sábado, 25 de abril de 2015

Beco sem saída

                                 Erros no passado, consequências hoje.


Perigo: balsa acima da capacidade
atravessa o mar Mediterrâneo ilegalmente.
       O Mar Mediterrâneo está se transformando em um cemitério de desesperados imigrantes que buscam na fuga para a Europa de forma clandestina uma mudança de destino. A Organização Internacional para as Migrações (OIM) aponta o alarmante dado de cerca de 1750 mortes já registradas em travessias que partem do norte da África em direção ao sul da Europa nestes primeiros quatro meses de 2015, número 30 vezes maior em relação ao mesmo período do ano passado. A combinação de esperança e perigo presente nessas travessias não é recente, apesar de as alarmantes e tristes mortes registradas em 2015 serem um forte indício da necessidade dos países europeus repensarem sua política migratória tanto para corrigir erros do passado quanto para salvar vidas.
       As causas desse êxodo em massa são conhecidas: a pobreza, a falta de oportunidades, as guerras entre diferentes etnias e tribos inseridas sob um mesmo território e, mais recentemente, o terror disseminado por grupos fundamentalistas islâmicos, como o Boko Haram, em algumas porções do continente africano. Todo esse cenário caótico e desalentador tem muitas das suas causas no período de colonização da África por potências européias.
       A ocupação e a divisão compulsórias e arbitrárias da África - durante a fase da história conhecida como Imperialismo, caracterizada pela exploração de recursos minerais e naturais, marginalização de minorias e o estímulo às guerras tribais - têm suas consequências vistas até hoje e relembradas a cada naufrágio, o mais recente deles ocorrido no último domingo, que vitimou cerca de 800 pessoas vindas de Somália, Sudão e Líbia, verdadeiros barris de pólvora.
       As nações europeias, atualmente, encontram-se em um verdadeiro dilema. Precisam de trabalhadores vindos de outros continentes por conta do progressivo envelhecimento e redução da sua mão-de-obra ativa. Por outro lado, as manifestações xenófobas, cada vez mais numerosas, frequentes e influentes na política do continente, estão conduzindo lideranças locais a implementarem medidas fortemente restritivas no que diz respeito à chegada de estrangeiros, principalmente, refugiados.
       A legislação mais dura sobre a imigração conduz, por sua vez, os refugiados a considerarem a travessia clandestina empreendida por traficantes a única forma de mudança de perspectiva. Está pronto, assim, o roteiro nada cinematográfico de uma tragédia. 
       Reunidos nessa semana em Bruxelas, capital da Bélgica e sede da União Europeia, líderes dos países membros do bloco buscaram, sem muitos avanços, iniciar um debate mais profundo sobre possíveis mudanças em politicas imigratórias da região a longo prazo. Reduzir restrições a entrada de refugiados seria um primeiro passo louvável, porém, ao mesmo tempo, capaz de gerar dúvidas acerca da possibilidade de um maior êxodo em direção ao continente. Outro ponto importante abrange a inclusão e a concessão de benefícios sociais aos refugiados a partir do momento em que passam a viver na Europa, evitando, assim, a marginalização e a segregação. Mas como fazer isso num momento em que os europeus ainda são vítimas de uma prolongada crise econômica cujo remédio é amargo: o corte de gastos? 
       Erros do passado sem correção definitiva criaram o triste roteiro de pessoas que se lançam em águas revoltas sem terem a certeza de que cumprirão promessas. Tragédias do tipo não podem ser negligenciadas: o exemplo de Ruanda ainda está vivo. Uma maior receptividade e solidariedade a quem precisa tanto quanto um esforço global para estabilização política e desenvolvimento sustentável da África são as soluções definitivas para reduzir a quantidade de travessias ilegais feitas diariamente no Mediterrâneo. A complexidade desse desafio, porém, impede que se possa assegurar que as próximas gerações testemunharão mudanças mais profundas.





*Leia mais sobre o assunto!
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/04/150419_mediterraneo_cinco_razoes_fd
http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/quase-2-000-imigrantes-ja-morreram-no-mediterraneo-em-2015


                                                                 Mattheus Reis

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