quarta-feira, 6 de julho de 2011

Modernidade X obsolência

                                   A dependência da China

Gostaria de esclarecer que este artigo foi elaborado por Antonio Barros Leal, preseidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro e, foi publicado na edição carioca do Jornal "O Globo" em 05/07/2011.

   Quando eu era menino, a expressão popular "vá pra China" era insulto grave. Hoje, só se vai pagando muito. A história recente desse país nos leva a crer na capacidade do ser humano de se rebelar contra a realidade produzida por outros e criar sua própria estrada. Depois de séculos de exploração estrangeira, de anos sob um comunismo destruidor de valores e individualidades, a China vive período de importante renascimento econômico. O abandono de dogmas ultrapassados e produzidos por uma camarilha que cuidava apenas de seus favores e privilégios, vem demonstrando que a paciência chinesa tem características surpreendentes.
   O crescimento econômico, baseado em identificação de potencialidades, na definição de procedimentos, na construção de parcerias e na capacitação pessoal e profissional, permitiu uma alocação de riquezas sem precedência.
   A coragem da escolha dos Estados Unidos como sócio para o desenvolvimento, ultrapassando uma histórica diferença, já era o sinal de que a aparente leniência da China daria lugar a um pragmatismo com resultados planejados e controlados. O depósito dos ganhos, desde os primeiros resultados positivos, em títulos da dívida americana, era uma espécie de garantia de que o casamento sino-americano era para sempre e leal.
   Entretanto, a convivência democrática, das liberdades civis, políticas e individuais, deveria ser uma condição básica para integrar a comunidade internacional. A China conseguiu que vários países, inclusive o nosso, definissem-na como economia de mercado para o seu reconhecimento na OMC. Fizeram bem em não chamá-la de mercado livre.
   Há perguntas esperando respostas, por exemplo: como vão enfrentar o grito de Hong Kong para a retomada da plenitude do "ser livre", desfrutada nos cem anos sob a bandeira britânica e ameaçada com a reanexação? Como criar universidades modernas, sem conceder liberdade de pensamento? Como competir com as conquistas trabalhistas dos fraternos operários de Taiwan e do resto do mundo, para onde exportam seus produtos? E no dia em que professores e trabalhadores resolverem fazer uma greve? Vai ter cadeia para todos? E a imprensa livre? E a decisão dos pais de terem o número de filhos que bem entenderem, sem o risco de enquadramento na "lei" do filho único? Como inibir tanta gente de ler o que prefere ou navegar na internet? Só a democracia - com todos seus defeitos - condiciona um povo à plenitude da vida, à aceitação dos contrários e respeito ao próximo.
   Disputar o mercado mundial implica, necessariamente, ter condições parelhas de salários, benefícios, horas de trabalho, dignidade e outras vitórias já empalmadas pelos trabalhadores do mundo livre. A Índia, com população tão grande como a China, tem provado que o argumento "muita gente" não justifica a falta de liberdade, nem impede o crescimento econômico. O simples acumular de dólares, a construção de megaobras, a industrialização à custa de generosos subsídios poderão levar a China, certamente, a um estado de riqueza, mas, jamais, sem qualquer dúvida, a uma nação justa, livre e digna de seus cidadãos.
   A dependência atual da economia brasileira em relação à China - exportando produtos primários e importando industrializados, de carros a computadores - precisa de reflexão mais profunda e avaliação temporal responsável. Em que condições produzimos? Quais direitos desfrutam nossos trabalhadores? A que custo mantemos nossas liberdades? Até quando vale a pena lidar com parâmetros tão diversos numa economia globalizada e exigente?
   O Brasil precisa queimar etapas, investir em desenvolvimento de pesquisas, qualificar suas escolas e produzir com altos níveis de agregação tecnológica para que seus trunfos de liberdades e direitos humanos possam ser um diferencial que o leve a um futuro grandioso.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/mat/2011/07/05/a-dependencia-da-china-924843560.asp#ixzz1RMmsAfrk
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