sobre a truculência e a irracionalidade é uma boa notícia e uma resposta em meio às recentes crueldades praticadas pelo fundamentalismo religioso.  
 
Leia mais sobre o assunto!
                             
                                                         Mattheus Reis  

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