segunda-feira, 30 de maio de 2011

Sucessão no FMI

                                              Crédito aos emergentes
   
Primeiramente, gostaria de esclarecer que esse artigo foi eleborado por, Paulo Nogueira Batista Jr., economista e diretor-executivo pelo Brasil e mais oito países no Fundo Monetaário Internacional. Sobre o texto ele, comenta a possível eleição da Ministra de Economia Francesa Christine Lagarde (foto), que visita o Brasil esta semana,  ao cargo de diretor-geral da Instituição após, o escândalo sexual de Domenique Strauss-Kanh que, fora afastado da função.

     Em discurso no Parlamento britânico, na última quarta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, fez uma afirmação algo inusitada, que foi interpretada como um duro recado aos países emergentes.
    Obama começou assim: "Países como China, Brasil e Índia estão crescendo, criando mercados e oportunidades para nossos povos." Aparentemente, o nosso papel primordial é gerar mercados para americanos e europeus, ajudando-os a sair da grave crise de desemprego em que se meteram.
   Mas o pior veio em seguida: "Virou moda questionar se a ascensão dessas nações vai acompanhar o declínio da influência americana e europeia pelo mundo. Segundo esse argumento, esses países representam o futuro e o tempo da nossa lideraa passou. O argumento é errado. O tempo para nossa lideraa é agora."
   A declaração bombástica talvez seja sintomática do estado de espírito das velhas potências do Atlântico Norte. A verdadeira lideraao precisa ser proclamada a quatro ventos. Passou o tempo em que Estados Unidos e Europa podiam dar as cartas sem se preocupar muito com o resto do mundo. Os Estados Unidos e, sobretudo, a Europa vêm perdendo peso econômico e político. A sua pretensão de exercer lideraa nunca foi tão questionada. As velhas potências ainda têm muito poder, é claro, e podem contar com diversos satélites e aliados automáticos em diferentes partes do mundo.
   Mas os países emergentes de grande porte - notadamente a China, a Índia, a Rússia e o Brasil - atuam de forma cada vez mais independente. Evidentemente, há um diálogo contínuo com as velhas potências, marcado por convergências e divergências. Mas frases como "o tempo para nossa lideraa é agora" não impressionam mais ninguém.
   A crise internacional, que teve origem na desastrosa administração dos sistemas financeiros nos Estados Unidos e na Europa, abalou muito o prestígio e a credibilidade das velhas potências e dos seus aliados na periferia do mundo. Já ninguém mais aceita sem hesitação as recomendações e orientações de norte-americanos e europeus. No Brasil, por exemplo, a "quinta-coluna", pró-Primeiro Mundo, antes tão barulhenta e confiante, teve que fazer uma reciclagem a toque de caixa.
   O caso dos europeus é mais grave. A sua capacidade de exercer lideraa internacional está bastante abalada. Afinal, eles mal conseguem se entender entre si e administrar com razoável eficácia a crise na zona do euro. Os americanos, por sua vez, enfrentam déficits enormes e taxas de desemprego muito elevadas. O presidente Obama, recebido inicialmente com tanta simpatia no mundo todo, já não inspira entusiasmo.
   É nesse contexto que se trava a disputa pela sucessão no FMI. As velhas potências parecem dispostas a agarrar-se a seus antigos privilégios e a regras antiquadas. Querem preservar a qualquer custo a convençãoo escrita que reserva o cargo de diretor-gerente do FMI a um europeu. Em troca, os americanos ficam com a presidência do Banco Mundial.
   Vale qualquer argumento para defender o indefensável. A Europa, como se sabe, virou a principal tomadora de empréstimos no FMI. Segundo autoridades europeias, como a crise é na Europa convém garantir que o comando do Fundo continue com um europeu.
   Ora, desde quando convém deixar um banco sob controle dos seus devedores? Foi a pergunta que fizeram os economistas Arvind Subramanian e Nicolas Verón, do Peterson Institute for International Economics.
   O diretor-gerente do FMI deveria ser escolhido exclusivamente com base no mérito, independentemente de nacionalidade. Mas a escolha só pode ser realmente aberta e transparente se americanos e europeus se dispuserem a abandonar a divisão de território em vigor. Enquanto houver a percepção de que a eleição do diretor-gerente é um jogo de cartas marcadas, candidatos não europeus de prestígio hesitao em se apresentar. E a legitimidade do Fundo como instituição internacional continuará sendo questionada mundo afora.

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